Norberto Alves: «Quero evoluir como líder»

O ex-treinador da Académica aceitou um desafio que lhe foi lançado pelo Libolo e mudou-se para Angola.

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31 OUT 2013

A experiência está a correr bem, já ganhou a Taça Victorino Cunha, prova onde participam os quatro clubes mais bem classificados na época anterior, mas não considera a sua equipa favorita ao título. Nesta entrevista Norberto Alves aborda ainda o atual momento da Académica. Não perca, nos detalhes desta notícia.

Esta sua ida para Angola já esteve para acontecer mais cedo?Sim, estive muito próximo de treinar em Angola, outro clube de topo na época de 2011/12. À última da hora as coisas não se concretizaram e fiquei sem treinar nesse ano, apesar de ter feito um 3º lugar, atrás do FC Porto e do Benfica. Na altura, a melhor época de há mais de 40 anos. Os dirigentes da Académica que iniciaram funções resolveram ter outro treinador, que passado pouco tempo foi substituído por outro treinador, apesar de eu estar disponível para treinar a Académica… nunca entendi isso. Quais foram os motivos que o levaram a ir treinar para Angola?Depois do problema de saúde que tive no final da época passada, tinha de tomar uma opção: ou só treinava basquetebol ou só estava na escola como professor de Educação Física. Em termos de esforço físico não queria fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Sabendo que a Académica não tem condições financeiras para ter um treinador a tempo inteiro – eu teria que sair. Assim, quando os dirigentes do Libolo vieram a Coimbra falar comigo resolvi aceitar o convite. Treinar e liderar equipas são competências que fui desenvolvendo ao longo de anos de experiência. Dediquei a minha vida a isso e não quis perder esta oportunidade de continuar a treinar. Nesta atividade é fundamental sair da nossa zona de conforto para poder evoluir e eu quero sempre evoluir como líder. Tinha de sair de Portugal. No nosso país não havia nenhum projeto que me proporcionasse essa evolução. Está satisfeito com as condições de trabalho proporcionadas pelo Recreativo do Libolo?Os dirigentes da equipa receberam-me muito bem e têm procurado dar-me tudo o que é possível para desenvolver o meu trabalho. Um agradecimento muito especial ao Vice-Presidente Nelson Oliveira, por proporcionar as melhores condições possíveis para que a equipa tenha possibilidades de discutir todas as provas. Os jogadores também têm sido fantásticos na minha integração noutra realidade. Penso que eles já perceberam o que eu posso fazer para que tudo nos corra como merecemos.Principais diferenças entre o basquete africano e Europeu?De uma forma muito geral, podemos dizer que o Jogo é mais físico, tem mais contacto e joga-se a uma maior velocidade – ou seja o ritmo é maior por haver mais posses de bola. Defensivamente existe uma maior pressão defensiva, quer sobre o portador da bola, quer sobre as linhas de passe. Penso que quando pensamos na intensidade com que se joga um jogo de playoff em Portugal percebemos melhor este contexto de que estou a falar. Recentemente conquistou a Taça Victorino Cunha, onde participaram os melhores 4 classificados da época anterior. Isso significa que têm condições para lutar pelo título?Foi muito importante para a confiança da equipa termos ganho esse troféu. Acho que pouca gente estava à espera, com exceção de todos os que fazemos parte da equipa – dirigentes, treinadores e jogadores. Para o campeonato sabemos que não somos os favoritos – a equipa mais forte é o atual campeão (1º de Agosto), mas temos as nossas hipóteses e com trabalho e compromisso de todos vamos, jogo a jogo, estar em condições de poder ganhar. Não prometi vitórias aos meus dirigentes quando me vieram contratar mas prometi dar tudo para as conseguir atingir. É isso que vou fazer – dar o meu melhor e ter, como sempre, a consciência de que o fiz.O campeonato é competitivo, ou resume-se a uma luta a quatro?O campeonato tem quatro equipas mais fortes do que as outras. Essas têm mais condições de disputar o título – mas o campeonato é mais competitivo que o português que tem apenas um grande candidato olhando para a diferença de potencial das equipas.A Liga dos Campeões Africanos é outro objetivo definido pelo clube?Essa é uma competição bastante difícil de conquistar, mas primeiro vamos lutar por nos apurarmos para a sua fase final e depois sim pensar nisso.Embora à distância, como vê o atual momento da Académica, clube que tanto lhe diz?Fui treinador da Académica 8 anos em 3 ciclos diferentes, trouxe o clube da 3ª divisão até ser Vice-Campeão Nacional. O Clube faz parte da minha vida como treinador e está no meu coração. Por isto tudo, eu lamento muito a situação que, fundamentalmente, a época de 2011/2012 provocou e que ainda tem repercussões – eu não percebi o que se passou: não estava lá nessa época, não me quiseram… Parece importante perguntar a quem lá estava na altura. Agora uma coisa eu sei, o ano passado sem aumentar o passivo que se encontrou, a Académica foi vice-campeã devido à presidência meritória do Carlos Gonçalves, que se baseou numa coisa: falar pouco, trabalhar muito e saber sofrer ainda mais. E como sofremos…Para o futuro é fundamental ter uma visão clara do que se tem de fazer e procurar pessoas que tenham essa visão.Eu desejo o melhor a todos os que estão ou que venham a estar na condução dos destinos do clube, desde que sejam pessoas de bem, que honrem a instituição e também os compromissos com quem a serviu e se dedicou de alma e coração. Um grande abraço aos jogadores, em especial ao Fernando Sousa e Bruno Costa e aos treinadores Jacinto Silva e Paulo Santos. Merecem o melhor. Que quem queira dirigir ponha os olhos neles. Aí vai descobrir, pelo seu exemplo, a atitude certa para o futuro da instituição. Se acham que não conseguem dirigir nas atuais condições difíceis então deixem o lugar a outros e parem de se vitimizar. Toda a gente agradece.

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31 OUT 2013

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