“Para o bichinho do BCR morder, basta um jogo”

Entrevista a Gustavo Costa, árbitro internacional

Competições | FPB | Juízes
15 ABR 2020

Gustavo Costa, árbitro internacional de BCR, abordou as especificidades da modalidade e o seu percurso de 20 anos, que contempla duas finais europeias de clubes e uma de seleções.

Como chegaste à arbitragem no BCR? 
Por mero acaso. Ligaram-me do CAD de Lisboa a dizer que precisavam de dois árbitros para fazer um jogo de BCR e respondi que conhecia muito pouco das regras específicas, mas o CAD referiu que não sabia menos do que qualquer um dos outros disponíveis. Estudei as regras e fui de boleia com os saudosos Carlos Cardoso e Ramos Marques, que iam ser os oficiais de mesa. Na viagem entre Campo de Ourique e Cascais, recebi um curso intensivo de BCR. Recordo-me que o meu colega foi o Rui Ribeiro, atual árbitro da LPB, também a fazer o seu primeiro jogo de BCR. Naquele dia, um “bichinho” mordeu-me e fiquei um absoluto fã.
Quais as diferenças fundamentais entre apitar basquetebol “a pé” e BCR?
Existem muitas, em especial na técnica de arbitragem (a procura do espaços entre os jogadores é totalmente diferente), nos ângulos de visão (em vez de olhar na horizontal e para cima, olhamos na horizontal e para baixo), na cobertura, porque o jogo é, em regra, muito mais espalhado, cada jogador ocupa muito mais espaço no solo, e não temos visão raio-x para ver através das cadeiras.
Foste, certamente, vítima de muitos “atropelamentos”. Algum particularmente aparatoso? 
Felizmente, não tive muitos, até porque são particularmente dolorosos. Mas recordo-me de um episódio giro num jogo internacional. Estava na linha de fundo, dois jogadores paralelos e a alta velocidade em direção a mim; eu estava onde devia, ou seja, a ver o pouco espaço que existia entre eles, e lembro-me de pensar “para onde vão virar quando chegarem à linha final?”. Decidi arriscar e ficar no mesmo sítio, com esperança de que ambos mudassem de trajetória. O que estava por fora mudou, mas o de dentro não. Saltei no último momento e aterrei praticamente no colo desse jogador.
Qual o jogo da tua vida?
Tenho que destacar três jogos, por motivos distintos: o primeiro (GDD Alcoitão vs. APD Lisboa), pela importância que o BCR teve na minha vida; o Croácia vs. Sérvia, no Europeu de 2005, pela carga emocional que teve, já que a guerra dos Balcãs ainda estava muito fresca na memória de todos e com alguns jogadores, em ambas as equipas, com lesões de guerra, mas felizmente correu sem problemas; finalmente, o último jogo da ronda preliminar da Euroleague 3, em Albacete (2015), entre a equipa local e os turcos Kardemir Karabük. Só se apurava uma equipa para a Final a 8 e tudo dependia da vitória naquele jogo, pavilhão cheio, a fazer dupla com o meu amigo José Cardoso. Terminou com diferença de um ponto. Foi um jogo eletrizante em que senti que tivemos um excelente desempenho.
O que tem de especial para ti o BCR? E o que dirias para persuadir jovens árbitros a enveredarem pela modalidade?
Para mim é paixão. Há muitos anos que digo uma coisa muito simples aos candidatos a árbitros de BCR: “Só quero que faças um jogo. Vais ficar viciado”. É claro que depois é necessário um percurso de dois ou 3 anos, no mínimo, para que seja possível dominar os fundamentos. Mas para o bichinho do BCR morder, basta um jogo.
Em anexo podem encontrar o palmarés de Gustavo Costa.

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15 ABR 2020

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