Entrevista a Carlos Lisboa (Parte III): «Foi uma honra defrontar Magic Johnson»

Numa carreira recheada de êxitos as memórias são incontáveis. Nesta última parte da entrevista Lisboa recorda alguns dos grandes momentos por que passou, como os 45 pontos que marcou ao Partizan, na Luz, ou os encontros em que defrontou Magic Johnson e Dominique Wilkins.

Atletas | Competições
25 NOV 2010

Mas nem tudo foram rosas. Se pudesse apagava a derrota frente ao FC Porto no jogo da sua despedida…

Quem foi o melhor adversário que defrontou? Foi uma honra jogar contra o Magic Johnson. Aconteceu no Porto, no Pavilhão Rosa Mota, uma Selecção portuguesa jogou contra a equipa dele. Nas primeiras jogadas defendemo-nos mutuamente e eu estava num naqueles dias… Ao fim da terceira bola, eu tinha já marcado dois ou três triplos e ele pediu ao treinador para trocar. Joguei também contra um dos grandes nomes do basquete mundial, que foi o Dominique Wilkins, do Panathinaikos, mas já o tinha defrontado quando ele ainda estava na Universidade de Geórgia, quando lá fui com a Selecção. Aliás, nesse encontro aconteceu uma coisa engraçada: antes do jogo o treinador distribuiu as marcações, mas nem nós os conhecíamos, nem eles nos conheciam a nós. O nosso base era o José Luís Almeida, os extremos eram eu e o Rui Pinheiro, depois tínhamos o Eustácio Dias e o Artur Leiria. Eu estava a com o Pinheiro a ver quem eram os extremos e chegámos à conclusão que eram os números 21 e 42. O 42 era um rapaz negro muito forte, com uns dois metros, e o 21 era muito fininho. O Rui disse-me que se encarregava do 21 e que eu ficava com a “torre”. A primeira bola do jogo foi para fora, houve lançamento lateral e quem foi pôr a bola em jogo foi o jogador que eu estava a defender. Levantei os braços, de repente vejo a bola a avançar, virei-me e vejo um jogador, o 21, a voar, a passar com a bola perto da cara do Rui Pinheiro e a afundar… O Rui depois disse-me, “oh Carlos na próxima jogada trocas” e eu respondi “não, não, agora ficas com ele até ao fim…” Foi um festival até ao final vimos o Rui Pinheiro, todo despenteado, a ver o Dominique voar… Fartámo-nos de rir com isso. Depois apanhei-o aqui, quando jogámos contra o Panathinaikos, que ganhámos, num jogo em que eu e o Jean Jacques fizemos aquela jogada em contra-ataque, em que o Jean terminou com aquele afundanço por cima da cabeça dele… Falei com ele durante um lance-livre e ele lembrava-se de ter jogado contra Portugal nos EUA.Qual foi o seu melhor jogo? Os melhores foram os que ganhei. Mas o jogo com o Partizan marcou-me, ainda há dias estive a ver com os meus filhos e de cada vez que revejo a cassete quase que choro. Tenho uma vontade de jogar… Tínhamos ido lá na semana anterior e empatámos 71-71, mas em casa o jogo correu-me muito bem. Houve outros, por exemplo, contra o Panathinaikos, aqui na Luz, quando me lesionei numa fase em que estava a jogar bem; contra o Macabi… Jogos em Portugal contra o FC Porto, contra a Ovarense. Mas o que fica na memória das pessoas é aquele com o Partizan… … Porque marquei 45 pontos, porque fiz 10 em 15 em lançamentos de 3 pontos, porque significou o apuramento, mais uma vez para a Euroliga. Por tudo isto pode dizer-se que foi o jogo memorável.Em que aspecto do se considerava menos forte? Muita gente dizia que eu não defendia, na minha opinião isso é mentira e posso prová-lo. Eu não era aquele jogador que mostrava perante a plateia a posição defensiva, era um jogador que, não sendo muito agressivo em termos defensivos, sabia como roubar bolas, como marcar quando o queria fazer. Lembro-me de algumas pessoas dizerem que quando eu era “picado” fazia aquilo que queria em termos defensivos, ganhava ressaltos e isso também é defender. Mas se quiserem considerar que o meu ponto menos forte seria a defesa, eu aceito que sim. Se pudesse voltar atrás, faria algo de diferente na sua carreira? (Pausa) Não! A única coisa que eu podia fazer diferente era tentar não perder e terminar com uma vitória. Custou-me tanto perder com o FC Porto o último jogo da minha carreira… Se pudesse mudar alguma coisa mudaria isso, não só porque perdi, mas também porque foi o meu último jogo.

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25 NOV 2010

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