“Dá-me mais prazer ver o jogo agora do que quando era mais novo”
Aos 50 anos, Miguel Araújo cumpre a última época da sua carreira
13 ABR 2021
“É o prazer de jogar”, explica Miguel Araújo, jogador do Atlético CP, que cumpre a 42.ª temporada da sua carreira como jogador de basquetebol.
Depois de mais de quatro décadas dentro de campo, o extremo cumpre a última época e confessa que tem um sabor especial: “Neste momento da minha vida tenho o privilégio de estar a jogar de uma forma diferente. Com o mesmo gosto pelo basquetebol, mas com amigos e conhecidos que encontrei ao longo de várias gerações, e que estão todos nesta equipa do Atlético para ajudarmos o clube a subir para o lugar em que deve estar”.
Com 26 anos de ligação ao Atlético Clube de Portugal, o experiente atleta admite que nunca teve como objetivo testar a sua longevidade na modalidade: “Veio naturalmente, tanto que eu aos 38 anos deixei mesmo de jogar, parei meio ano, mas começaram a chatear-me para voltar a jogar e até fui para o Santa Clara durante quatro meses. Já estava parado há seis meses e surgiu um desafio do Luís Silva, que era do Benfica. Ele fez força para que eu ainda jogasse esses quatro meses, e a partir daí já não parei mais”, esclarece.
Para Hugo Sousa, técnico do clube lisboeta, o caso de Miguel é singular: “Tem uma paixão pelo jogo como poucos, é um autêntico cavalo de competição, e tem umas qualidades físicas completamente acima da média que lhe permitem, aos 50 anos, continuar a jogar basquetebol com uma intensidade difícil de encontrar muitos jovens”, clarifica.
Conhecido pela sua irreverência, Miguel Araújo, que cumpriu 50 anos no passado sábado, confessa que agora é um jogador diferente, mas que mantém certos princípios: “Dentro daquela irreverência toda que sempre tive e pelo qual sou conhecido, agora sou muito mais calmo. Dá-me prazer ver outras coisas, não só minhas, mas de outros colegas, coisas em que nem sequer reparava”.
Com uma carreira tão longa, o extremo tem vários momentos felizes, mas destaca alguns que foram especiais e que guarda com carinho: “A minha primeira ida à seleção marcou-me porque era bastante novo e fazer todo esse percurso foi bom para mim. Ganhar o campeonato em juvenis e juniores, naquela idade que se vive muito a vida de cabeça no ar, mas foram dos melhores momentos que passei na minha carreira”.
Entre todos os momentos positivos, Miguel Araújo deixa apenas um episódio que gostava que tivesse tido um desfecho diferente: “Eu quando tinha 18 anos tive uma possibilidade de ir para os Estados Unidos, na altura para a Universidade de Pace, só que o meu pai não me deixou, eu tinha 17 para 18 anos e o meu pai tinha que assinar a folha e não assinou. Se calhar isso porque me marcou imenso naquela altura”, mas mostra-se contente: “Podia ter tido mais alguma coisa, mas estou satisfeito”.
Quanto ao futuro, confirma que, apesar do gosto pela modalidade, não deverá regressar a nível oficial: “A nível oficial não, talvez numa equipa de veteranos”, explica.