Eugénio Rodrigues: «Há enorme vontade de melhorar»

Recém-promovido ao escalão principal, o Académico dá passos pequenos mas firmes na Liga Feminina.

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11 NOV 2010

A equipa, que é treinada pelo seleccionador nacional de sub-20, Eugénio Rodrigues, tem objectivos para a época bem definidos, conforme nos conta o técnico nesta entrevista. A permanência é a principal meta a atingir, mas o sonho do playoff não deixa de estar bem presente no espírito do treinador e das suas jogadoras…

Em ano de regresso à Liga, como se tem comportado o Académico neste início de temporada? O Académico está a comportar-se da forma que havíamos previsto. Tínhamos a consciência exacta de onde nos posicionávamos neste arranque do campeonato, tornámos isso mesmo bem claro dentro do grupo, pelo que nesta altura há apenas a enorme vontade de melhorar a equipa em todos os capítulos do jogo. A recepção tardia das jogadoras estrangeiras, o período normal para a adaptação das jovens jogadoras portuguesas aos níveis competitivos desta competição e a adaptação de todas às novas exigências de um trabalho adequado à Liga Feminina, bem distinto da 1ª divisão, onde competiram durante algumas épocas, torna este arranque complicado. Mas reitero a ideia de que estamos onde achamos que iríamos estar.O Académico está com um saldo de duas vitórias em cinco jogos, triunfos esses obtidos frente a equipas do dito vosso campeonato. Os oito primeiros é uma meta atingível? Sim, sob um prisma exclusivamente objectivo, diria que conseguimos obter duas das vitórias que se afiguravam como importantes para atingir um dos dois objectivos para a nossa época, que é a permanência na Liga Feminina. Qualquer equipa que sobe de divisão deverá ter como objectivo realista a permanência na mesma divisão onde compete e só depois deverá visar algo mais, em função do desenrolar do campeonato. Para sermos classificados dentro dos oito primeiros do campeonato, teremos no entanto de ir buscar mais vitórias, mesmo com adversários que eventualmente estejam teoricamente num plano superior ao nosso. É para isso que trabalhamos todos os dias e jamais entraremos para um jogo derrotados.Depois, num plano mais subjectivo, e para sermos justos, apenas estivemos francamente abaixo das expectativas no nosso primeiro jogo, face ao Torres Novas. Em todos os outros fomos competitivos, perdendo ou ganhando. Esse é o primeiro passo a dar. Depois, e ao sermos competitivos em todos os jogos, quiçá poderemos causar as ditas surpresas que nos levem para além da permanência, ou seja, ao playoff.Quais as grandes mudanças que sentiu nas suas atletas quando começaram a competir na Liga? Sob o ponto de vista extrínseco, os adversários trazem uma maior rapidez ao jogo, uma intensidade mais forte e uma eficácia ofensiva bastante superior, pelo que isto obrigou as minhas atletas a melhorar desde logo nestes campos. Se querem estar ao nível do jogo têm de ser pelo menos mais rápidas, durante mais tempo e serem mais eficazes na gestão das posses de bola.Depois, e num plano intrínseco, o trabalho do dia a dia trouxe-lhes coisas inteiramente novas, tais como alguma metodologia de treino diferente e uma maior riqueza táctica sob o ponto de vista ofensivo. Ou seja, é dizer que no treino já têm de treinar de forma distinta, ainda mais concentradas e desde o segundo zero. Por outro lado, o jogar em “transição” ou “chegar a jogar”, provocado pela tal necessidade de maior rapidez, abre também perspectivas muito diferentes na abordagem ao jogo. Uma menor memorização e uma maior leitura, fazendo constantemente maior apelo aos conceitos e menos aos “set-plays”. Finalmente, a maioria das minhas jovens atletas jogam pela primeira vez com jogadoras interiores decisivas e preponderantes para o sucesso. Para elas, jogar hoje já não é só resolver o jogo com lançamentos na passada ou tiros triplos mas implica jogar com novas referências, como o são as jogadoras interiores. E isto faz toda a diferença, tanta como jogar com ou sem linha dos 6,75.A equipa tem vindo a melhorar, jogo após jogo, as suas prestações defensivas. Terá de ser essa a aposta para poderem ter mais sucesso e hipóteses de se baterem com as equipas mais fortes? Sem dúvida! Na minha perspectiva, correcta ou não para os demais, o trabalho de uma equipa constrói-se a partir da defesa e sem isso não vejo como seja possível obter sucesso, pelo menos, de uma forma regular. O Académico não será excepção a esta filosofia. Presentemente, estamos melhor no plano defensivo do que no ofensivo e tal deve-se, para além do supra referido, também ao facto de não termos mudado assim tanto nos conceitos defensivos, da época passada para esta. O que fazíamos era já algo muito aproximado do que eu defendo para uma equipa, estivesse ela a competir na 1ª divisão ou na Liga Feminina, fosse ela uma equipa cadete, júnior ou sénior. As filosofias não se mudam consoante este factores, antes adaptam-se, corrigem-se e aperfeiçoam-se.O único senão que tivemos na continuidade desta filosofia foi a sua implementação às novas jogadoras, mormente às estrangeiras e de uma ou outra portuguesa que integraram o grupo. Isto obrigou-nos a dar alguns passos atrás, levou-nos a voltar a cometer erros que não cometíamos e a correr riscos que já não corríamos, na convicção porém de que iremos obter, mais além, os ganhos por o estarmos a fazer agora.Considera que a equipa dará um salto competitivo quando as atletas portuguesas contribuírem mais em termos ofensivos, de modo a não existir uma dependência tão grande das duas estrangeiras? A equipa só terá o sucesso que pretende alcançar se conseguir libertar-se dessa dependência que aborda. Por muita competência que tenham as jogadoras estrangeiras, a permanência ou o playoff só serão alcançáveis se as restantes jogadoras contribuírem para o sucesso ofensivo da equipa. Creio que este será o aspecto onde iremos apresentar maiores melhoras percentualmente, pois o estágio delas actualmente é tão “cru”, diria mesmo tão “ingénuo”, que só temos a melhorar. Basicamente, há que melhorar nos “turnovers” não provocados, na eficácia do tiro exterior e em algo que não é quantificável estatisticamente, ou seja, na qualidade do passe, vulgo assistência, e na leitura das vantagens criadas com um movimento ou um 1×1.Mas não poderia terminar a resposta a esta pergunta sem dizer que também as jogadoras estrangeiras têm muito a melhorar neste capítulo, pois ao notar que as suas evoluções têm sido bastante assinaláveis, concluo por isso que volvidas algumas semanas, poderão vir a estar num plano bem superior.Que leitura faz deste campeonato? Está mais competitivo? Tem mais candidatos? Está com mais qualidade? Bom, creio que é ainda muito cedo para tirar grandes conclusões, pois constato sobretudo um campeonato com equipas, e pelas razões mais variadas, em estágios diferentes de desenvolvimento. Por exemplo, sinto que o Académico e o Olivais vivem no presente uma autêntica “pré-época”, onde claramente se precisa de tempo, e outras equipas como o CAB onde se sente uma máquina já bastante afinada.Ainda assim, acho que o campeonato está globalmente mais nivelado e por cima. Não obstante se ter tornado um campeonato mais “jovem”, fruto da necessidade de recorrer a jogadoras sub-18 e sub-20, não perdeu qualidade e ganhou inclusivamente alguma emoção. Não tenho dados globais mas penso até que a nível etário da maioria das jogadoras estrangeiras será mais baixo. Não queria ser indelicado ou mal interpretado pelos meus congéneres ao indicar favoritos ao título, mas julgo que serão seguramente mais do que aqueles que têm vindo a sê-lo nas últimas épocas. Os resultados dos jogos até agora disputados são prova disso mesmo e ninguém no seu perfeito juízo poderia avançar desde já uma classificação final para a Liga Feminina.Jogos da 6ª jornada da Liga Feminina:Sábado, dia 13 de Novembro15.30 horas – Olivais x GDESSA17.00 horas – União Micaelense x CDTN-OAB18.00 horas – Boa Viagem x Quinta dos Lombos18.00 horas – CAB x AcadémicoDomingo, dia 14 de Novembro16.00 horas – Vagos x Algés

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11 NOV 2010

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