Philippe da Silva: “[A Seleção Nacional] tem o destino nas mãos”
O ex-internacional português, pai do atual Lince Anthony da Silva, esteve à conversa com a FPB
Seleção Nacional Masculina | Seleções
20 DEZ 2024
Em fevereiro passado, na antecâmara da estreia portuguesa na atual fase de Qualificação para o EuroBasket 2025, a FPB esteve à conversa com o internacional português Philippe da Silva. O base, atual treinador na principal liga francesa, foi uma das “figuras” da equipa nos dois últimos EuroBasket (2007 e 2011). “Figura”, não, aliás, que essa é uma palavra que Philippe da Silva considera algo “arrogante”. Ele é “somente” um internacional português com desmedida experiência, um treinador de excelência e símbolo de anos de dedicação. E foi essa humildade que passou ao filho – o “nosso” Anthony da Silva, que se estreou pela Seleção no Verão, em pleno II Torneio Internacional de Guimarães, e que carimbou a primeira internacionalização “oficial” nesta última janela de novembro, com uma excelente exibição na Eslovénia.
Queria começar por perguntar o que achou o Philippe da prestação do Anthony?
Antes de falar do Tony, começar por dizer que trabalho que está a ser feito com o Mário Gomes à frente da equipa está a ser excelente. Esta geração está a crescer, está a ganhar maturidade, a assimilar-se um bocadinho àquilo que eu próprio vivi em termos de espírito da equipa. De fora, pelo menos, vê-se uma equipa muito unida, muito trabalhadora. E por isso a vitória contra a Eslovénia foi só o consolidar do trabalho que está a ser feito.
E mesmo o desaire fora…
Eles mereciam ganhar, se não fosse por detalhes… no segundo jogo acho que foi ainda aquela falta de maturidade, de experiência, de estarem assim tão próximos de ganhar um jogo contra uma grande equipa, em campo do adversário. No entanto, acho que eles estão no caminho certo para atingir o objetivo, esta equipa está a melhorar dia para dia e a cada jogo que passa.
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Falou antes que esta Seleção se está “a assimilar um bocadinho àquilo” que o Philippe viveu “em termos de espírito da equipa”. São memórias que guarda com carinho desses EuroBasket em que participou?
Foi um momento incrível para nós. Eu tenho imagens de quando nos conseguimos apurar – chegámos ao hotel, um monte de gente à nossa espera e era um bocadinho surpresa, naquele momento, porque nós dependíamos do resultado de Espanha. A Croácia tinha de ganhar à Espanha, [ganhou] e por isso nós passámos à segunda fase. E quando chegámos ao hotel, estava um monte de gente à nossa espera, nem pudemos festejar com eles, porque já tínhamos à nossa espera o comboio que ia para Madrid. Foram emoções fortes com aquelas pessoas que nos apoiaram, tive muito gosto em poder aproveitar e poder partilhar aqueles momentos com aquelas pessoas. Foram sem dúvida momentos para a História.
E depois, na própria competição, com o melhor resultado de sempre de uma Seleção lusa…
Sim, a Croácia, na segunda fase, estava a depender do nosso resultado contra Israel. E eles entraram, cruzaram-se conosco a dizer: “Por favor, ganhem a Israel, assim nós também vamos aos quartos de final” (risos). São sempre momentos incríveis quando nós representamos o nosso país, damos tudo. Ficam para a memória, porque é um nível muito alto, jogas contra equipas muito boas, com jogadores que têm o hábito de estar a esse nível e por isso só podes ganhar experiência com estas competições.
O Antony mostrou-nos algumas fotos dele, consigo, nesse EuroBasket. Se lhe perguntassem, na altura, se gostava que o seu filho fosse jogador de Basquetebol, como o pai, teria dito que sim?
Eu tenho a felicidade de ter dois filhos que estão, por enquanto, no caminho do Basquete. Eu nunca puxei por eles, porque eles próprios gostam daquilo e querem tentar ir o mais longe possível. E o Tony, desde bebé, no carrinho, ele estava sempre nos treinos e começou muito, muito cedo com uma bola na mão. Por isso não tinha dúvidas que o Tony ia tentar ser profissional de Basquetebol.
Mas nem todos os que o sonham, de facto o conseguem…
É dedicação, porque é preciso dedicar-se e é preciso muito sacrifício, e é verdade que, naqueles momentos, porque ele tinha seis anos e com seis anos já começas a perceber alguns valores e eu acho que aquela equipa [de 2007], aquelas pessoas com quem nós partilhamos muitos momentos, e o Tony estava sempre conosco, sempre comigo, ajudou efetivamente a que fosse um objetivo para ele. A dizer: “Eu quero ser como o pai, quero tentar ser um jogador de Basquetebol e quero tentar estar nestes momentos”.
Esteve nos grandes palcos desde cedo.
Ele tem recordações, fotos com o Paul Gasol, o Marc Gasol, o [Juan Carlos] Navarro, e foram alguns momentos que ele partilhou com eles, e se calhar isso também ajudou na cabeça do miúdo, acrescenta também a motivação para tentar ser um dia jogador profissional. Eu, como pai, só posso ter orgulho nele, porque o carinho que eu tenho pela Seleção e por Portugal é muito forte, e estou muito orgulhoso por o Anthony representar a Seleção Portuguesa e, claro, se ele puder lutar para ter lugar no EuroBasket, será para mim também um orgulho muito grande.
O Philippe, no fundo, foi o primeiro treinador do Anthony. Que conselho é que lhe deu que acha que ele nunca abandonou até hoje? Qual é que foi o seu melhor conselho?
Humildade e respeitar-se a si próprio. Dedicação – tentei passar essa mensagem e eu acho que é o mais importante, porque muitas pessoas dizem, eu quero ser profissional, mas as palavras não chegam, é preciso muito trabalho, é preciso muita dedicação e eu acho que estes valores que o Tony tem – e assimilou-os desde miúdo, porque eu não conheço muito miúdos com 14 anos a sair para fora de casa e a ir para um país completamente diferente, onde não falava a língua e foi para a Espanha com 14 anos, deixou o pai, deixou a mãe, deixou os amigos, deixou toda a sua família para tentar atingir um objetivo e isso demonstra muito carácter e muita dedicação e muito trabalho.
De antigo jogador, passou a ser treinador, um trajeto relativamente comum. Acha que os antigos jogadores podem ter aqui um papel a ajudar no desenvolvimento destas jovens figuras?
Sim, penso que sim. Nessa figura de antigo jogador, que continua a ajudar o Basquete a crescer. Por exemplo, em Espanha tens sempre a imagem do Pau Gasol. Eu não gosto muito do termo “figuras”, porque é um bocadinho arrogante, mas aquelas pessoas que têm experiência de alto nível, claro que podem contribuir, ajudar a desenvolver ainda mais o Basquete. Nós temos o Neemias [Queta], temos a Ticha [Penicheiro], e eu acho que está a ser feito esse trabalho pela Federação, vi uma entrevista ao Miguel [Miranda], ao [José] Figueiredo. Se houver mais partilha entre nós, só temos todos a ganhar, e é realmente com muita humildade que eu digo isso, porque quem fica a ganhar é o Basquetebol.
Para fechar, tem aqui uma palavrinha sobre este possível apuramento, uma palavra de motivação, de alento, o que é que teria para dizer a este grupo, antes da janela de fevereiro?
Continuar a acreditar, que é muito importante. Nós tivemos uma situação muito similar [à da última janela], estivemos muito próximos de apurar antes do último jogo, tínhamos ganho à Macedónia por 20 pontos e infelizmente perdemos por 21 ou 22 lá, e pode haver uma quebra em termos de confiança, por isso é acreditar sempre, porque eles têm toda a qualidade para o conseguir, já o demonstraram e têm o destino deles nas mãos.
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