“Projetos como o PROMISE podem ajudar bastante as árbitras a evoluir”

Sónia Teixeira, mentora das juízas, em entrevista à FPB

FPB | Juízes
12 JAN 2024

O nome de Sónia Teixeira quase dispensa apresentações. Árbitra internacional da Associação de Basquetebol de Lisboa (AB Lisboa), Sónia Teixeira vai ser a mentora das juízas no projeto PROMISE, que promete dar que falar.

Em entrevista à FPB, Sónia Teixeira revela aquilo que para ela pode trazer este projeto: “O PROMISE representa, a meu ver, um primeiro passo daquilo que pode ser um trabalho consolidado para o aumento da qualidade e da quantidade de árbitras e treinadoras, possibilitando que possam atingir patamares mais altos no basquetebol, de uma forma mais regular e sustentada”, afirma.

Aos 46 anos e com uma carreira já recheada, Sónia Teixeira vinca que é altura de mais árbitras aparecerem: “Agradeço muito o convite que me foi endereçado e tenho um prazer enorme em colaborar neste projeto. Penso, sinceramente, que pode representar um ponto de viragem, caso sejam proporcionadas todas as condições para um trabalho de mentoria de qualidade, e nesse sentido é muito gratificante poder contribuir para a evolução de jovens árbitras e poder colocar a experiência que adquiri ao longo de 27 anos de carreira ao serviço deste objetivo. Para melhor se compreender a importância deste tipo de iniciativas, deixo um dado relevante: após 13 anos de interregno sem nenhuma mulher a arbitrar a Liga Masculina em Portugal (recordo aqui a falecida Ana Paula Freire, primeira mulher a fazê-lo), alcancei esse patamar, onde me encontro há 17 anos. Durante este período de 17 anos, apenas por duas épocas tivemos outra mulher nesta competição. Penso que está na altura de aparecerem mais árbitras com qualidade para chegar a esta competição, que é a mais difícil de alcançar”, salienta.

De seguida, a juíza antecipa qual será o seu papel: “No âmbito da mentoria, procurarei orientar e aconselhar o melhor que puder as jovens árbitras ao longo dos próximos seis meses, criando uma ligação próxima com cada uma delas, ajudando-as a desenvolver algumas ferramentas de trabalho que lhes possam ser úteis nesta fase das suas carreiras e que lhes possam conferir autonomia para o futuro, ao nível de competências técnicas, comportamentais e comunicacionais. Darei igualmente suporte a toda a preparação mental que me parece necessário que desenvolvam e que se revelou fundamental para mim ao longo da minha carreira, de modo a que possam tornar-se mais resilientes, mais bem preparadas para ultrapassar os obstáculos que irão enfrentar e para que não desistam perante contrariedades, procurando sempre trabalhar para serem cada vez melhores. Por último, o aspeto da conciliação da arbitragem com os estudos ou com a atividade profissional será também uma preocupação a ter em conta”, pormenoriza.

Chegada a um patamar muito alto da modalidade, Sónia Teixeira reconhece que o caminho não foi nada fácil: “Não foi complicado, foi muito complicado. Primeiro, é extremamente difícil a progressão na carreira e o alcançar das principais competições, em particular as masculinas, que normalmente são aquelas em que existem mais restrições no acesso. Depois é ainda mais difícil a manutenção nesse patamar. Muitas resistências, muitas desconfianças relativamente à capacidade, escassez de oportunidades pelo simples facto de ser mulher, maior resistência à nomeação para arbitrar jogos masculinos. É importante não se desistir às primeiras contrariedades, acreditar e continuar a trabalhar, pois mais cedo ou mais tarde a oportunidade acaba por surgir e felizmente há pessoas que veem a igualdade como algo natural e que apoiam nesse sentido, e é nestas pessoas que é importante focar a energia e a atenção. Prova disso mesmo é que esta época, ao final de 11 anos como árbitra internacional, fui indicada pela primeira vez para uma competição internacional masculina. Depois, com a habituação, tudo acaba por se tornar natural, pois os(as) jogadores(as), os(as) treinadores(as), os diversos agentes da modalidade, em última análise estão preocupados(as) em ter um trabalho competente por parte da equipa de arbitragem, isso é o mais importante, e independentemente do género. A meu ver seria tempo de já não ser necessário este tipo de discussão, mas infelizmente ainda estamos bastante longe disso acontecer: a evolução acontece, mas revela-se mais lenta do que seria desejável. Estou em crer que projetos como este podem ajudar bastante a esta evolução”, deixa a nota.


O projeto PROMISE veio para ficar. Um Projeto Erasmus+, no qual a FPB se encontra inserida, juntamente com outras seis organizações europeias: Federação Catalã de BasquetebolBasquetebol Nouvelle-AquitaineFederação de Basquetebol do KosovoFederação de Basquetebol da IrlandaFederação Búlgara de Basquetebol e Universidade Ramon Llull (Barcelona).

O projeto, que se iniciou em Janeiro de 2023 e previsão de término em Junho de 2025, é liderado pela Federação Catalã de Basquetebol, e graças ao empenho e trabalho de todas as organizações envolventes, visa enfrentar a situação de desigualdade e discriminação de género. O PROMISE tem como objetivo promover uma maior inclusão e participação de atletas do género feminino no basquetebol em todos os níveis de responsabilidade através da conceção, implementação e avaliação de um programa de intervenção holístico.

Na vertente direcionada para as treinadoras foram encontradas duas conceituadas mentoras: Isabel Ribeiro dos Santos e Gilda Correia. Já no que toca às árbitras e juízas, a mentora também já representou Portugal nos maiores palcos: Sónia Teixeira.

Em anexo poderão ver mais sobre o objetivo do projeto, bem como todas as suas implicações. PROMISE_Programa de Mentoria

Para qualquer questão adicional relativa ao projeto PROMISE, solicitamos que enviem as questões para departamentotecnico@fpb.pt.

 

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FPB | Juízes
12 JAN 2024

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