O Passing Game

A cada ano que passa, mais clarividente se torna a nossa opinião sobre as competências que devem dotar um jogador de basquetebol.

Associações
9 NOV 2006

Entre vários aspectos muito abordados e discutidos, a “leitura do jogo” assume cada vez maior importância no desempenho individual e colectivo, pois a redução do tempo de ataque de 30 segundos para 24 segundos, bem como a generalização scouting e da estatística, provocaram alterações profundas no jogo actual.

Hoje o jogo é mais rápido, mais agressivo e todas as equipas conhecem os sistemas ofensivos dos adversários até ao mais pequeno detalhe. Sendo este o contexto a que o atacante se sujeita no jogo, pede-se que seja capaz de decidir rapidamente e bem, tirando partido das fugazes vantagens que a defesa lhe concede Transpondo esta realidade para a formação de jovens basquetebolistas, poderá afirmar-se que cumpre ao treinador orientar a preparação dos jovens atletas no sentido de estes serem capazes de conviver, no futuro, com as exigências atrás referidas. Se analisarmos parcelarmente o jogo de basquetebol e centrarmos a nossa atenção na fase do ataque, é evidente que cabe ao treinador optar por um modelo de ensino do jogo que favoreça o desenvolvimento da capacidade de percepção, de antecipação e de tomada de decisão. Por outras palavras, poderá dizer-se que o treinador deve promover o desenvolvimento da inteligência contextual do atleta. Deste modo, embora se reconheça a diversidade de opiniões validas acerca do assunto, julgamos que o Passing Game, pela sua riqueza táctica e exigência técnica, constitui uma das formas mais eficazes de ensinar o jogo. Conforme o nome indica, o Passing Game é um sistema ofensivo que privilegia o passe, não está assente em movimentações “rígidas” e favorece, por isso, a decisão baseada na “leitura do jogo”. Trata-se de um sistema que está intimamente ligado à aprendizagem de técnicas como o passe, desmarcação e recepção do passe e bloqueios. Ora, sendo exactamente estas algumas das técnicas mais carentes nos nossos jovens atletas, julgamos ser mais uma razão para defendermos este sistema ofensivo. Segundo Lute Olson, o Passing Game oferece-nos as seguintes vantagens: 1. Ensina os jogadores a movimentarem- se sem bola; 2. O jogador aprende a utilizar o drible apenas em situações de evidente necessidade; 3. Oferece a todos os jogadoresiguais oportunidades de lançamento; 4. Obriga ao desenvolvimento apurado da técnica individual ofensiva; 5. Permite aos jogadores tirar partido dos erros defensivos. 6. Ajuda a construir valores como o trabalho de equipa e sentimento colectivo. Ao analisarmos as vantagens enunciadas, verificamos que concretizam o que todos nós, treinadores, procuramos para as nossas equipas, embora por vezes tenhamos alguma dificuldade em materializa-las, muito por culpa de um modelo de treino onde o desenvolvimento das competências tácticas individuais está ausente. Como desvantagens, o mesmo treinador destaca: 1. Não permite aos treinadores controlar o jogo como tanto gostam; 2. Não privilegia particularmente um jogador com capacidade superior; 3. Não favorece jogadores com dificuldades técnicas. Assim, não nos parece que as desvantagens apresentadas constituam motivo para não optar pelo Passing Game, pois se queremos um jogo mais evoluído, o treinador deve orientar mais do que controlar, a formação de jovens deve oferecer a todos iguais oportunidades de manifestação de competências e finalmente promove o treino individualizado da técnica, de acordo com as necessidades de cada jogador, levando ao abandono da prática corrente no treino de jovens, onde todos os conteúdos são, erradamente, abordados sob forma colectiva. Finalmente deixamos abaixo algumas regras que deverão estar presentes quando utilizamos o Passing Game sem postes, o mais adequado para a fase inicial da formação de basquetebolistas: • Sempre que passo devo bloquear afastando-me da bola • Quando faço bloqueio indirecto devo mantê-lo e repeti-lo até alcançar a linha final. • Sempre que alcanço a linha final, abro bem ao canto e preparo me para receber um bloqueio em baixo (junto à área restritiva) e abrir uma linha de passe; • Sempre que bloqueio uma colega e esta fizer um corte nas costas (“porta atrás”), devo substitui-la na posição que ela deveria ocupar, para manter o equilíbrio ofensivo; • Sempre que uma posição à frente, mais próxima da bola, for vagada por uma colega, devo preenche- la para repor o equilíbrio; • Nunca devo parar, devo estar sempre em movimento; • Se não recebo a bola após um corte ou um bloqueio, devo abrir bem ou preencher uma posição livre. Se não receber a bola após 2 segundos, volto a cortar e fazer bloqueio junto da linha final; • Se fizer um corte para o cesto, directo ou sobre um bloqueio, vou até ao cesto e abro para o canto do lado contrário da bola; • Se um jogador dribla na minha direcção, corto para o cesto e preencho o canto do lado de onde o drible veio (canto do lado forte). Esta é a excepção à regra referida no ponto anterior. Contudo, para podermos desenvolver um jogo assente no Passing Game é fundamental ter paciência, não esperar resultados rápidos e fáceis. Este é um processo de ensino muito longo e que, tal como qualquer outro, não admite que se “queimem” etapas. O seu ensino inicia-se com a aprendizagem dos cortes básicos e ocupação racional do espaço, em situações analíticas e de jogo reduzido, nomeadamente 1 x 0, 1 x 1, 2 x 0, 2 x 2, 3 x 0 e 3 x 3.

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9 NOV 2006

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