Ricardo Vieira: “Espero que o valor da medalha seja transversal”
Selecionador nacional sub22 e o atleta Miguel Reis fazem o balanço dos EPYG 2022
Competições | Seleções
12 JUL 2022
Três de julho de 2022 é uma data que irá perdurar no histórico das seleções nacionais de BCR. Em Pajulahti, Finlândia, nos Jogos Europeus da Juventude, a seleção sub22 de BCR derrotou a Irlanda – 60-47 – e conquistou o terceiro lugar do pódio, o primeiro para uma seleção jovem lusa, nesta vertente da modalidade. Ainda sem uma experiência competitiva oficial, dado o estado embrionário do projeto sub22, Portugal partiu para a sua segunda participação nos Jogos Europeus da Juventude – depois da edição de 2019 – com aspirações assumidas de chegar à medalha e acabou por acrescentar réplicas interessantes, a espaços, contra Holanda e Itália, nações com pergaminhos no BCR internacional e programas de desenvolvimento consolidados na formação.
Na ótica do selecionador nacional Ricardo Vieira, a valia da medalha depende da capacidade concreta de dar continuidade ao trabalho realizado. “Espero que o valor desta medalha seja transversal a quem pode fazer algo por eles, se quisermos chegar ao nível de Itália ou Holanda. Refiro-me a clubes, federação, entidades governamentais, à possibilidade de termos um centro de treino. Algo tem de ser feito para que estes miúdos possam treinar mais do que duas vezes por semana. Esse era o meu desejo, que a medalha viesse transformar isso tudo. Se não alterar nada, o valor dela para mim é zero. Para os miúdos, vai ser uma coisa da vida inteira.”, remata o técnico.
Num grupo mais heterogéneo face a 2019, onde se destaca a presença de três atletas de apenas 15 anos, mas “mais evoluído”, na ótica do líder da equipa das quinas, despontou Miguel Reis, cujo rendimento ao longo da prova lhe valeu a nomeação para o cinco ideal. “Acredito que tenha sido fruto do trabalho realizado ao longo destes anos, após uma esmagadora dose de realidade, na Finlândia também, em 2019. Percebi que o que fazia não chegava, dediquei-me a 100% ao treino e procurei treinos extra orientado; não só treinar por treinar, o que me permitiu chegar ao nível que estou hoje.”, explica o poste, que se despediu do escalão com uma prestação de boa memória, no decisivo jogo com a Irlanda – 19pts, 6res, 5ast, 1rb).
O também internacional A, pois constou nos doze eleitos que representaram Portugal no Campeonato da Europa B/C, em Sarajevo, de 12 a 22 de junho, mostra-se convicto de que a “medalha vai ajudar a mudar a mentalidade dos mais novos, principalmente”, transformação essa assente num discurso interior mais ambicioso. “Pode ser uma fonte de motivação e de mudança do chip “eu faço o que posso” para o “eu quero fazer e posso fazer mais”, sintetiza.
Ricardo Vieira considera que a entrada em cena da seleção nacional sub22 em competições oficiais constitui-se como uma das metas centrais para que não cesse a trajetória de evolução e “os atletas percebam que estão a trabalhar para um determinado objetivo”. Contudo, adverte o treinador bracarense, o papel dos clubes deve plasmar princípios técnicos e táticos que ainda escapam aos jogadores uma vez chamados às seleções. “Estamos a inverter os papéis. A seleção a trabalhar para os clubes e não os clubes a trabalharem para as seleções. Há muito que passa pelos clubes e o que mais me preocupa, neste momento, é a falta de capacitação dos nossos treinadores. Necessitam urgentemente de cursos de formação, seja em Portugal, seja no estrangeiro, para perceberem o que é que ainda pode ser ensinado”, alerta.
Paralelamente, entende o selecionador nacional da categoria, a internacionalização do jogador português terá um reflexo direto na subida de patamar do BCR nacional. “Cada vez mais nós percebemos que, se queremos uma seleção sénior e sub22 competitivas, os miúdos têm de sair daqui. Não vale a pena estarmos com alterações de modelo de campeonato para o tornar mais competitivo. Não vai chegar. Nós percebemos que podemos fazer quatro/cinco jogos competitivos ao longo de uma época a nível nacional, que não chegam ao grau de exigência, nem a 30/40% daquilo que encontramos lá fora”, descreve.
Nos Jogos Europeus da Juventude de 2022, Portugal amealhou, na sua estadia em Pajulahti, três vitórias, frente a Irlanda, por duas ocasiões, e à anfitriã Finlândia, num total de cinco encontros disputados, não conseguindo aplacar o poderio de Itália e Holanda.
Nota: fotografia EPYG 2022.