Mário Saldanha: «Pretendo mais competência»

Ultrapassado que está o período eleitoral, o presidente eleito já arregaçou as mangas e deitou mãos à obra.

FPB
20 JUN 2010

Mário Saldanha conta-nos que projectos pretende desenvolver na nossa modalidade, aborda as selecções nacionais, as eleições, o papel das associações e o novo órgão consultivo. Tudo isto e muito mais nos detalhes desta notícia.

O período eleitoral foi marcado pela existência de duas candidaturas, algo que há muito não acontecia. O Presidente Mário Saldanha considera que esse facto foi benéfico para a modalidade, para além de tornar evidente o apoio maioritário de todos os agentes do basquetebol. “É sempre salutar quando existe mais do que uma candidatura. Julgo que durante o processo eleitoral deu para perceber melhor a gestão da Federação durante estes últimos 20 anos.” Apesar da representatividade estar agora mais distribuída, a maioria continuou a pertencer ao actual Presidente da Federação. “Quando as Associações detinham 75% dos votos, sendo os restantes 25% distribuídos pelos restantes agentes, fui ganhando sempre, sem concorrência. Agora que possuem 35%, e consegui, mesmo assim, reunir o consenso de 81%, o que prova o reconhecimento por parte de todos. De certeza que nem todos concordarão comigo, mas tal como o próprio regime jurídico pretendia, existe agora mais pluralismo, o que permite opiniões generalizadas, bem como a participação de um maior número de pessoas , desde que estejam preparadas para ajudar e fazer cada vez mais pelo basquetebol”, refere. Durante o périplo da campanha eleitoral, Mário Saldanha fez questão de ouvir pessoalmente todas as partes envolvidas nesta eleição (associações, treinadores, jogadores e árbitros), os quais certamente lhe transmitiram o que julgam ser necessário melhorar ou alterar. “Existiu sempre disponibilidade total tanto da minha parte, como de todo o meu grupo de trabalho, para escutar todos os delegados e apreciámos a posição da Associação de Treinadores em não querer votar nestas eleições, pela diferença. O seu presidente Evaldo Poli foi sério ao concluir que não estavam reunidas todas as condições para poder usar desse direito. E prosseguiu: “Das várias reuniões mantidas tirámos ilações, bem como manifestações de algum desagrado, principalmente por parte das Associações do interior, pela falta de competição, e pelo interregno competitivo provocado pela calendarização federativa. Foi notória a preocupação dos vários Presidentes de Associações em querer competir todo o tempo, bem como elevar a competitividade dos campeonatos em que participam. Mas a solução pretendida envolve custos adicionais de deslocações, bem como um conflito de interesses com as Associações com campeonatos mais fortes. Vai claramente ser um assunto a ser estudado pelos directores técnicos regionais que terão, em conjunto, de encontrar a melhor forma de ultrapassar esta questão. Foi notório que as pessoas gostam de falar com quem dirige, razão pela qual irei tentar que estas reuniões sejam feitas mais periodicamente. O problema da arbitragem foi outra questão levantada. A falta de árbitros é uma preocupação generalizada, eles que muitas das vezes acabam por ser dirigentes da arbitragem e associações e por vezes de clubes. Tenho receio que quando estes carolas deixarem de existir a modalidade corra o risco de desaparecer em alguns pontos do país.” Caras novas na Federação Para este novo mandato o presidente reeleito promoveu a entrada de novos vice-presidentes, alguns deles nomes bem sonantes no desporto e com sucesso comprovado nas respectivas actividades profissionais. Um sinal de que cada vez mais Mário Saldanha pretende ver a Federação gerida de uma forma mais exigente. “Pretendo mais competência na gestão da Federação, e para tal vão ser implementadas 3 novas áreas no novo organigrama da Federação. O novo vice-presidente, Fernando Tavares, irá ficar com a responsabilidade do Marketing e Comunicação; Manuel Barbosa vai ser o interlocutor junto das Associações, para percebermos quais as dificuldades sentidas no seu funcionamento diário; e o Vitor Duarte, que até há bem pouco tempo era dirigente de um clube – Sampaense Basket – o que faz todo o sentido que desempenhe idênticas funções mas junto dos clubes. Julgo que com estes 3 novos cargos vamos cobrir várias áreas que até agora estavam deficitárias, isto claro, sem esquecer ajustar internamente as funções de que cada um irá ter de futuro. O convite endereçado ao Prof. Jorge Araújo, uma das pessoas mais conceituadas na modalidade e que infelizmente, por razões profissionais, se desligou da modalidade, surgiu porque me apercebi que havia alguma disponibilidade da parte dele em voltar a trabalhar para a modalidade. Uma vez que o Dr. Armando Rocha já me tinha solicitado a sua não continuidade no cargo que exercia, não hesitei, pese embora algumas divergências ao longo destes 20 anos, em convidá-lo para o cargo, pois julgo que seria muito importante recuperar todos os contributos que ele possa vir a dar para o basquetebol.” Conselho Consultivo Dentro deste novo ordenamento da Assembleia Geral, a figura do Presidente sai com poderes reforçados, algo que não impedirá Mário Saldanha de continuar a promover a discussão das questões fundamentais do basquetebol. “Tendo noção que as Associações perderam peso na Assembleia Geral da Federação, pretendo, e quero, levar a efeito a constituição do Conselho Consultivo da Federação. Neste Conselho irão participar, nomeadamente, o Dr. Armando Rocha, como anterior presidente há mais de 20 anos da Assembleia Geral da Federação, cargo para o qual já foi convidado; o Presidente da Assembleia Geral da Federação, o Prof. Jorge Araújo; cinco ou seis Associações, sendo que uma delas terá de representar as regiões autónomas, uma outra as ditas pequenas Associações e as restantes do universo que resta. Terá ainda um representante de cada uma das Associações – Juízes, Treinadores e Jogadores -, o Director Técnico Nacional e 4 ou 5 individualidades de relevo no basquetebol a serem convidadas pela Direcção da Federação. Pretendo que este Conselho seja incluído nos estatutos da Federação, de modo a poderem ter uma duração igual aos períodos para os quais as Direcções são eleitas. Uma vez que quero perpetuar este órgão consultivo, levarei a sua aprovação em Assembleia Geral. Poderá reunir 3 a 4 vezes por ano, ou aquelas que o seu Presidente achar necessárias. As provas da Federação Terminadas as principais provas do calendário federativo, Saldanha ficou agradado com a forma como se disputaram, embora não esconda que deseja melhorar a competição dotando-a de mais inovações e de realizar um desejo pessoal. “O mundo do basket tem de perceber que a Federação teve de agarrar o que de mau ficou da Liga Profissional, o que obrigou à organização de um campeonato à medida das capacidades financeiras dos clubes. As dívidas acumuladas após o término da Liga foram elevadas, como tal tivemos de cair na realidade. O primeiro foi organizado de forma a não abandonar o campeonato da Proliga, prova que era organizada pela Federação. Acabou por ser um período de transição, que acabou por ser benéfico, uma vez que permitiu que todas as pessoas se integrassem numa realidade diferente. Ao percebermos que entre o meio da tabela para cima da Liga, e do meio da tabela para baixo da Proliga, havia resultados muito desnivelados, justificava-se cada vez menos a continuidade deste modelo, pois as deslocações envolvidas eram muito dispendiosas e não faziam sentido. O campeonato de 2009/2010 foi disputado de uma forma normal, mesmo com todas as dificuldades nacionais e internacionais e todo o caos financeiro das empresas. No entanto, alguns dos jogos da fase regular e especialmente a forma como decorreu o playoff, vem provar que há mercado para o basquetebol. Com a nova organização que a Federação está a implementar, julgamos que já será possível ter um “naming” para o próximo campeonato, ao mesmo tempo que tentaremos ajudar os clubes a criar também eles próprios algumas estruturas empresariais. Os clubes precisam de vender o jogo, vender o seu espectáculo, dirigirem-se às empresas para o promover. Será cada vez mais necessário criar uma ticket line para a venda de bilhetes através da internet, com numeração de lugares, já que cada vez menos as pessoas estão disponíveis para estar em filas de espera. Existe um objectivo claro de trazer o Sporting de novo para a modalidade. A dificuldade do pavilhão não é assim tão evidente, basta haver boa vontade por parte da direcção do Sporting. Numa recente reunião que tivemos com a administração do Campo Pequeno, foi equacionada a hipótese de poder ser o local dos jogos do Sporting, solução que foi vista com bons olhos por parte da administração do espaço, já que se enquadra na política de tentar trazer mais eventos desportivos para aquele recinto maravilhoso. “ Alguns clubes já manifestaram o interesse em voltar a participar nas provas europeias e a Federação, na pessoa do seu Presidente está empenhada em impulsionar o regresso dos clubes portugueses às competições internacionais. “ Em reuniões com Benfica e FC Porto foi-nos transmitido o eventual interesse em participar já no próximo ano. Aguardamos com alguma expectativa que a decisão seja tomada, na esperança que sigam o bom exemplo das equipas femininas”, frisou. Selecções nacionais O ano passado foi público que o dirigente máximo da Federação não ficou totalmente agradado com o desempenho global de todas as selecções. Para este ano mantém a esperança que todos os atletas manifestem o desejo e a disponibilidade de representarem o seu país. “Tem sido uma preocupação da Federação participar nos Campeonatos da Europa em todos os escalões, feminino e masculino. Naturalmente que a que merece maior preocupação acaba por ser a sénior. Mas confesso que tenho dificuldade em entender, e causa-me imensa inquietação, o facto de jogadores emblemáticos, importantes nos seus clubes, por diversas razões se mostrem indisponíveis para participar nas respectivas selecções nacionais. Chego a pensar que não existe por parte destes atletas sentimento patriótico, até porque perante a lei todos os cidadãos nacionais são obrigados a envergar a camisola das quinas. Torna-se um pouco difícil de perceber a uma direcção e a um seleccionador porque é que muitas vezes, quase toda a época, são MVPs e neste momento se recusam a dar o seu contributo à Selecção Nacional.” Tem que haver responsabilização dos/as atletas e dos seus treinadores e clubes. Parceria com a Compal e novos projectos Para quem já está à frente dos destinos da Federação nos últimos 20 anos da sua existência, este último mandato vai servir apenas para consolidar alguns projectos, de modo a elevar o nível de excelência pretendido. “Gostava de referir a importância e a grandeza do projecto Compal Air, parceria que foi reforçada com a realização da Supertaça Compal, cuja próxima edição irá ser em Portugal. Consolidação dos Centros de Treino, via seguida pelo Governo no seguimento daquilo que vimos a fazer desde há muitos anos a esta parte. Dinamizar cada vez mais os Comités do Minibasquete e os Jamborees que organiza. Resolver o problema da arbitragem a nível da formação, já que no escalão sénior internamente e internacionalmente está garantida a qualidade dos nossos árbitros, algo que me apraz registar. A necessidade premente de solucionar o problema da nova sede, dado que agora trabalhamos numas instalações bastante deficitárias. A organização da Assembleia Geral da FIBA, em Maio de 2011, também nos enche de orgulho.”

FPB
20 JUN 2010

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