A estreia de Portugal nos Jogos Paralímpicos foi no BCR
Fernando Neves, um dos atletas presentes em Heidelberg, Alemanha, em 1972, lembra os desafios vividos à época
Competições
12 ABR 2020
Vamos recuperar Momentos Históricos do basquetebol em cadeira de rodas nacional, com a estreia em Jogos Paralímpicos, no ano de 1972, em destaque, com Fernando Neves como entrevistado.
Há 49 anos, num cenário implausível, com cadeiras quase sem adaptações e até sem se conhecer algumas das regras do jogo, descolava a epopeia portuguesa no BCR. Corria o ano de 1971, em Stoke Mandeville, onde, na década de 40, Sir Ludwig Guttmann ensaiara a primeira grande competição de desporto adaptado. “Foram 15 dias de intensa atividade, ao que penso, para preparar e afinar os Jogos Paralímpicos de Heidelberg 1972”, descreve Fernando Neves, o novato da comitiva, então com 15 anos, que enaltece “o movimento de voluntárias do Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão e a Força Aérea”, principais mecenas da deslocação.
Da estadia em solo inglês, Fernando estima na memória o recorde de diferença de pontos no certame, “momento de glória” alcançado frente a Hong-Kong, mercê da vitória por 70-7. Mas as repercussões transformadoras de Stoke Mandeville extravasaram o plano desportivo. “Para mim foi importante, apesar da idade, a questão da paraplegia, a questão social, o que por cá ainda lutamos… Tive a perceção que estavam muito à nossa frente. De tal forma que assumi “a minha vida vai passar por uma cadeira de rodas”’, reconhece com orgulho.
Na antecâmara da disputa inédita dos Jogos Paralímpicos, em Heidelberg, o treino, a cargo do aluno de Fisioterapia Ângelo Lucas, “grande entusiasta deste acontecimento”, e duas fisioterapeutas coadjuvantes, decorria em condições singulares. “Ministravam treino diário, sobretudo de resistência, no perímetro do CMR de Alcoitão e no recinto de jogo/treino, um piso em alcatrão”. No que toca às cadeiras, “da marca Everest Jennings”, igualmente cedidas pelos mecenas, tinham como única especificidade “o encosto mais baixo, amovível”, razão pela qual fosse comum a utilização das cadeiras pessoais. Dado o estado incipiente da modalidade no país, as competições internas resumiam-se aos torneios ocasionais que envolviam “os indivíduos que, após a alta, permaneciam no Centro de Trabalho Protegido, na Venda Nova, e no Lar Militar”.
Em Heidelberg, a conotação solene do nome “Paralímpicos”, enraizado aos poucos, gerava uma expectativa extra nos atletas, que se aprontavam com otimismo, mas a realidade revelou-se impiedosa. “Confirmámos que havia muito trabalho a fazer”, relata o ex-atleta. Inserida na II divisão do torneio, a seleção nacional constatou as suas fragilidades ao averbar derrotas pesadas frente a Espanha – 58-28 -, Bélgica – 18-71 – e Canadá – 56-26 -, mitigadas, na moral lusa, pelo triunfo frente à Suíça -25-27. Um ano depois, em 1973, Portugal rumaria novamente a Stoke Mandeville, antes de mergulhar num longo hiato até 1994.
Natural de Trás-os-Montes, Fernando Neves tem alta do CMR de Alcoitão em 1974 e mantém a ligação à modalidade de modo precário. “Batia umas bolas. Sozinho, porque não havia, nem tinha conhecimento de outros. Enfim, idiossincrasias do interior”, circunstância a somavam as viagens a eventos esporádicos e a jogos de divulgação com a equipa de Alcoitão. Por isso, porfiou na criação de um contexto favorável à prática do BCR na região. Foi sócio-fundador da Associação Sociocultural dos Deficientes de Trás-os-Montes, que integraria as provas nacionais em duas épocas, apoiou ativamente a Associação de Deficientes Motores de Trás-os-Montes e, mais tarde, ingressou na Associação Portuguesa de Deficientes de Chaves, “pela manutenção, necessidade, e sobretudo, pelo prazer”.
Em aneco podem encontrar os resultados da competição de BCR dos Jogos Paralímpicos de 72.