Mário Leite: «Ovarense é para ganhar»

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25 SET 2010

ário Leite faz um balanço da época anterior e lança nova temporada. Numa longa entrevista ao site do clube, assinada por Dinis Amaral, o treinador da Ovarense diz que quer esquecer os momentos difíceis do passado; destaca influência dos árbitros na eliminação do playoff, frente ao FC Porto; fala do “caso” Miguel Miranda e aponta um novo caminho para a formação do clube.

Que balanço faz da última época? Penso que a prestação da equipa honrou aquilo que é a filosofia do clube. Estivemos em todos os momentos altos das competições que disputámos, numa época em que tivemos de enfrentar situações complicadas, como a morte do Kevin e as lesões difíceis de alguns jogadores.Momentos difíceis? Por estes motivos foi uma época que quero esquecer depressa.E o final de época? Até aí tivemos problemas. Basta lembrar que às portas do playoff o Barbosa partiu o tendão de um dedo da mão e fomos obrigados procurar um substituto, que tinha de ser português e que ainda não tivesse jogado em Portugal nessa época.Esta contratação revelou-se um erro de casting? Não. É preciso lembrar que nós tínhamos dois bases, o Nuno Manarte e o Barbosa, e não existia mais nenhuma alternativa interna. Ainda experimentámos o Waller, mas concluímos que, pelas suas características, não resultava. Foi aí que avançámos para a vinda do Frederico.Foi uma necessidade? Sim. Era preciso dar descanso ao Nuno Manarte, a quem tive oportunidade de dar os parabéns pela excelente época que fez no ano passado. Como só havia dois jogadores que reuniam os pressupostos para esta contratação, optámos pelo Frederico. Ele veio a revelar-se uma pessoa muito trabalhadora e educada, e parece-me que, pelas suas características de base que pensa na equipa, pode ser uma mais-valia para o basquetebol português.Mas a meia-final com o FC Porto marcou… Nós fizemos um campeonato tranquilo. Terminámos a fase regular na segunda posição e acabámos prejudicados contra o FC Porto. Em casa, especialmente num dos jogos, verificámos critérios de arbitragem completamente diferentes para uma e para a outra equipa, e fomos nitidamente prejudicados. De qualquer das formas, acabámos no terceiro lugar, que penso ser uma posição honrosa para a equipa da Ovarense.Foi com receio de este ano se voltar a verificar o que aconteceu na última época, que optou pela contratação de um base norte-americano? Não. É preciso perceber que o Nuno Manarte, apesar de eu o considerar um dos melhores, senão o melhor base português, está a caminho dos 34 anos e que não existem pessoas eternas. Eu penso que o Nuno Manarte ainda pode dar muito a este clube e é por isso que ele vai ficar connosco mais dois anos.E é um líder no balneário? O Nuno Manarte é o capitão. Quando as pessoas entram pelas portas deste clube percebem que já é diferente. O Nuno Manarte tem desenvolvido um trabalho no balneário extremamente eficaz, coerente, desempenhando sempre aquilo que deve ser a função de um capitão.Mas há o jogo… É preciso perceber que ele não pode continuar a dar-nos os minutos que precisamos, ao nível que nos habituou. Nesse sentido, e porque é necessário protegê-lo, entendemos que a opção da contratação de um base seria o melhor.E o Barbosa? O Barbosa é uma aposta nossa, para dar continuidade àquilo que é o Nuno Manarte. Por isso é que vai estar cinco anos connosco, por forma a adaptar-se à realidade da Ovarense.A Ovarense contratou três norte-americanos. Foram as primeira escolhas? Em primeiro lugar, é preciso dizer que o John Waller fazia parte da continuidade, só que existem condicionantes, nomeadamente de ordem financeira, que impediram que ele continuasse. Portanto, os jogadores estrangeiros contratados estavam referenciados há bastante tempo e acreditamos que nos podem levar àquilo que nos queremos.O plantel está fechado, ou é curto? É um plantel curto que, nitidamente, precisa de mais dois jogadores. Só que o nosso orçamento não o permite. Portanto, é com esta equipa que temos de contar.A Ovarense perdeu o comboio que apanhou há dez anos? A Ovarense está no comboio. A prova é que o FC Porto fala na Ovarense. O Benfica fala na Ovarense.Será pela hegemonia que a Ovarense alcançou na modalidade nos últimos anos? A hegemonia é o respeito. Os orçamentos não ditam leis e a prova disso são os nossos resultados do ano passado. O importante é a forma como nos apresentamos nas competições, sempre como objectivo de ganhar, mesmo defrontando equipas com orçamentos superiores. A seriedade é muito importante.E o trabalho? Claro. Todos conhecem o trabalho deste clube. Sempre fomos sérios quando havia muito dinheiro. Continuamos a ser sérios com menos orçamento.O que faltou à equipa do ano passado, que esta possa ter e que pode trazer mais pessoas ao pavilhão? Eu acho que este problema não vem do ano passado. O basquetebol tem vindo a perder qualidade por duas razões: a primeira, porque houve uma redução dos estrangeiros, aliada ao fim da Liga; a segunda, porque o basquetebol deixou de ser falado nos canais de televisão abertos e passou para um fechado. Esta última foi a grande machadada no basquetebol. Paralelamente, existem dificuldades financeiras que impedem as famílias de vir ao basquetebol. Isto não é só um problema do basquetebol.Mas Ovar é a cidade do basquetebol? Pois é. Quem é que não jogou, pelo menos um ano, basquetebol na Ovarense? Quem gosta de basquetebol vem sempre aos nossos jogos.Mas os resultados ajudam. Até onde pode ir a Ovarense esta época? Nós temos este princípio – Ovarense é para ganhar! Isto quer dizer que em todas as competições onde vamos participar queremos ganhar. Quem disser que é mais forte do que nós, vai ter de provar em campo. Esta é a nossa forma de estar.Como é que a Ovarense perdeu um jogador como o Miguel Miranda, que demonstrou ter o culto do clube? Tem o culto deste clube quem quer ficar. Eu não gosto de falar dos que partem. O grande culto que existe é a Ovarense, não é identificado nem pelo Mário Leite, nem pelo Nuno Manarte, nem por quem é Ovarense.Mas saída dele não foi assim tão pacífica quanto isso… Pois não. O que posso dizer sobre este assunto é que houve alguém que quebrou não só as regras de carácter, como aquelas que devem prevalecer no desporto. Eu não sei se foi o FC do Porto, se foi o treinador ou se foi o próprio atleta. O que eu sei é que o Miguel Miranda já tinha acordado a sua continuidade na Ovarense há muito tempo.Foi uma situação que alterou os planos de abordagem à época? É lógico que uma equipa começa a ser preparada em função do que já temos. Mas, o importante é dizer que não está connosco e não estamos aflitos. Este grupo de trabalho que temos é o que conta e é neste que acreditamos.Como olha para a maior escola de formação de basquetebol do país que é a Ovarense? A Ovarense entrou no caminho certo há uns cinco anos, quando escolheu que deveria ter um coordenador para a formação. O treinador da Liga não pode ter essa responsabilidade, porque depende dos resultados e hoje está, amanhã pode não estar. Nesse sentido, deve ser dada continuidade a este trabalho.Mas deve haver acompanhamento e ligação entre treinadores? Deve, mas para isso temos de deixar de ter cada um o seu quintal. Este é o principal papel de um coordenador, por forma a que, quando existirem dificuldades possamos, em conjunto, encontrar soluções. Por exemplo, na definição da linha orientadora para todos os escalões de formação devem participar todos os treinadores, inclusive os da Liga. E nós sempre nos disponibilizámos para isso.A que nível? Por exemplo. Nós abrimos a possibilidade dos treinadores da formação participarem e acompanharem o nosso trabalho nos seniores. Desde que tivessem tempo, poderiam ser nossos treinadores adjuntos durante o tempo que quisessem. Infelizmente, no clube só três treinadores demonstraram interesse em participar. Este ano é a Renata que está cá, mas antes só o Candeias e o Sona estiveram connosco.E a formação na sua essência? Devo dizer que não gosto do caminho que a formação está a seguir. É urgente definir o modelo de jogador que queremos formar. Esta é a minha opinião. Não nos podemos agarrar à ideia de que não temos jogadores grandes. Se não temos grandes, formamos bases.É um outro caminho? É. Nós temos muitos miúdos com 1,80m e 1,85m que podem vir a ser grandes bases ou bases extremos. É preciso definir o perfil de jogador que queremos formar, sob pena de nunca mais formarmos jogadores como Mário Leite (1,85m), como o Nuno Manarte (1,84m), como o Pedro Nuno (1,90m), como Jaime Silva (1,89), como o Pedro Azevedo (1,94m). Antes também não havia jogadores muito grandes. É preciso pegar nestes jogadores e não os colocar, durante a formação, a jogar no interior só por serem maiores que os outros. Temos de formar jogadores que joguem de cara para o cesto, que atirem, que decidam com o seu drible.Mas da maior escola de basquetebol do país não têm saído atletas para a equipa sénior… Isso é que nos deve fazer pensar. Por que razão, com uma base tão grande de atletas da formação, chegamos ao topo e não encontramos a qualidade necessária para determinados atletas fazerem parte da equipa sénior?E o mini-basquetebol? Também deve ser repensado. Neste momento estamos com menos dois anos de basquetebol na formação. Os miúdos têm de sair do mini-basquetebol a saber fazer mais coisas, como antigamen

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25 SET 2010

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