Augusto Pinto: “Há um maior número de jovens a praticar a modalidade”

Presidente do Comité Nacional de BCR faz o balanço da época 2022/2023

Competições
28 JUN 2023

Augusto Pinto, presidente do Comité Nacional de BCR, debruçou-se, em entrevista à FPB, sobre o progresso da modalidade na temporada que agora finda. Na ótica do dirigente do órgão responsável pela gestão do Basquetebol em cadeira de rodas, a modalidade Paralímpica coletiva mais popular à escala mundial, é vital existir a estabilização de um modelo competitivo interno, promover a captação de atletas, louvando o maior número de jovens no universo de praticantes, e rumar à semi-profissionalização, ponto de partida essencial para que um dia a seleção portuguesa possa sonhar com a chegada à Divisão A.

1 – Que balanço faz do modelo competitivo adotado para a presente época?

Sabendo todos nós que é difícil encontrar um modelo ideal, porque muitas das vezes está refém da capacidade financeira para o executar, pensamos, no entanto, que o que prevaleceu nesta época é aquele que se afigura mais equilibrado em todos os seus vetores. Transpôs mais desenvolvimento para a modalidade, com o estabelecimento de diferentes graus competição. Gostaríamos de continuar a manter este modelo na próxima época, pois consideramos contraproducente todos os anos testar novos modelos competitivos. Temos que consolidar o atual, ainda que com possíveis pequenos ajustes.

2 – Constatam-se ainda resultados baixos no BCR, particularmente no segundo escalão, inclusive entre equipas já com muitos anos de competição. Que pechas subsistem no nosso BCR a combater?

Ao delinear e criar a Divisão de Honra pensámos em dois enfoques importantes. Primeiro, possibilitar que as equipas que iniciam a modalidade tenham um período inicial de desenvolvimento da estrutura competitiva, não só a nível de atletas, mas também de treinadores e dirigentes. Não obstante este primeiro objetivo, não quisemos deixar de lhes proporcionar um contacto inicial com a alta competição de BCR. Essa foi uma mais valia desta primeira fase de Pré-qualificação. Evidentemente, suscitou resultados mais desnivelados, mas, ao mesmo tempo, obrigou a pensar que o caminho a trilhar seria fazer mais captação a nível de atletas e restante estrutura de recursos humanos.

Em relação às equipas com mais tempo no BCR e que não atingem um bom grau de competição, porque entendemos que possa ser uma fase ultrapassável, desejamos sempre manter esse grau transitório em contraposição do cancelamento de atividade desportiva. Gostaria ainda de realçar que a filosofia inerente à competição no escalão principal (Liga BCR) terá que ser repensada por todos nós e evoluir a médio prazo para uma capacitação no mínimo semiprofissional, se queremos outros patamares de desenvolvimento da modalidade.

3 – Que aspetos positivos realça e o que ficou aquém das expectativas na época decorrida?

Verificou-se um evidente maior grau de visibilidade da modalidade, muito fruto do trabalho desenvolvido pelos clubes da Liga BCR, mas, mesmo no escalão inferior, houve uma evidente aposta da parte de alguns clubes de serem mais competitivos. Verificamos uma evolução na forma de encarar a competição e pensamos que isso também deriva da implementação do projeto Valorizar da FPB, pois pode parecer, à primeira vista, um pequeno grão na engrenagem, mas acaba por ser paulatinamente um fator de desenvolvimento.

Não se perdeu o enfoque na captação de novos atletas, em especial há um maior número de jovens a praticar a modalidade. Não podemos, no entanto, dar-nos por satisfeitos e ir mais além. Continua a existir um grande défice na captação de atletas do género feminino, percebemos quão difícil é integrar as mesmas em equipas masculinas, mas é um esforço que tem que ser feito, possivelmente temos que encontrar novas fórmulas de trabalho para ultrapassar esta situação.

Realçamos um dos aspetos que ficou aquém do programado para esta época: a evidente falta de capacidade de passar à divisão seguinte no ranking das seleções europeias [em alusão ao facto de Portugal não ter subido à divisão B em junho de 2022]. Esta situação levou-nos a encetar uma série de procedimentos capazes de alterar este rumo, pois entendemos que isso afetou de forma significativa os atletas que participaram no último europeu.

4 – Qual o porquê da aposta numa nova equipa técnica para a seleção nacional e quais os objetivos a curto/médio e longo prazo?

Na sequência natural das medidas que foram tomadas para alterar os condicionalismos frisados no ponto anterior. Esta contratação teria que recair numa equipa já com resultados devidamente comprovados e mais que isso, no nosso entender, fosse capaz de alterar este constante estado de espírito resignado, pois estamos certos que a nossa seleção tem qualidade técnica evidente para estar num patamar superior na Europa.

Para além da capacidade técnica, esta nova equipa teria que conseguir criar grande empatia com os atletas e uma nova linguagem capaz de motivar toda a equipa. Não podemos deixar de realçar o excelente trabalho que está a ser efetuado na seleção mais jovem – Sub23 -, que está já a trazer mais capacitação ao plantel da equipa principal. Estamos convencidos que esta seleção jovem estará em boas condições para participar no europeu do próximo ano se a prova se vier a concretizar, pois é importante projetar dinâmicas positivas.

Ao nível da seleção sénior, a curto prazo, o objetivo é a subida à divisão B e, a médio prazo, conseguir atingir o patamar principal da europa, Divisão A. Para concretizar este último objetivo, alguns paradigmas a que estamos habituados no BCR terão que ser alterados e um deles, senão o principal, é o caminho para uma cada vez maior e melhor competição nacional, que tenha reflexos no desenvolvimento da modalidade a todos os níveis, ou seja, uma via para uma postura mais profissionalizante de todos os vetores do BCR.

5 – Continua a haver um baixo número de praticantes de BCR. Na presente época, este número aumentou, desceu ou manteve-se? Que estratégias concretas pretende o CNBCR adotar para promover a maior captação de potenciais talentos?

Esta época houve mais captação de atletas no BCR. Se a consideramos suficiente? Não, mas, como disse atrás, ela tem repercussão mais positiva pela faixa etária onde foi conseguida e que levou a uma diminuição da média etária dos praticantes. Este vetor de captação é o que tem o nosso primeiro objetivo. Temos de encontrar novas formas de desenvolver a captação e consideramos aqui que um ponto primordial a atuação que deve ser efetuada no desporto escolar. No entanto, consideramos que a estratégia atual tem que ser redefinida, pois esse trabalho de captação deve ser efetuado de forma continuada e não por impulsos. Para isso, temos que contar com o apoio essencial do CPP – Comité Paralímpico Português – e a tutela do governo nas áreas desportivas e educacionais.

 

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28 JUN 2023

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