«Tenho uma grande paixão pelo basquetebol»

Mãe, esposa, professora de português e francês no liceu, dona de casa e jogadora de basquetebol.

Competições | FPB
17 NOV 2015

Anabela Vasconcelos, poste de 1,75 metros, é um dos maiores exemplos de longevidade que podemos encontrar no nosso desporto em Portugal. Tem 50 anos e jogou até à época passada no Illiabum Clube, quando decidiu colocar um ponto final na (longa) carreira. Mas será definitivo? As saudades do som da bola a entrar no cesto, dos treinos e do ambiente do balneário já fizeram com que regressasse outras vezes. Para já tem via verde para treinar no Illiabum, depois logo se vê. Nesta entrevista, que publicamos em três partes, damos-lhe a conhecer o percurso de Anabela e alguns dos segredos que estão por detrás da sua determinação.

 

Como começou esta sua ligação ao basquetebol?

Começou por volta dos 12 ou 13 anos, tinha já experimentado outros desportos – fiz atletismo, mas não gostei, experimentei patinagem artística, em São João da Madeira, mas também não era o que queria. Um dia, a minha irmã mais velha levou-me  ao pavilhão da Sanjoanense para treinar basquetebol e adorei. A partir daí, foi o meu desporto de eleição. Tínhamos um grupo fantástico!

 

Fez toda a formação na Sanjoanense?

Sim, passei pelos vários escalões do clube, representei a seleção  de cadetes femininos pela Associação de Basquetebol de Aveiro, fiz parte do grupo de treinos de observação da selecção nacional de juniores, até que entrei na Universidade em Aveiro e tive de parar. Os meus pais sempre me apoiaram nas escolhas que fiz incluindo a modalidade que quis praticar, mas sempre me disseram para colocar os estudos em primeiro plano e foi o que  aconteceu. Em Aveiro havia várias equipas e no segundo ano de faculdade acabei por regressar ao basquetebol, sentia saudades… Joguei no Illiabum e mais tarde no Esgueira.

 

Até que voltou a parar…

 Quando acabei o curso fui fazer o estágio em Águeda, entrei no mercado de trabalho e achei que tinha de fazer uma pausa. Um ano depois, regressei à Sanjoanense e nos anos seguintes joguei em Esgueira. Entretanto casei, engravidei… Aos três meses de gravidez comuniquei à minha equipa que não podia continuar. O médico sempre me dissera que o exercício físico era essencial, mas no caso do basquetebol, sendo um desporto de contacto, e ainda para mais eu jogava a poste… era necessário parar! Mas sempre que possível, ia ver os jogos da minha equipa.

 

Foi a paragem mais longa?

Sem dúvida. Entretanto voltei a ser mãe e era difícil conciliar o trabalho, o basquetebol e duas crianças pequenas em casa. Quando eles começaram a ganhar alguma independência acabei por voltar, mas foi de forma casual. Já não pensava que poderia jogar basquetebol outra vez…  Um dia, quando levei o meu filho mais velho aos treinos de minibasquete, encontrei um antigo treinador, Francisco Calão, com quem tinha trabalhado em Ílhavo, nos tempos da Universidade. Comentei com ele que tinha saudades de jogar, que nunca me habituara a treinar em ginásios e que sentia falta da prática de um desporto coletivo. Convidou-me a aparecer em Vagos, só para treinar, para manter a forma e matar saudades da bola. Acabei por ficar, tinha 37 anos. Subimos à 1.ª Divisão e depois à Liga. Foram quatro épocas emotivas. Ainda joguei no Gafanha mais três  anos. Regressei no ano passado, mas esta época já não estou a jogar.

 

Quanto tempo parou até voltar no ano passado?

Quatro anos. Estava também ligada ao minibasquete do Illiabum e com filhos era difícil conciliar tudo. Adorei trabalhar no minibasquete, tentámos e conseguimos que o clube tivesse equipas femininas Sub-12 e Sub-13. Notávamos que as miúdas mais tímidas saíam do minibasquete porque este era misto e as que ficavam, acabavam por ir para outros clubes da região, o numero era insuficiente para formar uma equipa de Sub-14. Em jeito de brincadeira disse uma vez que o meu sonho era ter uma equipa sénior formada por jogadoras do minibasquete e jogar com elas. E no ano passado, joguei no Illiabum com atletas que trabalharam comigo no minibasquete.

 

Como fazia para ter tempo para isso tudo?

Sempre tive a sorte de ter muito apoio a nível familiar, tanto dos meus pais, como do meu marido e dos meus filhos. Treinava à hora de jantar, mas deixava a refeição pronta, era só aquecer. Preparava tudo antes dos treinos. Por vezes, o trabalho da escola era feito pela noite dentro…

 

E será que colocou mesmo um ponto final na sua carreira?

Por acaso também já pensei nisso, os meus filhos também já comentaram que certamente ainda não é desta… Decidi este ano não continuar a jogar, sei que posso aparecer no Illiabum para fazer uns treinos, mas às vezes dou por mim em casa roidínha por ir treinar… E sei que se for treinar vou querer ir aos jogos… Sempre vivi o basquetebol com grande intensidade, é grande a paixão que tenho pela modalidade. Acompanho os jogos dos meus filhos, tento acompanhar os encontros do Illiabum, do Esgueira, ainda há pouco tempo fui ver o Oliveirense-Ovarense. Gosto muito da magia do basquetebol.

 

Foi fácil ao longo dos anos adaptar-se a novas equipas, a companheiras cada vez mais novas?

Ao nível do jogo, senti algumas dificuldades sobretudo nestes últimos anos. Eu jogava sempre a poste, não vinha cá fora lançar e agora é tudo um pouco  diferente, há uma maior liberdade nos movimentos, joga-se por conceitos. Senti essas diferenças sobretudo quando fui para o Vagos e  para o Gafanha, não estava habituada a essa forma de jogo. Mas foi um desafio. Quando comecei, não se falava em as equipas terem americanas, nem havia linha dos três pontos… Nunca fui uma grande atiradora, mas era muito forte ao nível do ressalto e na área de lançamento perto do cesto. Quanto à diferença de idades, sempre me senti uma delas!

 

Alguma vez sentiu ser uma espécie de mãe das suas companheiras?

Como sou professora, os meus alunos têm entre os 12 e os 16 anos, sempre foi fácil comunicar com os mais jovens. Sinto que crio alguma empatia… Mas também tive sorte com as atletas que trabalhei nas várias equipas por onde passei. No ano passado, por exemplo, foi fantástico, era quase mãe delas. Umas vezes confidente, outras cúmplice …Tanto elas como o treinador aceitaram-me muito bem, entrei facilmente no espírito da equipa. Muitas vezes era eu quem fazia as partidas no balneário, do género trocar as roupas e coisas assim. Acho que se perdeu um bocadinho o espírito de balneário, as atletas chegam, muitas das vezes, já equipadas, e não há uma interação como havia no meu tempo. Mas sempre consegui integrar-me bem.

(…)Lembro-me que quando regressei, depois dos meus filhos nascerem, num dos primeiros treinos do Vagos, levava uns calções antigos, mais curtos, como se usavam quando eu jogava. Todas a equipa tinha calções até aos joelhos. Uma atleta, a meio do treino, questionou-me: “Então, vieste para o ténis?” Os calções tinham crescido! Quando cheguei a casa pedi ao meu marido: “Tens uns calções que me emprestes?” Nos treinos seguintes, fui com os calções dele mas pouco tempo depois  passei a treinar  com os meus, mais curtinhos. Claro que nos jogos, vestia os outros, mas achava-os enormes!

 

É uma questão de moda…

Pois é, agora já estão mais curtos outra vez. Sorte a  minha!

Aproveito para agradecer a todos os  meus treinadores que , ao longo destes anos, me ensinaram a gostar e a estar no basquetebol de forma tão intensa e apaixonada!

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17 NOV 2015

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