12 jogadores marcantes – João Cardoso

Expressão paradigmática do ecletismo, exemplo de longevidade, força jugular do BCR português.

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5 FEV 2017

É impossível ter nas mãos o currículo desportivo de João Cardoso sem que o olhar se perca na miríade de feitos, distinções, e por arrasto se divague sobre o seu significado, num tempo em que o desporto Paraolímpico vivia sob o jugo de uma consciência coletiva caritativa, portanto redutora. Mas vamos ao que interessa: são 35 anos de carreira, 11 Campeonatos Nacionais, 11 Taças de Portugal, 14 Supertaças no palmarés, 9 participações em competições europeias de clubes, 6 em Campeonatos da Europa por Portugal. Refiram-se os incontáveis títulos nacionais no Atletismo, alguns internacionais, e ainda deu tempo para praticar Natação e Ténis de Mesa… Hoje conhecemos melhor uma lenda viva. 

Muito mais do que um jogador de Basquetebol, muito mais do que um atleta, João Cardoso perpassou a sua carreira desportiva com algo que ultrapassa a vontade férrea de ganhar, a substância incorpórea que separa os que foram “apenas” grandes jogadores dos que se converteram em nomes eternos. João, carinhosamente apelidado de “Roscas” pela sua forma digna de ilusionista de finalizar debaixo do cesto, pertence ao segundo lote fruto do impacto incomensurável que teve para abalar mentalidades face à deficiência. Podia elencar o currículo infinito, o físico portentoso que o projetou a ele e à modalidade para outro patamar, mas o jogador da APD Sintra/Sporting CP elege o “crer e humildade com o objetivo de incentivar os mais novos através da forma de jogar” como o fator número 1 para figurar na lista dos mais marcantes. E se paira a dúvida acerca da espontaneidade da declaração, como se de um chavão de refúgio fácil se tratasse, João Cardoso dissipa-a. “Nasci no tempo certo para acordar mentes adormecidas para as famílias sentirem que os seus filhos afinal podem algo fazer de bom para o seu corpo e não são os “coitadinhos” de apelido pela sociedade”. A igualdade em nenhum momento se lhe afigurou um mantra suscetível de renúncia, inclusive, e sobretudo, perante os comportamentos anacrónicos de uma sociedade pretensamente inclusiva. “Fui dos primeiros a passar a Ponte sobre o Tejo mesmo contra a organização e conseguindo pôr os concorrentes ‘a pé’ a manifestarem-se a favor da nossa presença, que foi atribulada, dado que venci com um pneu furado”, narra o episódio odisseico. E aproveitando o mote do Atletismo, João foi um dos participantes na 10.ª Maratona de Oita, no Japão, em 1990, que contou com mais de 1000 participantes, alcançando a 42.ª posição na Meia Maratona, entre 500 corredores, registo seguramente em nada alheio à intensa preparação física autodidata. “Não acredito que nos anos 80 houvesse pessoas que sem emprego saíssem de casa com uma cadeira de rodas perto das 07:00 para fazer determinados percursos em estrada todos os dias e também no final da tarde nas pistas do Jamor”, confessa. Voltando ao Basquetebol, o homem dos vários ofícios, que aos 55 anos quer continuar a jogar “até que a saúde impeça”, diz que o seduz “tratar a bola por tu”. Concretiza: “dizer-lhe para onde deve ir através dos nossos comandos de pulso, para que toque na tabela em pontos estratégicos, isso é de uma beleza incrível”. Acreditamos, e constatamos.

O que dizem sobre ele

Rui Lourenço, internacional português, jogador-treinador da APD Sintra/Sporting CP

“Foi um atleta extraordinário, inicialmente no Atletismo e, porque nesse período as skills de Basquetebol eram reduzidas, obviamente que a sua condição física sobressaía. Lembro-me de nos meus primeiros jogos na APD Sintra, quando jogávamos contra o GDR “A Joanita”, era o João e mais 4; lançava de meia distância, falhava, ia ganhar o ressalto do outro lado da tabela e voltava a lançar. Fazia isto 20, 30 vezes num jogo e ninguém conseguia acompanhar o seu ritmo; era impressionante. Skills de basquetebol, posso ainda referir como pontos fortes a capacidade de ressalto no lance livre e a conversão debaixo da tabela".

Hugo Maia, internacional português, jogador do GDD Alcoitão

“Quando falamos do João Cardoso, lembramos-nos das histórias de "terror" dos seus adversários do atletismo e do super jogador de BCR que ele foi no GDR A Joanita, que sofria falta, lançava e apanhava o seu próprio ressalto. Pessoalmente, recordo um exemplo de humildade, força, perseverança e uma paixão pela modalidade difícil de igualar. Durante os meus 10 primeiros anos de BCR foi o exemplo que segui, o professor que ouvi, o criativo que sem me ensinar me fez querer evoluir e "inventar" mais. Obrigado Cardoso!”.

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5 FEV 2017

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