“Em Linha” com Ricardo Vieira
Técnico da APD Braga e Selecionador Nacional de Sub22 de BCR é o primeiro protagonista
Competições
7 ABR 2020
Ricardo Vieira, técnico da APD Braga e Selecionador Nacional de Sub22, é o primeiro entrevistado sob o escrutínio da nova rubrica dedicada aos treinadores de basquetebol em cadeira de rodas.
Jogos da minha vida: O da conquista do primeiro grande troféu nacional (época 2012 – 2013), em que, no Pavilhão Casal Vistoso, defrontámos na final a APD Sintra (equipa que dominava tudo). Ao intervalo, perdíamos por mais de 10 pontos, veio uma pessoa perguntar-me “E agora Ricardo?” e eu respondi “E agora o quê? Vamos ganhar!”. Vencemos por mais de 7 pontos penso. Ver no final a alegria dos atletas que tanto tinham trabalhado, desde 2009, valeu a pena. Foi o jogo que mudou a minha vida como treinador, no sentido em que tive de pensar como tal e encontrar em mim aquilo que sou hoje. O outro jogo mais difícil (e pela negativa) foi a meia final contra a Grécia, no Europeu da Bulgária [2019]. Quem me conhece sabe que detesto perder. Já vi o jogo vezes sem conta e, sempre que vejo, fico com a sensação que era possível… No entanto, #420!
Quais os treinadores que exercem maior fascínio sobre ti?
São poucos, confesso. Aprendi a admirar alguns, isso sim. Tenho de referir Haj Bhania, pela persistência em acreditar num projeto de “Fundamental Skills” e levar a Grã-Bretanha ao trono mundial, Mike Frogley (Canadá), por ser enunciado por Pat Anderson como o melhor de todos e pelo projeto que elabora com os mais novos, o que me entusiasma a fazer o mesmo. Uma palavra de apreço também ao companheiro Marco Galego, pelo profissionalismo. Sem dúvida, os dois primeiros pelo trabalho e o último pelo prazer em querer alterar o nosso BCR.
Recorda-nos um momento caricato que tenhas vivido enquanto treinador.
Não sei se será o mais caricato, mas ainda falo sobre isso. A determinada altura, tinha dado ordem a um jogador substituir outro, pois sabia que isso ia “picá-lo” e surtiu efeito. O jogador que estava no campo ia ser substituído, percebeu (como eu esperava) e, além de defender bem, no ataque seguinte marcou 2 importantes pontos para a equipa. Obviamente, nessa altura, abdiquei da substituição.
Quais as competências que consideras essenciais para ser um treinador de sucesso?
Não me considero um treinador de sucesso. Considero-me um treinador em ascensão e com muito para aprender. Pelo modo como vejo o BCR, para sermos um treinador com “algum sucesso”, necessitamos conhecer o jogo. Não adianta ter anos de basquetebol “a pé” e achar que com esse conhecimento podemos singrar no BCR, é errado. Temos de conhecer o jogo, experimentar a modalidade e sermos muito bons em questões táticas. Perceber que nas pequenas coisas estão as grandes vitórias, ou seja, no fundamento básico (manuseamento de cadeira, drible, passe, lançamento, técnica individual de defesa e técnica individual de ataque). Além de tudo, perceber que do outro lado estão jovens ou adultos que precisam de sentir que estás com eles para tudo, precisas de saber ganhar o respeito e respeitá-los.
Em linha, a defesa que todos os treinadores querem, mas poucos conseguem. Qual a receita para lá chegar?
Se a soubesse, estaria no topo mundial e não nacional (risos). No entanto, é extremamente importante mover a equipa como um só, perceber que qualquer movimento em falso, isto é, que achemos que se o fizermos sozinhos seremos bem-sucedidos, resulta em erro! Tendo tudo em conta, do que já foi referenciado em cima (fundamentos básicos) e uma boa comunicação, é meio caminho andado para obtermos sucesso. Bons fundamentos para parar o adversário e excelente comunicação para, caso sejamos ultrapassados, saber passar a informação para a ajuda vir e resultar! A juntar a isto, obrigatoriamente, a componente física, caso contrário é só imaginar 40 minutos a andar de um lado para outro com uma cadeira e vemos o nível de exigência deste desporto.