Jogadores marcantes: Carlos Arrais

Deslindamos o perfil de Carlos Arrais, um dos melhores postes do Basquetebol em cadeira de rodas português, esteio fundamental das conquistas do GDD Alcoitão, com o tetracampeonato alcançado nas 4 primeiras edições do Campeonato Nacional à cabeça, um jogador eclético, à frente do seu tempo e que no de hoje seguramente as fronteiras nacionais se lhe afigurariam curtas para tamanho talento.

Atletas | Competições | Treinadores
11 ABR 2017

Ouvimos o próprio, mas no testemunho perspicaz que nos prestou, o ex-colega de equipa e internacional luso Carlos Oliveira, ainda no ativo no GDD Alcoitão, enfatiza o “enorme respeito” gerado entre colegas e adversários e, no plano desportivo, a versatilidade que o motiva a “comparar por cima” Carlos Arrais a Hugo Lourenço e Márcio Dias.

Ano de iniciação: 1981

Títulos conquistados: 4 Campeonatos (1991-1992 a 1994-1995), 3 Taças e 2 Supertaças

A humildade perpassa as suas palavras, embora sobejem os motivos para uma ponta de soberba. Um ídolo “adormecido”, pelo embalo desconsiderado do tempo e o apreço pelo recato, mas jamais esquecido. Carlos Arrais, o cavalheiro em campo – com árbitros, colegas e adversários – começou a jogar Basquetebol aos 19 anos, em 1981, depois de sofrer um acidente de viação que o colocou na rota do Centro de Reabilitação de Alcoitão, berço da modalidade em Portugal. Realçando o Professor Rui Calrão, quer na etapa de “recrutamento”, quer no trilho de sucesso que se seguiria, o imponente poste nunca subtrai a importância dos outros no processo de crescimento. “Fui um atleta humilde e cumpridor do que me era exigido pelo meu treinador e pelos meus colegas, os quais eu considerava família”. Pelo meio, havia muita dedicação, auxiliada pela “estatura física, rapidez e alguma habilidade”, mas, reitera, sem esquecer que o êxito se “devia em grande parte à equipa”. A primazia do coletivo que preconiza é indissociável da sua dimensão humana, incansavelmente destacada pelo amigo e ex-colega de equipa, Carlos Oliveira. “Nunca o vi aborrecer-se com alguém por causa de uma falta. Os adversários tinham-lhe enorme respeito não só pelas suas qualidades como ser humano, mas também pela forma como encarava os jogos. Perdia, mas dava mérito ao adversário e comungo dessa sua atitude”, sumariza.

Um atleta de aparentes contrassensos, ou talvez de equilíbrios raros, que era ferino em campo, defendia até asfixiar o rival, esbanjava sabedoria no posicionamento, detinha uma visão de jogo ímpar e revelava-se letal no lançamento. Ao competidor nato, juntava uma faceta serena, que lhe permitia encarar a derrota de um modo superior. “Foi o jogador mais calmo que vi jogar até hoje”, diz Carlos Oliveira.

A postura ascética só dava lugar a alvoroço perante a incúria dos companheiros em ir ao treino. “Ficava danado quando alguém faltava aos treinos, mas mesmo assim treinava sozinho, pois era um prazer e uma paixão para ele”, acrescenta ainda o companheiro de ofício. Figura incontornável nos feitos ilustres do GDD Alcoitão nos primórdios das competições oficiais de BCR em Portugal, Carlos Arrais, um vencedor por excelência, afirma que o maior fascínio residia em ter o discernimento de, “num jogo renhido e a 10 segundos do fim”, marcar o cesto da vitória. E não podia ser de outra forma. 

O que dizem sobre ele
 

João Cardoso, jogador do Sporting CP/APD Sintra, ex-internacional português

Um grande jogador, bom poste e um terror na eficácia, além de rápido.

Hugo Maia, jogador do GDD Alcoitão, internacional português

Do que me consegui aperceber nos poucos anos em que fui seu adversário, era "o poste" da década de 90. Se quando falamos de um poste exímio hoje em dia, nos lembramos do Hugo Lourenço, há 20 anos seguramente falaríamos do Carlos Arrais. De uma eficácia extrema dentro e fora do garrafão e de uma humildade e camaradagem espetaculares. Se visível dentro da sua equipa, mais visível ainda com adversários.

Carlos Oliveira, jogador do GDD Alcoitão, ex-internacional português

Como pessoa é excelente. Como jogador foi dos melhores postes com quem tive o prazer de ter jogado ao longo de 40 anos. Nunca foi individualista e sempre jogou para o coletivo. Muitíssimo bom a defender, não deixando respirar o adversário, e muito bom a atacar. E outra particularidade: era divertido e deixava a equipa e adversários bem-dispostos.

 

Atletas | Competições | Treinadores
11 ABR 2017

Mais Notícias