Jogadores marcantes: Mário Delgado

Poucas são as informações que não foram erodidas pelo tempo, mas não há dúvida de que Mário Delgado reclama o estatuto de histórico do BCR português.

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4 JUL 2017

À semelhança de tantos outros, ficou paraplégico na Guerra Colonial e iniciar-se-ia na modalidade na década de 70. Base puro, dono de uma visão de jogo e lançamento muito acima da média, numa época “órfã” de grandes referências, o atleta cabo-verdiano notabilizou-se ao serviço da equipa já extinta da AFDA (Associação das Forças Armadas) e do GDR A Joanita. 

A carreira de Mário Delgado restringe-se a um período em que o BCR português vivia um profundo ou quase absoluto anonimato (década de 70 e princípio de 80), sem competições oficiais organizadas, com um escasso número de equipas, conjuntura que torna árdua a missão de relatar o seu trajeto com a eloquência e fidelidade que se exigem.

 

No entanto, socorremo-nos de alguns testemunhos, em particular de Jorge Almeida e João Cardoso, que nos ajudam a enquadrar o papel de Delgado na modalidade e a destrinçar as suas virtudes enquanto jogador. Ambos realçam a mestria na distribuição de jogo e a eficácia do lançamento. “Um jogador elegante, excelente lançador de meia distância e um grande organizador de jogo. Tinha uma excelente visão de jogo e fazia a diferença em qualquer equipa”, sublinha Jorge Almeida, ex-internacional português e técnico da APD Lisboa e antigo Selecionador Nacional. João Cardoso, também internacional e ainda no ativo no Sporting CP/APD Sintra, que dava os primeiros passos no BCR, recorda uma “pessoa calma e alegre, fácil de lidar” e partilha uma caraterística que apreendeu do então colega veterano. “Foi dele que absorvi os tais ganchos à tabela. Era um perigo no garrafão quando lhe passavam a bola e, mesmo que estivesse muito junto à tabela, recorria facilmente ao gancho enrolado e não falhava”, afirma categoricamente.

 

O mérito das ações de Delgado sai reforçado se atendermos ao facto de que era um atleta de baixa pontuação* (ou seja, com uma lesão mais severa). À data, considerando o estado incipiente no desenvolvimento das cadeiras – sem rodas inclinadas, roda(s) traseira(s) anti-queda ou qualquer especificidade para o BCR – e a ausência ou parca valorização do strapping (fitas e cintos utilizados para o atleta se prender à cadeira, proporcionando-lhe maior estabilidade, capacidade de controlo da cadeira com o tronco e possibilidade de após queda se reerguer sem sair da cadeira, algo que hoje está completamente massificado.), a tarefa do jogador de baixa pontuação revestia-se de um grau de dificuldade muito superior.

 

Por todos os motivos elencados, em especial a vocação na distribuição de jogo, quando ainda hoje tal ação se reserva habitualmente para atletas de pontuação intermédia ou alta, Mário Delgado figura, acreditamos que com plena justiça, na lista dos jogadores marcantes do BCR português.

 

*Recordemos o sistema de classificação médico-funcional que prevê que a cada jogador lhe é atribuída uma pontuação entre 1 a 4,5, consoante a sua lesão e funcionalidade na cadeira de jogo. O total dos 5 jogadores em campo, por equipa, deve perfazer 14,5 pontos em competições de clubes e 14 em provas de seleções. Quanta mais severa a lesão do atleta, menor a sua pontuação de jogo.

 

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4 JUL 2017

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