Piso prejudica atletas

As queixas de técnicos e jogadores continuam, mas com poucos resultados práticos.

Associações
2 FEV 2006

O piso do Municipal de Angra é duro demais para a prática do basquetebol e tem provocado lesões difíceis de resolver, mas para já tudo continuará como está..

Muitos falam em “Catedral” do basquetebol açoriano, mas poucos imaginam que, apesar de imponente, o Municipal de Angra é uma ‘armadilha’ para jogadores, treinadores e dirigentes. Segundo o médico que acompanha a equipa de basquetebol do Lusitânia, Dr. José António, “o nosso pavilhão tem um piso bastante duro que afecta principalmente os atletas na área do basquetebol, que são indivíduos pesados e altos. Como todo o aparelho ligamentar do joelho é que sustenta o peso acontecem algumas lesões do joelho, que normalmente aparecem no início da época, porque os músculos não estão adaptados ao esforço que o piso exige”. Porquê? Pergunta-mos nós… A resposta é pronta. “Acontecem porque toda a vibração que é transmitida pelo peso do corpo do indivíduo ao joelho, que devia ser suportado pelos meniscos, é tão alta que estes não são suficientes para a suportar…Pode haver lesões meniscais, mas são essencialmente o aparelho ligamentar e a cápsula do joelho que sofrem mais com isso. Aparecem tendinites e capsulites de esforço, não relacionadas com traumatismo directo, mas com traumatismo indirecto transmitido do solo para o organismo”. Algo que prejudica obviamente o atleta e que acontece mais vezes do que é visível à ‘vista desarmada’. “São muito frequentes e o indíviduo fica inibido de conseguir um aproveitamento máximo das suas capacidades. As dores musculares, as dores ligamentares e as dores da cápsula que o atleta sente limitam muito o seu esforço e ele não atinge a melhor forma na altura em que o treinador pretende”, refere José António, que deixa alguns conselhos aos atletas, embora admita que pouco há a fazer: “É possível tomar precauções de uma forma indirecta, usando aparelhos que reforcem a parte ligamentar, joelheiras elásticas, palmilhas de silicone que amortecem um pouco a vibração transmitida pelo solo, mas não é suficiente, até porque não é só o joelho que sofre com isso. A parte lombar também é bastante afectada, nomeadamente ao nível dos discos que separam as vértebras lombares. Eles têm lombalgias intensas, não durante o esforço, mas nas alturas de repouso”, conclui o médico. TÉCNICOS PEDEM MUDANÇA Obviamente são os atletas os mais afectados pela dureza do piso do Municipal, mas são os técnicos os porta-vozes destas dificuldades. Segundo Nuno Barroso, treinador da equipa sénior do Boa Viagem (Liga Feminina), “o piso é impeditivo de conseguirmos determinadas performances.Isto limita as opções dos treinadores, limita a qualidade do treino, impede uma melhor preparação das equipas pela ausência de jogadores, trás encargos adicionais aos clubes porque têm de despender verbas em tratamentos e prejudica os jogadores na sua actividade profissional, porque isto faz parte das condições de trabalho de um jogador de basquetebol, como a esferográfica faz parte do trabalho de um escriturário por exemplo…Tudo isso conjugado trás de facto prejuízos bastante grandes para as equipas de basket que fazem deste o seu campo”. Por tudo isso o técnico reeinvindica medidas urgentes, referindo que “a medida que tem de ser tomada é substituir este piso por um piso flutuante”, completando este raciocínio com exemplos concretos… “Ainda ontem tivemos uma situação de entorse de uma jogadora, em que o diagnóstico feito pelo pessoal médico refere que se tivéssemos um piso mais suave as consequências da lesão seriam diferentes. Existem aqui atletas que começam a apresentar sinais de lesões crónicas resultantes da utilização regular deste pavimento e há jogadores com ‘tendinites’ crónicas resultantes deste piso”, refere Nuno Barroso.Posição reforçada por outras opiniões, nomeadamente a de Marcos Couto, técnico do AngraBasket (Proliga). “ Se tem sido um problema? … Enorme… Algum trabalho teve de deixar de ser feito por ser impossível de fazer num pavilhão com este tipo de piso. Os jogadores queixam-se imenso dos joelhos durante a semana, porque este piso é muito duro”, refere o técnico, que adianta também exemplos concretos: “Já tivemos casos de jogadores com dificuldades relacionadas directamente com a qualidade deste piso… Quando os treinos são na Preparatória a coisa funciona de forma razoável, mas quando treinamos no Municipal o quadro piora bastante… O problemaé que nós não jogamos no Ciclo e o melhor piso para a prática do basquetebol não é utilizado por ninguém. Falo concretamente do pavilhão do Estádio João Paulo II”. Câmara adia resolução A Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, apesar de reconhecer o problema, adia a sua resolução. Esta é uma questão que transitou da antiga vareadora do desporto para a actual e que há muito está a ser analisada. Por altura da Taça da Liga de Basquetebol masculino, há cerca de dois anos, o anterior executivo camarário (que pagou o transporte, a instalação e o aluguer por vários dias de um piso diferente para a realização da prova) aprofundou a ideia de adquirir um piso flutuante, algo que não se concretizou… Agora, faltam as verbas para avançar com a mudança… “Tenho na minha posse osorçamentos pedidos a diferentes empresas para fazer esta substituição, que envolve quantias bastante avultadas e que, embora a autarquia saibaque é urgente fazer este melhoramento, não estão previstas nem foram englobadas no orçamento deste ano”, refere Luisa Brasil, actual vareadora do desporto da CMAH, que avança o ano de 2007 como provável para proceder ás obras. “Não será em 2006, mas estamos atentos a este problema e a pensar, a partir de 2007, colmatar esta lacuna”, conclui a autarca.

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2 FEV 2006

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