Dia Internacional da Pessoa com Deficiência: os testemunhos de várias figuras do BCR nacional

Victor Sousa, Ricardo Vieira, Jorge Almeida e Hugo Maia avaliam o progresso do BCR nas últimas décadas

Competições
2 DEZ 2023

Para assinalar o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, marcado no calendário a 3 de Dezembro, a FPB ouviu algumas das referências do BCR nacional. A efeméride serve de pretexto para que Victor Sousa, Hugo Maia, Jorge Almeida e Ricardo Vieira discorram sobre a evolução da modalidade em Portugal e o acesso à prática desportiva das pessoas com deficiência.

Uma das mais reputadas figuras do dirigismo no desporto adaptado – na ANDDEMOT, FPDD, CNBCR e APD Sintra -, Victor Sousa aproveita o tempo de antena para vincar os dois pilares que devem constituir foco prioritário no desenvolvimento do BCR. “Apesar do muito feito, diria que está tudo por fazer no que respeita a: Formação de treinadores de BCR. Devia haver curso especifico para trenadores de BCR. É igualmente fundamental dotar as equipas de apoio financeiro, quer direto (da federação), quer através de patrocinios para a modalidade, que vive à custa da carolice dos dirigentes, dos técnicos, dos atletas e outros”. Do mesmo modo que identifica carências, o histórico impulsionador da modalidade reconhece avanços: “O BCR, nos dias de hoje, está muitos furos acima, quer no que respeita ao equipamento (cadeiras e ajudas), quer aos niveis de formação dos jogadores nas suas equipas, aos treinadores, às arbitragens”, salientou.

Alargando a discussão às possibilidades de prática da PCD (pessoa com deficiência), para um desporto mais plural e equitativo, há uma questão de fundo a resolver, na sua óptica. “Não é fácil o acesso à prática desportiva por parte dos jovens com deficiência, para que se desloquem para os treinos e jogos”, um alerta corroborado por Hugo Maia. “O acesso à prática desportiva das pessoas com deficiência existe, continua é com um encaminhamento pobre. A maioria, senão todos os pais de crianças com deficiência, têm muita dificuldade em colocar os seus filhos no desporto, ou porque os clubes treinam muito tarde, ou não asseguram transporte. As escolas, Centros de Reabilitação, Hospitais, Assistentes Sociais, profissionais de saúde, têm um papel preponderante em encaminhar estas pessoas para o desporto”, assinalou.

O capitão do GDD Alcoitão e da selecção nacional percute na importância de haver uma estratégia de captação estruturada e um maior contacto internacional. “Captação e formação de novos atletas passa pelas escolas, centros de reabilitação e até alguns hospitais, sinalização e acompanhamento destes potenciais novos atletas, estabelecer o primeiro contacto com a modalidade, assegurar transporte para os jogadores com condições económicas mais frágeis, tentar reservar um espaço de treino vocacionado para escalões jovens e iniciados e trabalhar fundamentos. Também é importante promover mais momentos de partilha entre clubes para crescermos juntos. Por outro lado, há que procurar mais financiamento privado e participar em torneios internacionais ou em competições da IWBF, na Euroliga, como participarão o BC Gaia e a APD Braga esta época”, sugere.

No que respeita à dimensão técnica do jogo, o veterano base não tem dúvidas quanto à melhoria do nível nacional: “Quando me iniciei, o BCR ainda era bastante rudimentar se o compararmos com o BCR actual em Portugal. Hoje, temos vários atletas e treinadores com muitas noções de exercícios de fundamentos, que são vitais para qualquer jogador que inicie a modalidade poder crescer”.  Ricardo Vieira comunga da opinião do atleta com quem priva na selecção nacional, na qualidade de treinador adjunto. “A evolução ao nível técnico e tático, o aumento significativo do número de atletas e a internacionalização de atletas portugueses, como nunca se viu, levam outros países a olharem com respeito para o nosso campeonato e para o talento do jogador português”, sinalizou.

O conceituado técnico da APD Braga, tal como Victor Sousa, adverte para a  necessidade de se apostar “na formação de treinadores com bases solidificadas nos fundamentos técnicos”, à qual se deve aliar, em prol do ganho do BCR, o investimento económico. “O semi profissionalismo ou profissionalismo é um sonho, mas possível com parcerias corretas o que permitirá o aumento significativo de treinos em quantidade e qualidade. O apoio aos clubes de BCR é fundamental e, com o retorno ao abrigo da lei de mecenato, urge que mais apoios surjam”, considera.

Quando questionado sobre os desafios da iniciação desportiva, para lá de reiterar as posições explanadas por Victor Sousa e Hugo Maia, traz à tona outra nuance. “O grande problema é não darmos oportunidade aos potenciais atletas com deficiência de poderem iniciar a prática em tenra idade, isto é, nas escolas, seja através do Desporto Escolar, seja através de um projeto como o britânico que tantos frutos tem dado a nível internacional, em termos de selecção, não pela liga forte que têm, mas pela formação e incentivo para voos europeus. É necessário incutir o desporto para pessoas com deficiência como um desporto competitivo”, algo também perfilhado por outro treinador da Liga BCR, Jorge Almeida.

O experiente técnico da APD Sintra advoga “a existência de escolas ou Centros de Formação de BCR, onde se formariam jogadores, que, quando tivessem as bases necessárias para a prática de BCR, seriam encaminhados para as equipas da área”. Jorge Almeida prossegue a sua exposição, demonstrando a premência de encetar tais iniciativas: “Com a nossa entrada no BCR internacional, a nossa visão mudou muito, mas não aquilo que penso que poderia ter mudado. Continuamos a queimar etapas na formação de jogadores, priviligiando, na maioria dos casos, a competição (mandando os jogadores novos aos lobos, por necessidade de pontuação ou falta de elementos), fazendo com que entrem na Faculdade antes de fazerem o primário e secundário, o que, posteriormente, se irá refletir na qualidade desses mesmos jogadores e no nível do BCR que temos”, explica.

Além de percorrer as chamadas de atenção relativamente à relevância da formação de treinadores, do contacto internacional das equipas e selecções nacionais, o ex-seleccionador nacional acrescenta outras preocupações. “Não temos grandes condições para dar aos atletas, sendo a falta de transporte para os treinos a mais importante, visto que a maioria não tem viatura própria. Somam-se a falta de material adequado para a prática do BCR, as finanças dos clubes e a falta de formação de dirigentes”, elencou.

 

O Dia Internacional da Pessoa com Deficiência foi instituído pelas Nações Unidas, em 1992, decretando a sua comemoração a 3 de Dezembro, e visa a consciencialização da sociedade para a igualdade de oportunidades de todos os cidadãos, a celebração das conquistas da pessoa com deficiência e estimular o debate da inclusão nos programas e políticas públicas.

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Nota: fotografia da autoria de Miguel Fonseca – @mfportefolio.

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