Tributo ao basquetebol jugoslavo

Se perguntarmos a qualquer adepto de basquetebol para indicar uma das maiores selecções da história da modalidade na Europa, as respostas irão conduzir a um país.

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19 OUT 2010

Na verdade, a Jugoslávia, entre 1988 e 1991, não eram apenas grandes. Foi inspiradora. Drazen Petrovic, Vlade Divac, Dino Radja, Toni Kukoc, Zarko Paspalj e Jure Zdovc foram vários dos jogadores de destaque nessa equipa que conquistou títulos na Europa e no panorama mundial.

No momento em que estavam a dominar e a deixar a sua marca como a melhor equipa de sempre na história do basquetebol europeu, a guerra eclodiu nos Balcãs e acfetou a equipa.Vlade Divac disputou o seu último EuroBasket, em 1999, com a camisola da Jugoslávia, que na altura agregava diferentes nacionalidades no seio da equipa. Os atletas da Bósnia-Herzegovina, Croácia, Sérvia, Eslovénia e Montenegro podiam estar numa selecção da Jugoslávia, sem qualquer problema.O basquetebol é apenas um jogo, mas todos os jogadores foram afectados pelos problemas da guerra.Num documentário que foi para o ar na estação televisiva ESPN nos Estados Unidos, intitulado “Uma vez irmãos”, Divac fez uma retrospectiva desses tempos.O recentemente homenageado no “Hall of Fame” da FIBA é o narrador do programa, uma produção que dá a introspecção da relação de Divac com os seus companheiros e, especialmente, Drazen Petrovic, a lenda do basquetebol croata que morreu num acidente de viação em 1993.Divac recorda um incidente infeliz nos momentos imediatamente após o triunfo da Jugoslávia no Campeonato Mundial 1990, na Argentina, em que conquistou a medalha de ouro, que provocou um desentendimento entre ele e Petrovic.Ao regressarem a casa, a situação política era tensa, com a Croácia na fase inicial de ruptura com a Jugoslávia. Havia algumas pessoas na multidão que tinham bandeiras da Croácia, e não da Jugoslávia. No documentário “Once Brothers”, Divac diz que o ambiente no pavilhão era tão tenso que chegou a tirar das mãos de um seu companheiro a bandeira croata e jogá-la para o chão. Divac nunca foi, segundo ele, uma pessoa política e por algum tempo não percebeu o impacto que as suas acções teriam.Mas, como a guerra piorou, Petrovic começou a afastar-se e ainda disse que acreditava que Divac foi politicamente motivado. Da sua parte, Divac tentou ficar próximo de Petrovic, mas não teve sucesso. No seu funeral, em 1993, estiveram mais de 100 mil pessoas, mas Divac não era uma delas, já que teve de se manter afastado por causa das tensões políticas da época. O lendário Drazen morreu tragicamente antes de Divac ter a oportunidade de fazer as pazes com ele. Divac revela em “Once Brothers” que anos mais tarde visitou a mãe e o irmão de Petrovic e que foi recebido calorosamente. Acabaram por partilhar memórias sobre tudo o que aconteceu. O talentoso base dessa fantástica equipa iugoslava, Jure Zdovc, também foi afectado pela guerra. Zdovc foi apanhado no centro de uma tempestade, em 1991, com a Jugoslávia a vencer o título do EuroBasket em Roma. Com as tensões políticas crescentes, Zdovc retirou-se da equipa nacional durante a competição, citando uma agressão jugoslava acerca da sua nativa Eslovénia.Ele deu uma entrevista ao Basquetebol World News na noite de terça-feira antes de conduzir o Union Olimpija à vitória sobre Zadar na Liga Adriática – várias horas antes da transmissão da ESPN.Jure, como revê esse período da sua vida retratado no documentário: Os anos “dourados” do basquetebol da Jugoslávia dos anos 80?Isso foi há muito tempo. Como piada, gosto de dizer que isso aconteceu numa vida anterior (risos). Muita coisa mudou desde então: eram outros tempos, era então a Jugoslávia. Nós éramos jovens… Para mim foi uma grande honra ter surgido entre esses jogadores, que foram realmente excepcionais.Acho que jogávamos um basquete fantástico. É difícil explicar a alguém que não nos viu jogar, mas nós realmente apreciávamos o nosso jogo. Literalmente, podíamos jogar com os olhos fechados. Aqueles foram bons velhos tempos – realmente respeitávamo-nos e passávamos muito tempo juntos. Foi óptimo!Deve ter muitas lembranças, mas de qual delas se recorda mais?Tudo tinha o seu encanto – Os Jogos Olímpicos, o Campeonato do Mundo, toda a preparação que atravessámos. Eu particularmente gosto de me lembrar do Eurobasket de 1989, em Zagreb, ou mesmo de 1990, dos “Goodwill Games”, em Seattle – provavelmente porque ganhámos e eu joguei muito bem.Fomos também grandes como equipa, que venceu os EUA no centro de Seattle! Gosto também de me lembrar do jogo entre a Jugoslávia e os Boston Celtics – jogar contra Larry Bird e todas as outras estrelas. Aqueles foram tempos em que não existia a possibilidade de assistir a jogos da NBA todos os dias, especialmente ao vivo. Víamos alguns higlights das Finais e talvez alguns outros jogos, mas por outro lado era um acontecimento muito maior do que é hoje jogar contra uma equipa da NBA.“Once Brothers” é o título do documentário que está a ser exibido nos EUA. Será que realmente se sentiam como irmãos – embora a equipa fosse multi-étnica?É difícil de explicar se não entenderem o contexto em que vivíamos na altura. Nós éramos grandes amigos, respeitávamo-nos e divertíamo-nos muito juntos. Foi um privilégio e estou muito orgulhoso dele. As coisas mudaram em pouco tempo quando a Jugoslávia se desintegrou, mas como a vida e o tempo passou, mesmo aqueles que tinham suas diferenças étnicas – especialmente croatas e sérvios – conseguiram deixar para trás.Eu nunca tive problemas, mas alguns tiveram. Por falar nisso, sinto-me muito orgulhoso de ter conseguido reuni-los no meu jogo de homenagem “Basket Giants” em Lubliana. Poucos dias depois, quando Sasha Djordjevic teve o seu, em Belgrado, estivemos todos juntos novamente. O desporto e o basquete venceram a política. Fiquei muito feliz.” Ainda mantém o contacto com os “irmãos”?A vida que nós, treinadores de basquete, vivemos não nos dá muito tempo para socializar com pessoas fora da nossa área de trabalho. Zeljko Obradovic e Zoran Cutura são os dois com que tenho mais contacto. É difícil de manter-se, como vivemos de maneira tão diferente agora. “Kuki” (Toni Kukoc) está nos EUA, Drazen (Petrovic), infelizmente não está mais entre nós e o Vlade Divac também se afastou um pouco do basquetebol.Eu vejo muitas vezes o “Diki” (Dino Radja), outros – como Stojko Vranković – não tão frequentemente. Certamente gostaria de vê-los a todos um pouco mais, mas como disse, o trabalho que tenho não me permite. Talvez se proporcione estarmos todos juntos muito em breve!

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19 OUT 2010

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