Márcia Costa Robalo: “Fico orgulhosa ao ver a modalidade a ganhar espaço”

Peça importante do GDESSA Barreiro, clube que representa, e da seleção nacional, Márcia Costa é uma das principais figuras do basquetebol português da atualidade. Em celebração do “Mês da Mulher”, que decorre em Março, a atleta falou à FPB sobre o seu crescimento na modalidade e a forma como vê o futuro.

“Sempre fui gulosa e aos 10 anos disseram-me que se fosse jogar basquetebol, recebia um gelado. Nem pensei duas vezes e fui jogar”, relembra. Foi assim que começou a caminhada desportiva da internacional lusa.

Num percurso que já a levou por Clube Naval Setubalense, Palmelense, Montijo Basket, Quinta dos Lombos, Atomeromu Szekszard (Hungria) e GDESSA Barreiro, onde colecionou diferentes títulos, Márcia recorda a memória mais “doce” que tem do basquetebol.

“Tenho uma memória muito antiga de ir ao Jamboree, de ficarmos numa escola e dormirmos no chão, de ser algo muito informal, mas super enriquecedor”. A base acrescenta: “Lembro-me bem dessa sensação de estarmos todas juntas, de passarmos o dia a jogar basquetebol e depois estarmos juntas durante a noite. Claro que ganhar títulos são coisas boas e que marcam, mas a memória mais antiga e doce que tenho é desse Jamboree”.

Com passagem por diferentes realidades, tanto no plano interno como no estrangeiro, Márcia vê “com bons olhos” a evolução da modalidade em Portugal: “Acho natural que a competitividade nas ligas tenha altos e baixos, há muitos fatores que o influenciam, mas fico orgulhosa ao perceber que a nossa modalidade está a ganhar algum espaço nos media. Deixa-me feliz e com esperança para o que aí vem”.

A atleta de 33 anos também não esconde a felicidade em ver o basquetebol nacional aliar-se a causas sociais, destacando a importância do desporto para os jovens. “Fico muito feliz por nós, enquanto modalidade, tocarmos em pontos importantes para a sociedade e lutarmos por causas sociais. O desporto é um meio que tem esse poder e fico orgulhosa ao ver que a minha modalidade também está nessas lutas”.

“É importante para as crianças que estão na formação terem acesso a estas lutas e perceberem que podem ultrapassar determinadas problemáticas que possam aparecer no seu percurso”, elabora.

A jogadora da década 2010-20 também tem esteve em destaque quando, em 2020, foi mãe. Poucos meses depois do nascimento do seu filho, Márcia estava de regresso aos trabalhos da seleção nacional e a competir ao mais alto nível. Conciliar a maternidade com o desporto profissional nem sempre é fácil, confessa, mas afirma que é importante mostrar as diferentes opções que as mulheres têm.

“Faço questão de mostrar as minhas opções depois de ser mãe para as pessoas perceberem que é um dos caminhos. Não vejo nada de mal se uma atleta decidir ser mãe e deixar de jogar basquetebol. Acho é que se uma mulher quer ser mãe não tem que “parar de viver” para isso acontecer, há que criar soluções para esta situação que existe na vida de uma mulher”, atenta.

“Não quero de todo passar a ideia de que tudo é um mar de rosas, porque não é, há dias complicados em que realmente a logística não é fácil, mas isso não é por ser mãe, é porque a vida assim o é. Nem sempre é fácil, mas o importante é que possamos fazer o que gostamos. Há sempre uma solução para mantermos a nossa vida, apenas requer esforço das jogadoras e abertura das entidades”.

Recordando o seu percurso, a atleta de 33 anos deixa um conselho para as jovens que agora iniciam a sua caminhada no basquetebol: “Existem várias maneiras de viver o desporto, várias maneiras de ser feliz a jogar basquetebol. Por vezes é seguir o caminho do profissionalismo, outras é conciliar o basquetebol com outra profissão. O nosso ponto alto não deve ser apenas entrar na WNBA, o basquetebol não é só isso, há várias maneiras de sermos felizes na modalidade e todas elas são válidas”.

“Aproveitem o percurso na formação, que é tão importante e de certeza que vão ter muitas memórias bonitas dessa altura. Não existe um só caminho para termos sucessos e sermos felizes”, conclui.