Federação Portuguesa de Basquetebol
Ao longo de mais de duas décadas à frente da FPB, Mário Saldanha teve apoiantes mas também teve de lidar com vozes discordantes.
7 NOV 2014
Nesta última parte da entrevista, presidente cessante faz o retrato do atual momento das seleções nacionais e é com imenso orgulho que se refere às Festas do Basquetebol…
Nos últimos tempos tem havido, a par de frequentes notícias negativas publicadas nos órgãos de comunicação social, a manifestação de diversas opiniões que caracterizam o atual momento do basquetebol português como sendo de retrocesso. Concorda com esta avaliação? Existem indicadores de sinal contrário? Quais são?
Não podia estar mais em desacordo. Realmente têm havido muitas manifestações nesse sentido, mas julgo haver algum sensacionalismo por parte da com. Social . A famigerada crise, trouxe a todos os sectores da sociedade um caro retrocesso. Naturalmente não somos alheios a esses condicionalismos. Mas a família do basquetebol tem atenuado algumas perdas financeiras, através de perseverança e trabalho árduo. Os últimos três anos têm sido muito difícil para todos. Basta ver que nos últimos anos foram nos retirados cerca de 2 milhões de euros em apoios estatais. Muito destes cortes foram feitos com a maioria da despesa já efectuada o que torna a gestão financeira da FPB um grande desafio. Basta ver que quando planeamos e executamos muitas das actividades, ainda não sabemos com que apoio contamos da tutela.
Apesar de todos estes constrangimentos alguns factos indiciam que, não só a modalidade não está em retrocesso, como está num grande processo de evolução:
A nível das selecções nacionais masculinas devemos reter que nos últimos 6 anos, fomos as duas fases finais do Eurobasket, e que as nossas selecções jovens melhoram na sua grande maioria os resultados de ano para ano.
No sector feminino, onde temos notado um grande crescimento. Basta ver os sucessos alcançados pelas Sub-18 no ano passado e neste ano com um 9º lugar no campeonato da Europa Divisão A bem como a excelente realização do Europeu de Sub-18 Femininos em Matosinhos, este verão onde conseguimos ter 4000 pessoas assistirem a jogos de Sub-18, à semelhança do sucedido no ano passado com o Europeu das Sub-16.
Também a promoção das Sub-20 à Divisão A veio dar um lugar de destaque a Portugal. Somos um dos apenas 8 países que têm todas as selcções de formação feminina na Divisão A
Fizemos uma revisão nos quadros competitivos que julgamos serem fundamentais para a manutenção de campeonatos competitivos com custos mais adequados à realidade financeira dos clubes.
O Minibasquete demostra uma enorme vitalidade. A criação do Comité Nacional de Minibasquete veio trazer maior capacidade de organização,
O lançamento do live-stream também foi fundamental para colmatar algumas necessidade de maior exposição da modalidade. Não nos podemos esquecer que em muitos jogos temos um nível de audiência maior do que alguns novos canais considerados generalistas. Agora cabe aos clubes capitalizar este veículo de promoção. Também na área da comunicação, tivemos um avanço bastante grade com o lançamento do novo portal, que nos vai aproximar ainda mais dos amantes do basquetebol. Deixo também a Loja do Basquetebol quase terminada, faltando apenas ao próximo Presidente fechar o contrato com o parceiro encontrado.
Enfim se isto é retrocesso……
Não o entristece que algumas dessas vozes discordantes sejam pessoas em quem a Federação apostou e confiou no sentido de ajudarem a fazer evoluir o basquetebol nacional?
Entristece-me principalmente que algumas pessoas em quem eu pessoalmente apostei apenas terem feito parte da solução enquanto havia um vencimento ao fim do mês. Julgo que o que motiva essas pessoas é um sentimento de frustração muito grande pela irrelevância a que elas próprias se votaram. No entanto, a FPB está sempre disponível para as receber e para as ajudar a fazerem parte da solução. Existem várias formas de contribuir para a modalidade mas esses contributos não podem depender única e exclusivamente de uma retribuição financeira.
A Festa do Basquetebol é um dos eventos emblemáticos promovidos pela FPB. Que balanço faz após oito edições, 5 em Portimão e as últimas 3 em Albufeira? Qual o ponto da situação em relação à sua continuidade?
É um momento em que conseguimos juntar as seleções distritais de raparigas e rapazes dos escalões de Sub 14 e Sub 16 de todo o país. Para além do encontro entre atletas e a possibilidade de competirem e observarem os melhores nas sua suas categorias, é igualmente a montra do trabalho que é realizado em cada associação ao longo do ano. Festa de grande convívio entre todas as famílias e é exatamente essa gente que faz com que se fale na família do basquetebol. Deixo a continuidade garantida, em Albufeira, já para 2015.
Outro dos projetos estruturantes da FPB é o novo "Projeto 3×3 nas Escolas". Em que ponto está? Que perspetivas futuras?
Este projeto sofreu um grande revés. A perda inesperada do patrocinador levou-nos a ter de o repensar. Demos um passo atrás para podermos, no próximo ano, dar dois em frente. Naturalmente que dar os dois passos em frente será muito difícil, dada a excelência a que todos estávamos habituados. Não nos podemos esquecer que este projeto foi premiado pelo Comité Olímpico Internacional.
Neste momento temos o FPB 3×3 nas Escolas, que estamos a desenvolver em conjunto com o Desporto Escolar, onde já temos cerca de 500 escolas envolvidas.
O próximo passo será encontrar um novo patrocinador.
Ao mesmo tempo que a atividade internacional dos clubes portugueses ter vindo a diminuir, até à inexistência ao nível das competições oficiais, a FPB continua a gozar dum assinalável prestígio junto da FIBA e da FIBA Europa e NBA. A que se deve esta aparente contradição?
Em primeiro lugar, à capacidade de trabalho da família do basquetebol que se envolve de corpo e alma nesta organização. Naturalmente que é fundamental que a FPB supervisione e coordene todas estas organizações mas a participação e entrega dos voluntários é fundamental.
Em segundo lugar ao respeito que os dirigentes da FPB gozam junto da FIBA e NBA. Antes de acreditarem nos projetos, estas instituições acreditam nas pessoas e na sua capacidade para executarem o proposto.
Alguém na FIBA acreditaria que num Europeu de Sub-18 Feminino Divisão A estariam 4000 pessoas a assistir a um jogo?
Alguém imaginaria que teríamos o NBA BWB em Portugal e que teríamos 4 atletas entre os melhores 50 da Europa?
Este ano tivemos o Europeu Divisão A Sub-18 Feminino e a fasquia estava bastante elevada. Só temos que reforçar as apostas que fazem em nós. Está aqui a prova de que o que fazemos, fazemos bem.
Que mensagem gostaria de deixar à "família do basquetebol"?
(Esta resposta encontra-se numa carta, escrita à mão, que pode ler em anexo)
Curiosidades:
Ao longo de tantos como Presidente naturalmente cruzou-se com pessoas que o marcaram e das quais tem boas memórias. O nome de Manuel Fernandes surge à cabeça de uma lista de personalidades que se relacionaram com Mário Saldanha enquanto líder da FPB. Embora reconhecendo que nem sempre tiveram uma relação perfeita, Saldanha descreve-o como sendo alguém de uma honestidade impecável, companheiro, incapaz de trair com quem trabalha. Muito do sucesso que teve na passagem pela FPB, Mário Saldanha reconhece que se ficou a dever ao apoio incondicional prestado por Manuel Fernandes.
Augusto Baganha, primeiro como jogador e mais tarde em funções administrativas do estado, é outra das personalidades que o ainda Presidente considera ter sido sempre importante para a modalidade.
Faz questão de fazer uma referencia a Miranda Calha, pela preciosa ajuda na organização do mundial de juniores, sendo que na altura era Secretário de Estado do Desporto. Ao Dr. Vasco Lince, com quem teve igualmente uma excelente relação, inicialmente no Comité Olímpico como Presidente, bem como enquanto Diretor Geral dos Desportos e mais tarde como Secretário de Estado
A relação de 20 anos com Vicente Moura no Comité Olímpico, onde cumpriu 5 mandatos, foi sempre especial. Bem como a sua passagem por este organismo, já que mesmo não sendo diretamente ligada com a modalidade do basquetebol agradou de sobremaneira a Mário Saldanha.
Os lugares que ocupou no Conselho Superior do Desporto e no Conselho Contra a Violência do Desporto, primeiro por inerência e depois mais tarde a convite do Secretário de Estado de então, faz com que Saldanha sinta orgulho por ter feito parte de um tão prestigiados organismos