Mery Andrade: “Uma mulher como treinadora principal na NBA é uma questão de tempo”

Antiga internacional lusa estreou-se como adjunta na G-League

Treinadores
16 ABR 2020

Em entrevista à FPB, Mery Andrade falou do ano de estreia como treinadora adjunta na G-League. A segunda atleta mais internacional de sempre por todas as seleções (129 internacionalizações) abordou ainda as hipóteses de Neemias Queta chegar à NBA.

Como tens lidado com o isolamento por causa da COVID-19?
Estou em casa da minha mãe, em Boston, e tive que ser criativa. Preparo aulas de fitness e convido pessoas para as fazerem comigo. Acordo, faço exercício e, enquanto estou na bicicleta estática, assisto a clinics online para treinadores. Aproveito para desenvolver o meu trabalho.
Como vês as imagens que chegam de Itália, onde jogaste 15 anos?
São imagens tristes. Parte de mim é italiana. Privarem os italianos, que são latinos, do contacto é um grande choque. Quando começaram a tomar medidas mais drásticas em Itália, eu comecei a fazer o mesmo aqui, onde as pessoas ainda não se aperceberam do quão grave é a situação.
Como correu a estreia nos Erie BayHawks, equipa da G-League da NBA?
Foi um ano de aprendizagem e adaptação, mas muito positivo. Foi o primeiro ano desta equipa, depois de passar a ser afiliada dos New Orleans Pelicans. Tivemos jogadores com “two-way contracts” e que iam jogar pelos Pelicans várias vezes, o que obriga a alterar os planos da nossa equipa. É preciso flexibilidade para nos ajustarmos diariamente e esse foi o maior crescimento que eu senti.
Descreve-nos as funções que tens na equipa.
Desenvolvimento de jogadores, “scouting” e “breakdown” de vídeos. No campo, trabalho com postes e treino de lançamento com extremos/postes. Fora de campo, incentivo os atletas a continuar a estudar e ajudo-os noutras vertentes. Por exemplo, tenho um atleta que canta e tento entrar em contacto com agências. Isto ajuda-me a conhecê-los melhor e isso é muito importante.
Estiveste no NBA Combine do ano passado, onde também esteve o Neemias Queta. Achas que o Neemias pode sonhar com a NBA?
O Neemias não esteve em grande, mas é compreensível. Era a primeira vez e tinha muita pressão. Por vezes a ansiedade leva a melhor. Mas ele já provou, na universidade e nas seleções nacionais, que tem um fogo dentro dele que o faz jogar no seu melhor. As lesões não o ajudaram e isso é algo que as pessoas perguntam na NBA. Ele é jovem. Se aprender a tratar do corpo e fizer prevenção de lesões, essa ideia desaparece. É um jogador com potencial, mas precisa de ser mais forte para a posição em que joga. Pode ser um “two-way player” e jogar nas duas ligas: G-League e NBA. A G-League pode ajudá-lo em termos físicos e ritmo de jogo. Algo que encontramos muito na G-League são jogadores com QI basquetebolístico médio/baixo. Nesse aspeto, o Neemias já é um jogador de alto calibre. Percebe do jogo, aprende rápido e a G-League é uma liga onde ele pode ter muito sucesso e despertar a curiosidade das equipas da NBA.
Fala-se cada vez mais da possibilidade de uma mulher ser treinadora principal de uma equipa da NBA. É algo que vês a acontecer a breve prazo?
É uma questão de tempo e só não aconteceu ainda porque a Becky Hammon não quis. Vai acontecer na altura certa. Fico feliz por reconhecerem as nossas qualidades. O basquetebol é universal e não olha a género, raça ou origem. Eu tenho a sorte de ser uma mulher não-americana a treinar homens nos Estados Unidos. A Becky está a abrir-nos a porta e nós abrimos para outras.
Já confessaste que, depois de Old Dominion, imaginavas-te a regressar a Portugal para seres pediatra. É o que te vias a fazer, se o basquetebol não existisse?
A minha mãe conta-me que eu vestia a bata do meu pai, que era farmacêutico, e andava pela casa a dizer que tinham que me chamar Sr.ª Dr.ª Mery Andrade. Tenho a certeza que, se não fosse basquetebolista profissional, voltaria a Portugal para ser pediatra.
Se pudesses falar com a pequena Mery que pegou numa bola de basquetebol pela primeira vez, em Massamá, o que lhe dirias?
Os ensinamentos que tive na vida levei para o basquetebol e as coisas que vivi no basquetebol trouxe para a vida, portanto ia dizer-lhe para ouvir e ser uma esponja contínua de pessoas mais velhas e que sabem mais.
Treinadores
16 ABR 2020

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