Mery Andrade: “A evolução no nosso basquetebol é clara”
Antiga internacional portuguesa falou à FPB
Atletas
14 MAR 2023
Uma das grandes figuras do basquetebol português, Mery Andrade representou Portugal ao mais alto nível numa carreira que se alongou por duas décadas e a levou a diferentes pontos do globo.
Numa altura em que se celebra o “Mês da Mulher”, a atual treinadora-adjunta do Birmingham Squadron, equipa de desenvolvimento dos New Orleans Pelicans, falou à FPB sobre a evolução a que assiste na modalidade.
A ligação ao basquetebol iniciou-se cedo: “Tinha 14 anos e praticava todos os desportos, sempre na Escola Secundária de Massamá, e uma das raparigas com quem jogava nos intervalos, a Sandra Lucas, jogava basquetebol num clube. Um dia a Sandra perguntou-me se eu não queria ir a um treino dela, na Escola Secundária da Amadora e eu fui”, relembra.
“Foi um treino duro! No final o treinador pediu-me desculpa, disse que tinha tido azar porque na véspera tinham perdido o jogo, mas eu gostei bastante. Perguntou-me em que equipa estava, eu respondi que só jogava na escola, e ele disse “Então ficas connosco”. No fundo foi assim que a minha “carreira” no basquetebol começou”, elabora.
Mery recorda o momento em que conheceu José Leite, antigo selecionador nacional e atual treinador da Quinta dos Lombos, figura que foi importante para o seu crescimento: “Tivemos um jogo em que não tínhamos árbitros e chamaram alguém da bancada para apitar. Depois fiquei a saber que essa pessoa era o José Leite, que na altura era o selecionador. Ajudou-me a tratar das questões referentes à nacionalidade e depois convidou-me para um estágio em Oeiras. A partir daí tive a oportunidade de representar Portugal”.
Com uma carreira que se estendeu durante duas décadas, são várias as memórias e momentos que a antiga internacional lusa viveu. Na altura de recordar qual o episódio que mais a marcou a resposta é rápida: “Diria que a que mais me marcou e mudou a minha vida foi quando decidi ir para os Estados Unidos. Primeiro, porque acho que foi a coisa mais complicada que tinha feito na vida até então, ir para um país do qual não falava a língua, o inglês não era o meu forte e graças a Deus que tinha a Ticha [Penicheiro] e a Clarisse [Machanguana]”.
É com bons olhos Mery Andrade, a sexta atleta mais internacional pela equipa das Quinas com 129 internacionalizações pelas várias seleções nacionais, assiste à evolução da modalidade em Portugal:
“A evolução no nosso basquetebol é clara. Lembro-me quando eu e a Ticha estávamos na seleção a prepararmo-nos para um campeonato da europa, ouvimos falar da Vera Jardim, que tinha sido a primeira jogadora portuguesa a vir para os Estados Unidos para a Universidade de Georgia. Era um sonho, só a Vera é que o tinha conseguido, e agora quando olho para o nosso basquetebol feminino já temos equipas portuguesas a competirem bem nas provas europeias, muitas jogadoras a irem para os Estados Unidos para a Universidade, vão jogar para Espanha, Itália, entre outros países, o que mostra que a formação em Portugal é boa. Esses países são conhecidos pelo basquetebol e se estão dispostos a receber portuguesas como estrangeiras, então quer dizer que o nível é elevado e isso vê-se nas seleções”
Confessa ser uma “apaixonada” pela modalidade e aconselha as jovens que agora iniciam a sua caminhada na modalidade a encontrarem o que as motiva: “O basquetebol é um jogo, para mim é uma paixão. Quando se começa a jogar é que se descobre o amor pela modalidade e isso pode ser em várias áreas do jogo: para mim era a defesa e foi isso que me marcou e marcou a minha carreira”, explica.
“É preciso encontrar aquela coisa que nos leva para o pavilhão e a ir para fora, atualmente até têm mais oportunidades do que as que eu tive quando comecei a jogar que é o 3×3. Eu fazia 3×3 mas tinha que jogar contra rapazes, não tinha muitos sítios. Eu começava logo muito cedo no parque central da Amadora porque depois vinham os jogadores todos das seleções e eu não conseguia jogar. Agora existem muitos campos, que estão a ser renovados o que é uma ótima iniciativa porque também ajuda a fazer crescer essa paixão pela modalidade”, conclui.