“A dedicação, ética de trabalho e preparação são coisas que nos permitem atingir qualquer objetivo”

Mery Andrade é a nova treinadora-adjunta dos Toronto Raptors, da NBA

Treinadores
3 SET 2023

Com uma extensa carreira dentro de campo, Mery Andrade continua a evoluir e a conquistar o seu espaço no mundo do treino.

Depois de quatro épocas na G-League, a liga de desenvolvimento da National Basketball Association, a ex-internacional portuguesa vai dar o salto para a NBA e integrar a equipa técnica dos Toronto Raptors, conjunto canadiano que atua na principal liga do basquetebol norte-americano.

Pronta para abraçar este novo desafio, Mery Andrade esteve à conversa com a FPB e explicou as principais diferenças entre a temporada da G-League e a da NBA.

“Na G-League a época é mais curta, são 50 jogos sem os playoffs, enquanto que na NBA são 82. Não é fácil treinar porque a frequência de jogos é enorme, daí ser muito importante que os atletas treinem durante o verão. Recebi o calendário da época e aquilo é jogar dia sim, dia não, dia sim, dia sim”, exclama.

A treinadora elabora: “Quando há mais tempo entre jogos, o foco tende a ser mais no trabalho individual, que a este nível acaba por ser quase mais importante, é fundamental que os jogadores se sintam bem e normalmente esse trabalho tem um efeito positivo nos atletas, aumenta-lhes a confiança”:

Figura ímpar do basquetebol português, sendo uma de apenas duas portuguesas a ter pisado os palcos da WNBA, Mery é um exemplo para várias jovens que se iniciam na modalidade. Quando questionada sobre se sente ser um exemplo inspirador, afirma: “Espero que sim, pelo menos nem que seja ao mostrar que é possível”.

“No início do meu percurso não tínhamos esses exemplos e depois a Becky Hammon apareceu e mostrou que as equipas podem apostar em nós mulheres, que com trabalho e dedicação, conseguimos chegar onde ambicionamos. Espero poder ser esse exemplo para as treinadores em Portugal”, atenta.

No que toca às dificuldades em entrar e afirmar-se num mundo onde a maioria dos treinadores são homens, Mery afirma: “Ao contrário do que as pessoas podem pensar, o maior desafio em entrar no mundo do basquetebol masculino enquanto mulher não são os jogadores. Eles percebem que nós podemos ter uma forma diferente de ver o jogo”.

“Os desafios normalmente existem na conversa e nas salas em que se discute basquetebol. Já estive em salas em que a minha voz era a única feminina e por vezes não se ouve, as pessoas estão tão habituadas a ouvir vozes masculinas que algo diferente por vezes não s e escuta com a mesma atenção. Mas a forma como tenho ultrapassado esses desafios é com base na preparação para qualquer sala e situação em que possa estar inserida”, assevera.

Com vários anos de experiência, tanto dentro como fora de campo, Andrade deixa alguns conselhos para as treinadoras que aspiram seguir os seus passos e atingir os mesmos patamares:

“Eu diria que este conselho se aplica ao mundo do treino, mas também a qualquer outra atividade, lúdica ou profissional. A dedicação, ética de trabalho e a preparação são coisas que nos permitem atingir os nossos objetivos. No nosso dia-a-dia estamos sempre à prova e relembro uma frase que dizia muito quando era jogadora: “Nós só temos uma oportunidade para deixar uma boa primeira impressão”. Se eu não estiver preparada, isso vai transparecer e o impacto não será o mesmo”.

Mery continua: “As oportunidades aparecem. Pode não ser quando ou como esperamos, mas aparecem, e nessas alturas eu não vou ter tempo de me preparar. Daí ser tão importante a dedicação, a ética de trabalho, para eu me sentir confortável em abraçar e desfrutar desses desafios que aparecem”, conclui.

Treinadores
3 SET 2023

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