APD Sintra, a obreira do único “penta” do BCR português

Títulos nacionais entre 2003 e 2008

Competições | FPB
21 MAI 2020

A formação dona do palmarés mais recheado a nível nacional do basquetebol em cadeira de rodas, APD Sintra, conseguiu um feito inédito, entre as épocas 2003-04 e 2007-08, ao conquistar o pentacampeonato. Mafalda Santos, a autora do lançamento que selou o quinto título, e Victor Sousa, dirigente e ex-atleta, guiam-nos pelos alicerces ganhadores do histórico emblema. 

O trajeto da APD Sintra está longe de se cingir ao marco do pentacampeonato, embora este sobressaia. No pecúlio da instituição, agora associada ao Sporting CP, moram uns imponentes 11 troféus de campeão nacional, 11 Taças de Portugal e 14 Supertaças. Do primeiro título, obtido na época 1994-95, ao último, que data de 2014-15, distam exatamente 20 anos, indício de um trabalho sustentável, cujo ponto de partida Victor Sousa nos ajuda a situar. “A diferença residiu na formação dos jogadores, que passou por várias etapas, destacando-se o excelente trabalho realizado pelo Pedro Esteves, a deslocação a Espanha para assistir aos jogos de BCR dos Paralímpicos de Barcelona 92 e a formação em 1995 ministrada por um treinador jugoslavo”, enumera, sem esquecer a importância do material, em alusão à “aquisição de 12 cadeiras da RGK, feitas à medida de cada jogador”, fator de especial relevância na modalidade. O somatório destas ações em conjunto com “a vontade de ganhar de cada elemento do grupo de jovens que constituía a APD-Sintra foram o motor para se alcançar o êxito”, na opinião do emblemático dirigente. No livro dos recordes e das estreias, os sintrenses contribuíram para aumentar a visibilidade internacional do BCR português e impulsionar o nível de exigência do jogo dentro de portas ao se tornarem na primeira equipa nacional (e até agora em exclusivo) a disputar uma prova europeia de clubes. “Após atingir o patamar mais alto à escala nacional, pareceu-nos que o passo seguinte seria a participação nas provas oficias internacionais da IWBF-Europa”, conclui convicto, apesar do processo árduo que se supunha na angariação de apoios financeiros, que rotula de “trabalho ‘formiguinha’”. Seguiram-se outras seis participações, quatro na Taça Willi Brinkmann e duas na Andre Vergauwen.
No plano interno, o capítulo do pentacampeonato começou a erguer-se na época 2003-2004. Interlocutora ideal do apogeu sintrense, Mafalda Santos, ex-atleta de baixa pontuação, recorda o momento que a converteu em protagonista improvável do quinto título. “Estavam todos preocupados em bloquear os meus colegas e, basicamente, esqueceram-se de mim. O Rui Lourenço passou-me a bola e, na minha cabeça, pensei: “Tens de passar a alguém”. Não havia ninguém e lancei”, sumariza com simplicidade, ao evocar o lance capital da partida frente à APD Leiria, que se fez longo na perceção. “Deu a sensação de levar muito tempo a passar aqueles segundos e nem tive a noção de que tinha dado o penta a Sintra”. Então com 20 anos, e uma experiência de meros três no BCR, a extremo, uma das raras vozes no feminino no panorama nacional da modalidade (a nível de clubes, o BCR é misto), atribui ao bom acolhimento do grupo a rápida integração e a consequente assimilação do jogo. “Éramos uma equipa muito unida, da qual me orgulho ter pertencido, tínhamos uma ligação inexplicável. Todos me aceitaram bem”, sublinha a atleta retirada em 2014.
Atualmente, a APD Sintra procura retomar o rumo dos triunfos e enfrenta, em particular, a dura concorrência da tetracampeã nacional APD Braga, formação com um registo arrebatador nos últimos anos, que ameaça a exclusividade do pentacampeonato. Porém, na ótica de Victor Sousa, estão reunidas as premissas para ver a equipa escalar novamente ao topo. “Estamos no bom caminho para alcançar o sucesso de outras épocas; dotados de um conjunto de jogadores valiosos, alguns ainda bastante jovens, e orientados por um técnico muito sabedor e experiente”, afiança, apesar de lamentar a “falta de horários disponíveis no pavilhão para se treinar mais”. Tal obstáculo não o impede de corroborar a própria afirmação de que “aliando o conhecimento, a experiência, o trabalho árduo e a vontade de vencer, a APD-Sintra voltará a ganhar provas oficiais dentro de pouco tempo”.
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21 MAI 2020

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