João Freitas: “Os estrangeiros são uma falsa questão”

Saiba o que o treinador do CAB pensa sobre o basquetebol português, a Selecção Nacional, a forma como a crise económica afectou a modalidade e até quem considera serem os principais candidatos à conquista do título esta época.

Treinadores
23 SET 2009

A não perder, nos detalhes desta notícia.

Quais as expectativas para a nova temporada? As minhas são as mais altas. As de quem decide e põe os meios à disposição para a formação e gestão do plantel tem de lhe fazer essa mesma pergunta. Todos os treinadores querem ser campeões. Quantos presidentes e direcções o querem ser? E quantos têm opções para o tentarem ser? O panorama da competição parece-me, contudo, que em pouco se vai alterar. As dificuldades das equipas em arranjarem e desenvolverem projectos credíveis vai ser uma realidade. Penso que assistiremos em muitas equipas (mais uma vez) a uma cultura de quase sobrevivência. Considera já ter o plantel encerrado ou ainda equaciona proceder a algumas modificações? O plantel está encerrado. As modificações (a haver ) serão apenas por motivos de força maior, como lesões ou faltas graves de empenhamento e comportamento.Os efeitos da crise económica tornaram mais complicada a missão de construir o plantel? A crise não pode servir como desculpa para se fazer menos. Em tempos de crise é que se vêem as lideranças fortes e competentes. Na ausência destas então a crise far-se-á notar ainda mais. Mas penso que a crise em que nos encontramos é muito mais grave do que a crise económica geral.Todos os anos é obrigado a reformular o grupo de trabalho. Não é inglório trabalhar e muitas vezes recuperar atletas que depois são aproveitados pelos clubes com melhores condições? A glória dos treinadores dos clubes de menor dimensão é contribuir para a valorização das suas equipas e dos seus jogadores. Porque títulos é cada vez mais difícil. Se neste processo os jogadores se valorizam, então temos parte da nossa missão cumprida.O Campeonato sofreu uma alteração, com o fim das jornadas cruzadas. Pensa que agora irá existir maior competitividade, ou o facto d e as equipas jogarem com adversários teoricamente mais fáceis acabava por ajudar a que alguns jogadores menos conhecidos ganhassem protagonismo? Os grandes sempre vão ser maiores do que os outros que não o são. Quanto ao protagonismo de quem tem valor ele é demonstrado na competição entre os melhores e não com os piores. Só eleva o seu nível de jogo quem compete e treina com quem é melhor que ele. Tendo em conta o passado recente, agora há menos estrangeiros no basquetebol português. Isso é bom ou mau? Para mim essa sempre foi uma falsa questão. Vejam os plantéis das equipas da ACB. Espanhóis que são só campeões europeus e do mundo. E vejam a constituição das melhores equipas das melhores ligas europeias. Vejo que todos esses países já ultrapassaram isso. E nós aqui, coitadinhos dos portugueses, que a culpa dos nossos males é dos malvados dos estrangeiros. Haja paciência para tamanhas enormidades. Defendo e sempre defendi que competência não é nacionalidade e não é assim que quem quer ser jogador de basquetebol de alto nível vai trabalhar mais ou ser melhor.O regresso a Portugal da maioria dos jogadores internacionais vai ajudar a elevar o nível da competição? Todos os bons atletas elevam o nível das competições em que participam. E a ausência dos clubes nacionais nas competições europeias? Isso não dificulta o aumento da competitividade das nossas equipas e atletas? Isso prova o quanto baixámos nos nossos níveis competitivos. Hoje as competições europeias são vistas como mais uma despesa que os clubes têm em vez de projecção do seu nome e do Basquetebol do País que representam. Mais um exemplo do tão baixo que chegamos. E mais grave, dos treinadores nem um palavra sobre isso. Também não admira. São cada vez menos os que têm capacidade para dizer que sim ou que não. Benfica e FC Porto são os únicos candidatos ao título ou mais clubes poderão entrar na discussão? É inegável que esses clubes têm tudo para serem os grandes dominadores da época. Numa prova a eliminar penso que alguém mais pode fazer uma surpresa. Agora no playoff, pela profundidade e qualidade dos plantéis à disposição, dizer que não vão ser estes dois clubes a dominar é discurso de treinador que não quer entrar derrotado numa competição. Porque no início toda a gente pode ganhar a todos, todos querem ser campeões, mas no fim vamos ouvir que com estes plantéis fizemos os possíveis e os impossíveis e não deu. A história repete-se com salvas e honrosas excepções.É capaz de avançar, colectiva e individualmente, com os nomes das principais revelações da época? Colectivamente a revelação será a equipa que ficar em quarto. Penso que no geral as equipas têm assinado bem os seus estrangeiros. Individualmente, e infelizmente, as revelações individuais já preparam a sua retirada das competições “profissionais”. Com tantas alterações, na equipa técnica e nos jogadores, quanto tempo será preciso para o conjunto começar a jogar dentro daquilo que é o desejo do treinador? O nosso processo é quase sempre começar do zero. Tempo no nosso caso é medido não em dias, mas na capacidade dos jogadores assimilarem os processos e filosofia do treinador. Mais do que o desejo do treinador são os jogadores fundamentais em todo o processo. Neste aspecto é que se vê a capacidade das equipas em manter os seus melhores jogadores. Os jogadores ambiciosos sempre querem mais. E o CAB e a Liga Portuguesa de Basquetebol dificilmente satisfazem essa ambição. Assim os bons saem à procura de novos e melhores desafios.Sente que os outros clubes estão confortáveis com o facto de acumular as funções de treinador de um clube com as de responsável pela Selecção? E não teme que os jogadores de outros emblemas sintam que podem ser prejudicados ao nível das chamadas à Selecção por estar mais próximo (e naturalmente conhecer melhor) os atletas do FC Porto? O que pensam os clubes que o tornem público, bem como os seus dirigentes. Para mim dá igual. Competência é competência. Isto pressupõe o natural distanciamento para quem aceita a acumulação de cargos. Hoje são tão poucos os jogadores portugueses com capacidade e vontade de chegar à Selecção Nacional que a escolha do treinador é muito fácil. A ausência de opções não levanta muitas dúvidas sobre quem merece lá estar. E quantos querem lá estar? E se forem todos os jogadores do Porto à Selecção é porque o merecem. O resto é novela já vista de algumas pessoas para desviar a atenção do essencial da questão. A nossa qualidade geral é má. Trabalhar melhor em todo o lado é o caminho para a evolução e para a dificuldade nas escolhas. Neste momento tenho a certeza que são tão claras que nem discussão merecem. E tenho também a certeza que o Moncho Lopez está acima de qualquer suspeita. E se não está, como competente que penso ser, será ele a buscar a melhor opção e a melhor saída.

Treinadores
23 SET 2009

Mais Notícias