José Araújo : “Gostava de criar uma escola de arbitragem”

Leva 45 anos ligado ao basquetebol, 35 como árbitro e 10 como atleta. José Araújo recorda nesta entrevista casos caricatos como quando se esqueceu das calças antes de arbitrar um jogo ou quando teve de sair de um pavilhão numa ambulância, para escapar à fúria dos adeptos.

Juízes
3 NOV 2009

Faz uma análise ao estado do basquetebol nacional e elege Carlos Lisboa como o melhor jogador português de sempre

Que balanço faz destes anos ligado ao basquetebol? Tem de ser muito positivo pois já lá vão 35 como juiz e mais 10 como atleta, treinador e até jornalista. Amigos, novos locais, reconhecimento, alegrias e dois filhos jogadores e internacionais. Que mais se pode pedir? Que aspectos positivos e negativos ressalva da sua carreira? Os positivos deixei-os claros na primeira resposta. Os negativos claramente o tempo que retira ao acompanhamento da família, sobretudo ao convívio com a minha mulher, a mais sacrificada de todos. Que conselhos daria a um jovem jogador ou treinador? Trabalhar muito, sacrificar-se e não esperar grande reconhecimento nem recompensa monetária. Mas se lhe dá gozo nem dará por isso. Tem algum projecto que gostaria de levar a cabo? Criar uma escola de arbitragem, coisa nunca feita em Portugal mas de concretização muito difícil num País onde as condições financeiras são muito limitadas. Vir a ser dirigente um dia pode ser também uma hipótese, mesmo que não seja restrito à arbitragem. Regista algum momento que nunca vá esquecer? Ser árbitro duma final-four Europeia, onde o Barcelona e o Real Madrid se defrontavam…que coisa linda! E momentos negativos? Sem dúvida a morte do Paulo Pinto em pleno terreno de jogo, onde eu era um dos juízes. Não tem forma de ser narrado tal a crueldade da situação. Qual a sua opinião sobre o estado do basquetebol nacional? Difícil a nível masculino. Há um grande desinvestimento na modalidade por parte de clubes e patrocinadores, menos publico, menos jogadores estrangeiros de qualidade e grandes dificuldades na formação de atletas, já que os clubes vão desaparecendo, vão tendo menos dinheiro para pagar a bons treinadores de formação e para alugar pavilhões. Trabalha-se pouco na melhoria da técnica base dos atletas, poucas horas poucos treinos e poucos meses de actividade colectiva. Os resultados da selecções este ano penso que devem ter feito soar as sirenes e será uma boa altura para todos reflectirem e proporem novas soluções. No feminino, foi um ano de ouro, quer em clubes quer em selecções jovens, que merecia ter o prémio máximo de ter subido ao grupo A do Europeu no seu escalão maior. Tem opinião formada sobre o que deve ser alterado para melhorar a qualidade competitiva? Mais trabalho, menos competição, mais investimento na formação e no jogador português, renovação de ideias e métodos de trabalho a nível organizativo das competições e selecções, conseguir encontrar um modelo competitivo ao nível sénior masculino que seja viável economicamente mas que consiga trazer de novo o público e a televisão em sinal aberto aos pavilhões e que cative os bons executantes estrangeiros que possam ser exemplos/ídolos para os mais novos. Fácil de dizer mas muito difícil de fazer… Que jogador mais o impressionou favoravelmente? Português obviamente o Carlos Lisboa, como atleta e tecnicista. Lá fora Michael Jordan, Drazan Petrovic e Ricky Rubio. E o treinador? Ao nível nacional o Prof Carlos Gonçalves e o Jorge Adelino, como formadores; Mário Palma, Luís Magalhães e Alberto Babo na alta competição. Lá fora Etore Messina – um gentleman fantástico. E jogadora? Ticha Penicheiro pela longevidade e entrega ao jogo e ao treino. Mas não devemos esquecer a Teresa Barata da minha geração de jogadores. Qual o seu 5 de sonho português? José Alberto, Rui Pinheiro; Mário Albuquerque, Carlos Lisboa. Difícil o poste… Conte-nos uma situação caricata que se tenha passado em campo. O Carlos Lisboa ser jogador suplente na minha equipa de cadetes do Benfica quando jogávamos… E no balneário? Ter-me esquecido das calças para arbitrar um jogo. Lá me safei com umas emprestadas. E fora do campo? Ter de sair deitado numa ambulância para não ser agredido de um campo de basquetebol. O seu clube do coração. Benfica Que pavilhão o impressionou mais até hoje? Olímpico de Atenas Onde existe o melhor público? Na Turquia. E o pior? Na Bulgária … um jogo feminino…nem sei o nome. Gosta de outra modalidade desportiva? Obviamente futebol. Mas o voleibol jogado a alto nível e o ténis são também fantásticos.

Juízes
3 NOV 2009

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