O “clube do bairro”

Nasceu no Corpo Santo, mas ganhou dimensão nacional como campeão da I Divisão de basquetebol feminino e com a presença na final da Taça de Portugal.

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6 ABR 2006

Paulo Jorge, presidente e um dos fundadores, é a cara de um Boa Viagem sempre em crescimento.

Por alturas da Revolução de Abril de 1974, existiam no bairro angrense do Corpo Santo dois clubes: o Sesimbras e o Boa Viagem. Fundiram-se nesse ano, formando o Sport Clube Boa Viagem, que dois anos depois, no Verão de 76, ganhou definitivamente o nome de Clube Juvenil Boa Viagem. Ainda hoje tem sede no mesmo bairro e ainda hoje mantém ao leme Paulo Jorge Silva, um dos fundadores e dirigente desde sempre. “Em 1989, quando subimos aos nacionais o Paulo Jorge, presidente da Assembleia- Geral, passa a presidente da direcção e este ano faço quinze anos de presidente de direcção e são já trinta como sócio, dirigente e fundador do clube”, refere a nossa Figura da Semana, hoje com 51 anos, com orgulho pelo trajecto do clube no desporto açoriano e nacional. O destaque aparece esta semana, muito devido ao facto de ter garantido a presença na final da Taça de Portugal de Basquetebol feminino, mas a história do Boa Viagem é bem maior do que uma viagem a Trancoso. Na altura da sua formação tinha equipas de futebol de cinco e de onze, basquetebol e andebol (modalidade em que fez história e passou pelos Nacionais). Já foi também clube de ginástica e hoje dedica-se em força ao basquetebol feminino, com mais de cem atletas, a partir dos seis anos de idade. Uma aposta na formação que é a razão de viver do clube. “O futuro passa sempre pela formação e será sempre esta a nossa aposta principal, até porque os resultados que temos obtido mostram que estamos no caminho certo e hoje temos cerca de 50% do plantel sénior formado por jogadoras da formação, do clube e de outras equipas da Terceira (…) As nossas equipas há muitos anos que representam a Terceira nos Regionais e nos Nacionais. Temos conseguido sempre resultados e temos um número bastante significativo de atletas nas Selecções de ilha e regionais… Por isso este caminho é para continuar com perfeição e com rigor”, explica Paulo Jorge Silva. CAMINHO DIFÍCIL Depois da subida do União Micaelense às competições nacionais de basquetebol feminino, em 1988, o Boa Viagem tentou e conseguiu lá chegar no ano seguinte. Durante várias épocas andou num sobe e desce nas divisões secundárias, até fazer história… Sempre com os pés bem assentes no chão… “Alcançamos um marco histórico no desporto açoriano que foi chegar ao escalão máximo nacional de uma modalidade colectiva. Fomos a primeira equipa da Terceira a chegar ao topo… Quando estamos no desporto pensamos sempre mais além. Mas como o Boa Viagem, ao dar um passo, pensa sempre no que se segue, fez as coisas devagar. Sempre tentamos chegar o mais alto possível, mas com calma e com cabeça, tronco e membros… E penso que chegamos… Nunca pensamos, pelo valor que havia no escalão máximo nacional, em que sempre houve quatro ou cinco equipas de top, chegar aonde chegamos este ano… Como também nunca pensamos conseguir o que conseguimos no ano passado, que foi chegar ao título de campeão nacional da I Divisão… Isso só demonstra uma coisa: trabalho”, refere o presidente, com a sensação de dever cumprido. Mas, “para continuar”,confessa Paulo Jorge, “o que precisamos é que as entidades olhem mais seriamente para o desporto feminino, que é algo que não tem acontecido. O desnível que há nos apoios, à excepção dos da DREFD (que são tabelados), são grandes, e esperamos que na próxima época, uma vez que o clube está apurado para as competições europeias e (talvez) para a SuperTaça,os apoios governamentais e privados sejam maiores, para continuar a representar a Terceira e os Açores com prestígio e dignidade”. O presidente refere ainda que esta época ainda há metas a alcançar, até porque o campeonato ainda não acabou. Isto apesar de ter consciência que para fazerfrente a equipas como o CAB Madeira, que derrotou as açorianas na final da Taça, “é preciso mais meios e um banco mais preenchido”. Mesmo assim fica o desejo e uma nota final em jeito de agradecimento… “Muito do que temos conseguido este ano deve-se sobretudo ao trabalho de base feito pelo ex-treinador Nuno Barroso. Se esta equipa chegou onde chegou deve muito a ele e ao trabalho que ele faz desde a época passada. Foi campeão nacional, trouxe algumas atletas para o clube este ano, trabalhou muito bem com elas, daí que os resultados obtidos sejam em muito o reflexo do que ele trabalhou enquanto esteve connosco”. “Obrigado pelo apoio…” O resto dos agradecimentos vão direitinhos para as mulheres… “Nós temos de ter grandes mulheres, porque levamos oito meses sem jantar em casa. Chegamos a casa tarde e para os que têm filhos as coisas são ainda mais difíceis. É preciso uma mulher com ‘M’ grande, porque sem elas é impossível estar no dirigismo”, refere Paulo Jorge Silva, dias depois de, ainda em Trancoso, ter referido que o nosso Jornal devia prestar um tributo a todas as que trabalham na sombra. Da nossa parte fica a homenagem. Da parte do presidente mais um alerta em nome dos dirigentes desportivos da região. “Faltam incentivos para o dirigismo e é preciso lutar por isso. É preciso que arranjem mecanismos de ajuda e incentivo ao dirigismo desportivo. Uma alternativa seria por exemplo um incentivo fiscal, porque sem dirigentes a nossa juventude, que precisa bastante do desporto, vai abandonar a prática desportiva, com reflexos óbvios numa sociedade pequena como a nossa”, completa a nossa figura da semana.

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6 ABR 2006

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