História do BCR: a perspetiva internacional

Do paradigma terapêutico à conversão na modalidade paralímpica mais profissionalizada

Competições
12 SET 2022

Desvendamos, de forma sucinta, a história do BCR à escala global, cujo começo se situa na década de 40, nos Estados Unidos. É comum ancorar-se erradamente os primórdios do Basquetebol em cadeira de rodas (BCR), no Hospital de Stoke Mandeville, em Aylesbury, Inglaterra, muito por culpa de aí se ter erigido o primeiro programa de desporto destinado a pessoas com lesões vertebro-medulares, até então condenados a perecer em escassas semanas ou meses. O obreiro? Sir Ludwig Guttmann, neurocirurgião alemão, judeu, emigrante à força devido à política antissemita advogada pelo nazismo. Introduziu junto dos pacientes a prática do lançamento de dardos, do Punch-Ball (semelhante ao Basebol) e do Skittles (variante do Bowling), apostando posteriormente no Tiro com Arco e no Pólo em cadeira de rodas que, devido à sua rispidez, é substituído pelo Netball, semelhante ao Basquetebol, mas onde não se permite o drible e os cestos não têm rede, nem tabela.

Apesar de haver registo que o BCR, como o conhecemos hoje, foi jogado nos Jogos de Stoke Mandeville em 1956, traça-se a origem da modalidade em Novembro de 1946, na Califórnia, mais concretamente no Birmingham Veterans Administration Hospital, palco de um encontro entre os pacientes com lesão medular e os médicos do estabelecimento. Um mês mais tarde, a equipa dos feridos de guerra do Cushing Veterans Hospital, de Massachussets, “enfrenta” os Boston Celtics.

A popularidade do desporto escalou rapidamente, por isso não constitui surpresa a sua inclusão nos primeiros Jogos Paralímpicos, em Roma, no ano de 1960, ao lado de outras 8 modalidades. Os atletas competiam em 2 classes: A – destinada aos jogadores com lesões medulares ou paralisia completas; B – incluía os jogadores com lesões incompletas ou paralisados devido à poliomielite. A hegemonia norte-americana nesta e na seguinte edição, ambas disputadas ao ar livre, explicava-se não apenas pelo talento, mas também pela ligeireza e ergonomia das cadeiras de competição dos jogadores dos EUA.

Em 1966, um novo sistema de classificação dos atletas é adoptado e prevê o fim das divisões em função do carácter completo ou incompleto da lesão medular. Contemplava três classes, 1, 2 e 3, sendo tanto mais grave a lesão do atleta quanto menor o número, e definia que o total de jogadores em campo não podia exceder os 12 pontos, valor encurtado para 11 em 1972, de modo a fomentar a participação de atletas da classe 1.

Os Jogos de 1968, realizados em Israel, país que capitalizou o fator casa com a conquista do ouro, abrem as portas à competição feminina, ganha igualmente pela nação anfitriã. Foram os primeiros jogos disputados em pavilhão, e não ao ar livre. Em 1973, decorre o primeiro campeonato do mundo masculino, em Bruges, Bélgica, que coroa a Grã-Bretanha como vencedora. Em 1982, assiste-se a um marco crucial, uma vez que o International Stoke Mandeville Games Federation (ISMGF) Council aprova a petição para a inclusão de outro tipo de deficiências motoras no BCR, que não medulares.

Tal facto acarreta repercussões na classificação funcional que vão desembocar no atual sistema de 4 classes, com pontos intermédios (1.0; 1.5; 2.0; 2.5; 3.0; 3.5; 4.0; 4.5), e que permite, no presente, em jogos de seleções um total de 14 pontos entre os 5 atletas e, em competições nacionais, um total de 14,5. Finalmente, em 1989, Sir Philip Craven, atual presidente do IPC – International Paralympic Committee – (Comité Paraolímpico Internacional), contribui sobremaneira para a criação da IWBF – International Wheelchair Basketball Federation – (Federação Internacional de BCR). No ano seguinte, 1990, toma lugar o primeiro campeonato do mundo feminino, em Saint-Étienne, França, vencido pelos EUA.

Hoje, o BCR é uma das modalidades mais espetaculares da cena Paralímpica, atraindo fãs de todos os cantos do globo, e ruma, cada vez mais, à profissionalização massificada em vários países, como Espanha, Itália, Alemanha, França e Turquia.

 

 

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