«Basquete feminino deu um salto enorme»

Na 3ª e última parte desta magnifica e cativante entrevista, Anabela Vasconcelos comenta as recentes prestações das seleções femininas, fala de um sonho que nunca se concretizou, bem como faz uma análise geral do basquetebol nacional, em que aproveita para deixar algumas opiniões e conselhos importantes.

FPB
20 NOV 2015

 

Como viu os recentes desempenhos das seleções femininas?

 

Ao nível do basquetebol feminino tem sido feito um excelente trabalho e isso pôde ver-se nos desempenhos das seleções. Tem sido um trabalho de mérito e acho que estamos no bom caminho. Temos atletas que estão nos Estados Unidos e isso só prova que o basquetebol deu um salto enorme, que tem de ser seguido pelo masculino. Os clubes têm trabalhado muitíssimo bem. Há claramente um novo olhar sobre o Feminino!

Sabemos que a partir de uma certa idade a maternidade leva as mulheres a abdicarem do desporto e que no masculino essa questão não se coloca. Mas elas são mais objetivas, mais determinadas. É extraordinário termos atletas a jogar fora. Conheci a Joana Soeiro, era ela muito pequena, jogava no Gafanha, e sempre foi uma miúda com uma grande atitude. Estava sempre no pavilhão a ver jogos, sempre foi muito decidida. Claro que teve uma boa retaguarda, mas é um exemplo de determinação no basquete.

 

Gostava de ter ido para os Estados Unidos?

 

Sim, claro. Tenho uma grande admiração pela Ticha Penicheiro, conheci-a em Calvão numa ação de minibasquete. É mais nova do que eu mas admiro-a muito pelo  que fez,  pelo  que conseguiu e pelo exemplo. Gostava de ter ido jogar para os Estados Unidos ou até mesmo para outro país na Europa, conhecer outras realidades!

 

Alguma vez recebeu dinheiro para jogar basquetebol?

 

Quando comecei ninguém recebia, nem mesmo no escalão sénior feminino. A primeira vez que recebi dinheiro já tinha uns trinta  e tal anos e foi quando joguei no Vagos. Tínhamos uma atleta estrangeira profissional e todas as outras recebiam prémios de jogo. Foi a primeira vez que recebi um cheque no basquete (risos)…

 

Que análise faz do basquetebol em Portugal?

 

Há clubes que fazem um grande esforço pelo crescimento do basquetebol feminino e os resultados estão à vista. O feminino tem uma identidade muito própria, diferente do masculino e existem clubes que foram trabalhando nesse sentido. Penso que, neste momento, é muito bom o Benfica e o Sporting terem equipas na Liga Feminina, e que seria importante o FC Porto também apostar nesta vertente. Os grandes clubes fazem falta, trazem mais público, dão mais visibilidade à modalidade. Por outro lado, os centros de treino são fundamentais e o trabalho que aí tem sido feito tem sido determinante.

Os clubes têm muito a ganhar se apostarem no basquetebol feminino. Pela experiência que tenho, vejo que os pais envolvem-se mais, as miúdas vivem de forma intensa o clube e há outras dinâmicas. Mas tem de se apostar cedo, na formação, no minibasquete.

 

E o masculino?

 

Tem estado um pouco aquém em termos de resultados de seleções. Há uma grande discrepância entre as equipas da Liga, entre os atletas, algo está a falhar. Os clubes devem trabalhar a longo prazo mas muitas vezes não o fazem, procuram os resultados no imediato e às vezes tudo acaba por ser muito efémero. 

FPB
20 NOV 2015

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