Gustavo Costa apita máxima prova europeia de clubes de BCR
Árbitro de 49 anos designado para a Champions Cup, que decorre de 6 a 8 de Maio
Competições
21 ABR 2022
Após múltiplas finais internacionais e internas, Gustavo Costa alcança novamente o patamar mais ilustre do BCR europeu de clubes, a Champions Cup. Na maior “montra” do BCR continental, vão competir, em Erfurt, Alemanha, casa dos RSB Thuringia Bulls, oito equipas – incluindo o anfitrião – de 6 a 8 de Maio.
No currículo do experiente juiz, com vinte anos de BCR na bagagem, ressaltam as nomeações para mais de uma dúzia de Final-8 de provas internacionais de clubes, dois campeonatos da Europa femininos – divisão A – ou o Europeu C masculino de 2017, cuja final entre República Checa e Bélgica esteve a seu cargo. Entre as fases derradeiras das agora designadas Euroligas (existem três – 3, 2 e 1 -, que precedem hierarquicamente a Champions Cup), são de realçar a escolha para dirigir a final da Challenge Cup (atual Euroliga 3), em 2013, em Badajoz, de boa memória para os compatriotas Hugo Lourenço (4.0) e Marco Gonçalves (1.5), então peças da equipa vencedora, Mideba Extremadura, e primeiros atletas lusos a triunfarem num torneio europeu; bem como da final da Taça Willi Brinkmann (corrente Euroliga 2), em 2016, igualmente na cidade fronteiriça.
1 – Após uma ausência forçada na arbitragem, regressas e atinges este ponto alto de carreira. Como recebeste a notícia?
Tenho que reconhecer que foi com alguma surpresa. Não posso esquecer que o meu último jogo internacional foi a final do Europeu de Brno (Verão de 2017) e que depois disso fui submetido a 3 cirurgias (março/2018; janeiro/2019 e agosto/2020). Para além disso, temos que recordar tudo o que se relacionou com o Covid (paragem quase total das provas europeias entre o início de 2018 e o final de 2021). Por isso, na presente época, não estava à espera de regressar diretamente para uma competição de topo. Pensava que seria possível ser nomeado para uma das F8, mas não para a F8 da Champions Cup.
2 – De que forma te irás preparar para apitar um evento desta magnitude, a mais importante prova de clubes a nível europeu – e arrisco dizer – mundial?
Vai ter que ser uma preparação realizada com muito cuidado. Não posso esquecer que estive três anos parado devido às cirurgias, algumas delas com recuperações bastante complicadas e que isso provocou algumas alterações profundas no meu corpo. Desde então, assim que forço um pouco no treino, surgem sucessivas pequenas lesões. Por isso, a prioridade tem incidido em trabalho de reforço muscular e cardiovascular, mas sempre muito ligeiro e com muito cuidado. Quanto à componente técnica, vou tentar fazer o maior número de jogos possíveis de BCR, mas, infelizmente, nas semanas que antecedem a F8, não há muitos jogos de BCR em Portugal. Assim resta-me o trabalho teórico com as regras e ver o maior número possível de jogos com as equipas que vão estar na F8.
3 – És o único português nomeado para as provas europeias de BCR. Vês potencial para termos mais árbitros nacionais a apitar na elite europeia e mundial?
Infelizmente, nos últimos vinte anos, os outros portugueses que foram aprovados no exame de árbitro internacional da IWBF (Nuno Carocha, Rui Ribeiro, Ricardo Vieira e José Cardoso) acabaram por abandonar por motivos diversos, o que me torna no único português no ativo. Considero muito importante a existência de, pelo menos, um árbitro internacional português, como forma de garantir a transmissão da informação e do conhecimento que a IWBF proporciona. Aliás, esse tem sido o principal motivo que me faz lutar para manter a licença internacional. Quanto ao futuro, penso que o mesmo pode ser sorridente. Na minha opinião, há pelo menos três árbitros com capacidade de passar no exame de árbitro internacional a curto prazo, aliás, tenho esperança de que isso seja possível na presente época, pelo menos para alguns deles. Poderia retirar-me com uma sensação de dever cumprido acrescida.
4 – A arbitragem portuguesa atravessa um momento de profunda renovação. Como avalias o trabalho realizado nos últimos anos? E o que é preciso ser feito para se continuar num trajeto de evolução?
Sem dúvida nenhuma que a arbitragem “BCR” portuguesa está a atravessar uma profunda renovação. Uma geração está a terminar, dos quais destaco, pela sua importância, o João Silva e o José Almeida que já abandonaram, o Fernando Resende e o Alexandre Oliveira que ainda continuam no ativo e que espero que continuem por mais algumas épocas, garantindo o crescimento sustentado da nova geração. Por outro lado, nos últimos três a quatro anos, foram recrutados entre trinta a quarenta novos árbitros, através da realização de dois cursos de conversão ao BCR. Mas ninguém pense que o curso de conversão é uma solução mágica que transforma alguém num árbitro de BCR. São necessários, no mínimo, três a cinco anos de trabalho constante após o curso de conversão, até que se alcance um nível razoável de conhecimento do jogo.
Neste contexto, devo reconhecer ao atual Conselho de Arbitragem da FPB um papel muito importante nessa renovação, desde logo, porque atribuiu uma importância à arbitragem de BCR que ainda não tinha sido reconhecida até agora. É óbvio que não há trabalhos perfeitos e que existem sempre dores de crescimento, mas o presente é muito mais risonho do que era há alguns anos atrás. Hoje existe uma boa base de trabalho que pode garantir um futuro positivo, para tal, considero essencial que no próximo CA se garantam três elementos essenciais:
– que se continue a reconhecer à arbitragem no BCR a devida importância;
– que continue a existir um membro especializado em BCR, à imagem do que se passou com o José Cardoso no atual CA;
– que na competição de topo se altere para três árbitros por jogo.
5 – O que torna o BCR uma vertente do jogo tão difícil e especial de apitar?
É algo inerente às próprias características desta vertente do basquetebol. Eu diria mesmo que resulta da própria essência do BCR. Existem imensas situações táticas em que os jogadores estão espalhados pelo campo todo, com potenciais pares de jogadores em todas as zonas do campo e com tentativas contínuas de bloqueios e de cruzamentos entre as cadeiras. O jogo fica tão espalhado que é extremamente difícil conseguir vigiar todos os jogadores.
E quando o jogo é arbitrado por apenas dois árbitros, como acontece na esmagadora maioria dos jogos em Portugal, torna-se quase impossível garantir uma adequada cobertura. Na vertente do basquetebol a pé, é muito raro ter jogadas com uma dispersão de jogadores deste tipo. Por fim, importa salientar que o nível de contacto num jogo de BCR de topo é elevadíssimo (certamente, ainda maior do que na vertente do basquetebol a pé), sendo essencial o posicionamento dos árbitros para garantir uma correta seleção dos contactos que devem ser sancionados; em especial, as transições (quando as cadeiras se cruzam) são extremamente complexas de analisar. Apenas uma pequena parte destes contactos são faltosos.
Nota: fotografia da autoria de Miguel Fonseca – @mfportefolio