Mourinho e o Basquetebol

Por esta altura muitos de vós estarão a perguntar: “Mas o que tem Mourinho a ver com o Basquetebol?” Tudo e Nada.

Associações
6 ABR 2006

Nada porque como sabemosMourinho não é treinador de Basquetebol. Tem tudo a ver com o Basquetebol na metodologia de treino que utiliza. Na realidade e após a leitura do livro “Mourinho, porquê tantas vitórias?”, dei por mim a rever os processos metodológicos de treino e de estudo do adversário que se utilizam no Basquetebol desde há longo tempo.

A verdade é que Mourinho, ao contrário da ideia que o livro tenta fazer passar, não foi o primeiro treinador de futebol a aperceber-se do nível evolutivo em que se encontra o treino no basquetebol. Por certo que todos se lembram da célebre conversa que Sven Goren Erikson, na altura a treinar o Sport Lisboa e Benfica, teve com alunos da Faculdade de Motricidade Humana de Lisboa, em que questionado sobre o seu dia de trabalho, respondeu que, sempre que podia, fazia questão de ver os treinos da equipa de basquetebol do mesmo clube porque dali retirava muitas ideias e conclusões para os seus treinos. Convém relembrar que esta equipa de basquetebol era na altura treinada por Mário Palma e tinha como jogadores Steve Rocha, Mike Plawden entre outros, para além do inigualável Carlos Lisboa. Por outro lado o estudo do adversário (Scouting), arma forte que Mourinho utiliza na preparação dos jogos, é um procedimento utilizado no basquetebol desde à 50 ou mais anos, sendo actualmente uma ferramenta utilizada por qualquer equipa que milite nos escalões de nível médio/superior da modalidade. Existe no entanto uma diferença entre estes dois grandes nomes do futebol actual. EnquantoErikson admite que o basquetebol foi e é uma fonte de inspiração, Mourinho autointitula- se mentor de uma nova metodologia de treino assente no exercício. Poder-se-à então perguntar o que tem de novo o livro de Mourinho para um treinador de Basquetebol? Para mim, como treinador, tem a virtude de enfatizar a necessidade de optimização total do exercício como factor determinante do sucesso de um trabalho. No treino a optimização do exercício (enquanto repetição sequencial de determinados gestos individuais e/ou colectivos) tem de ser levada ao extremo, estando ao serviço do trabalho físico, técnico e táctico da equipa. Isso implica o seu conhecimento total e profundo, bem como do processo e modelo de jogoque se pretende implementar, adequando-o aos jogadores que temos, ou adquirindo jogadores que se enquadrem nesse modelo, tudo dependerá dos jogadores e montantes disponíveis. O livro de Mourinho serviu por ultimo para reforçar uma ideia que já tinha desde à longo tempo: O processo de treino, em termos metodológicos e organizativos, encontra-se actualmente em extremos opostos no futebol e no basquetebol. Os treinadores de futebol que entenderam o benefício da aproximaçãodo trabalho no futebol ao do basquetebol tiveram sucesso, e neste artigo encontramos dois dos expoentes máximos do que acabo de dizer. Para os treinadores de basquetebol, deixo um apelo: Façamos nos nossos treinos menos exercícios, mas exercícios que dominamos bem e que se enquadram na filosofia de jogo que queremos no nosso Clube, habituando desta forma os nossos atletas a um trabalho cada vez mais exigente e de maior qualidade. Esta deve ser uma articulação estabelecida entre todos os treinadores da formação e com as equipas séniores. Em meu entender, esta forma de trabalho não deveria ser exclusiva do basquetebol, mas sim estar presente em todas as modalidades, como garante de uma qualidade futura dos nossos atletas. Caso isto não aconteça serei levado a pensar que continuamos na mesma : “a entreter meninos e a gastar dinheiro à Região”.

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6 ABR 2006

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