Jogadores marcantes: Pedro Esteves

Perscrutamos a carreira de Pedro Esteves, um dos mais prolíficos jogadores do basquetebol em cadeira de rodas português, um visionário e decididamente o principal obreiro da hegemonia de que a APD Sintra viria a gozar na modalidade.

Atletas | Competições
12 JUN 2017

Se alguns conjeturam ter sido o melhor de sempre, inegável é a influência que exerceu em jovens talentos da época, casos de Paulo Taborda, Rui Lourenço ou o atual capitão da Seleção Nacional, Pedro Gonçalves.

Dizer que “filho de peixe sabe nadar” seria um refúgio fácil para nos aludirmos ao papel seminal e revolucionário de Pedro Esteves no basquetebol em cadeira de rodas nacional. A mãe era jogadora, tal como a irmã – internacional pela Seleção portuguesa -, e o pai, José Esteves, treinador de renome. “Como eu dizia, tinha nascido dentro de um cesto de basket”, enfatiza Rui Lourenço, um dos seus “discípulos”, agora treinador-jogador do Sporting CP/APD Sintra. A filiação desportiva não ficava por aqui, já que o irmão Rui Esteves singrara no futebol, ao serviço de Torreense, Farense, Louletano, Benfica, Belenenses ou Vitória de Setúbal, e cuja parte da herança à memória coletiva dos adeptos foram os dois “chapéus” marcados a Vítor Baía, na Taça de Portugal. Contudo, ainda que agindo como catalisador, imputar o pioneirismo da ação de Pedro Esteves no BCR à sua linhagem pecaria sempre por curto. Intérprete de excelência, “à bola, à cadeira, tratava-as por tu e punha-as a fazer coisas bonitas, inteligentes, elegantes, incríveis e que às vezes só ele imaginava que eram possíveis”, afiança Pedro Gonçalves. Desafiou os cânones ao introduzir gestos técnicos inéditos na vertente sobre rodas, como “o lançamento de costas debaixo do cesto” – a reverse layup -, “hoje em dia muito frequente”, acrescenta Rui Lourenço, que nos confidencia outras nuances do legado do mentor. “Aprendi com ele, vendo fazer, passes pelas costas, rodar a bola no dedo, passar a bola da mão direita para a esquerda rolando pelo corpo, seguido de um passe para o colega; o gancho de esquerda e direita debaixo do cesto – ninguém fazia -, o passe para a esquerda, olhando para a direita e vice versa”, enumera o antigo internacional. A capacidade de transmissão de conhecimentos não se esgotava, porém, na imitação dos seus gestos pelos novatos, uma vez que Pedro Esteves tinha igualmente vocação para ensinar. O Mladenov do BCR, alcunha granjeada pelo seu virtuosismo, que tomou de empréstimo do futebolista internacional búlgaro que militou na liga portuguesa no final dos anos 80/princípio de 90, deixou marcas perenes nos que privaram com ele. As palavras sentidas do capitão da Seleção Nacional, Pedro Gonçalves, desvelam essa faceta. “Foi quem me ensinou a jogar BCR e me contagiou a paixão pelo jogo! Ainda hoje, a cada jogo que faço, em cada passe, em cada boqueio, em cada lançamento… sinto que está um bocadinho dele comigo… a nortear-me e a dizer ‘boa, puto!’”. Rui Lourenço socorre-se de uma situação em particular para ilustrar, não só a “veia” pedagógica, como o génio na abordagem tática ao jogo. “Lembro-me de começarmos a defender homem a homem contra o GDD Alcoitão e a levar grandes tareias. Todos diziam que a malta de Sintra era suicida ao jogar assim contra o Alcoitão, mas o Pedro Esteves dizia-nos: “Ninguém pode saber defender zona, se não sabe defender homem a homem. É assim que vamos crescer e ganhar ao Alcoitão. A verdade é que em 3 ou 4 anos chegámos perto e acabámos por ser a equipa a ultrapassar esse colosso da altura”, sustenta.

Os problemas de saúde ditaram um abandono precoce à modalidade que o apaixonava, mas a carreira curta não o impediu, como atleta e treinador, de se tornar alguém com uma influência indelével no BCR português. Como sintetizou Pedro Gonçalves, “o Basquetebol estava-lhe nos genes e na alma”. 

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12 JUN 2017

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