Sérgio Ramos: «Temos de lutar para mudar a lei»

Nesta entrevista o capitão do Benfica não esconde a tristeza pelo trágico falecimento de Kevin Widemond e lembra a necessidade de haver desfibrilhadores em todos os recintos desportivos.

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30 OUT 2009

Em vésperas de disputar a final do Troféu António Pratas o antigo internacional português refere ainda que ninguém pode “esquecer nem enfiar a cabeça na areia”

Como foi a sensação de vestir pela primeira vez a camisola do Benfica com o escudo de campeão nacional? O ano passado conseguimos alcançar o objectivo primordial que era sermos campeões nacionais. Conseguimo-lo com bastante trabalho e sacrifício por parte de todos, no entanto, pertence já ao passado. Este ano partimos novamente do zero, mas se mantivermos a mesma humildade, a mesma ambição e capacidade de trabalho poderemos lutar novamente por títulos. É costume dizer-se que chegar ao topo é fácil, manter é que é mais complicado. Este Benfica ainda não atingiu o nível do ano passado. Acha que tem a ver com o espírito de conquista diferente ou simplesmente trata-se do arranque de temporada? Nesta altura da época todas as equipas estão ainda em fase de construção e o Benfica não foge a essa realidade. Temos jogadores novos e os processos de adaptação levam o seu tempo. A ambição e o espírito de conquista serão testados quando se aproximarem as alturas decisivas da época. Aí teremos de estar ao nosso melhor nível. Sente-se bem no papel de pêndulo desta equipa, de ter o peso dessa responsabilidade sobre os ombros? O plantel do Benfica tem muitas soluções e não está dependente de nenhum jogador em especial. O ano passado jogámos o playoff com apenas um americano e conseguimos sagrar-nos campeões na mesma. Todos foram importantes e o grupo manteve-se unido até ao fim. A única responsabilidade que tenho acrescida advém do facto de ser capitão e de ter de zelar, em todo o momento, pela unidade do grupo. Com o avançar da sua carreira cada vez mais tem jogado em posições mais interiores. Sente-se confortável a jogar de costas para o cesto ou ainda se considera, apenas e só, um jogador exterior? O ano passado tínhamos apenas um 4 puro (Seth Doliboa) e eu dava uma ajuda nessa posição sempre que era necessário. É uma posição que eu posso fazer e onde me sinto confortável. Este ano tenho jogado pouco a 4 devido ao facto de existirem outras soluções no plantel para desempenharem essa função. No entanto, estou preparado para o fazer sempre que o treinador achar conveniente. As mudanças no plantel não foram muitas. A mais evidente foi a troca do Seth pelo Nick Dewitz e Will Frisby. A equipa ganhou ou perdeu mais coisas com esta alteração? O Seth era um excelente jogador e uma pessoa por quem o grupo tinha um grande carinho. Jogava na posição interior mas era um excelente lançador, atraía o seu defensor e deixava muito espaço livre para os exteriores penetrarem para o cesto. Este ano temos 2 jogadores diferentes, que não têm o jogo exterior do Seth mas que trazem à equipa mais consistência ao nível do jogo interior. É evidente que o Benfica joga para vencer todas as finais em que participa, mas a de domingo – final do Troféu António Pratas – terá sempre um travo amargo. Julga que esta final poderá funcionar como a melhor forma de homenagear alguém que faleceu a jogar basquetebol, para exorcizar as imagens e os momentos vividos por todos vocês que estavam presentes naquela fatídica tarde? Esta final só pode ser encarada como uma forma de homenagear o Kevin. A vitória deixa de ter qualquer significado depois da tragédia que aconteceu no domingo. Não devemos esquecer nem enfiar a cabeça na areia como se nada tivesse acontecido. Não podemos permitir que o mínimo obrigatório exigível por lei seja a presença de uma maca, quando, a nós atletas, exigem o máximo em todos os sentidos. Se existissem no pavilhão meios de socorro disponíveis para a reanimação do Kevin era provável que ainda estivesse vivo. Um desfibrilhador teria dado ao Kevin uma última oportunidade de lutar pela sua vida. Infelizmente não existia nenhum e a tragédia aconteceu. Sei que lidera uma petição com o objectivo para que algo seja feito no sentido de modificar as condições necessárias a uma prática desportiva. Quer aproveitar a ocasião para divulgar aquilo que pretende? Todos nós, como atletas e cidadãos responsáveis, temos o dever de lutar para mudar uma lei que está obsoleta e ultrapassada. Devemos exigir que seja obrigatório a presença de desfibrilhadores, não só em recintos desportivos, mas também em escolas e em locais públicos com grande aglomerado de pessoas (aeroportos, centros comerciais, etc…, ), bem como a utilização dos mesmos por pessoal não médico devidamente formado. É neste sentido que vai ser criada uma petição online, liderada pela Associação Desportiva Ovarense e com o apoio de grande parte dos basquetebolistas nacionais, com o objectivo de sensibilizar o governo e as entidades competentes para a importância de serem adoptadas estas medidas com o intuito de salvar o máximo de vidas possíveis. Esperamos que se possam unir a esta causa, não só o basquetebol, mas todas as outras modalidades, bem como cidadãos em geral. O V. Guimarães tem sido uma agradável surpresa deste início de campeonato. Sem se focar muito na final de domingo, como avalia esta equipa? O V. Guimarães tem uma excelente equipa e pode tornar-se na surpresa do campeonato. Tem um bom treinador, que tem feito um excelente trabalho. Possuem um bom trio de estrangeiros e jogadores nacionais com experiência. Tem este ano, em relação ao ano passado, a possibilidade de ter mais rotatividade ao nível do banco com as novas aquisições.

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30 OUT 2009

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