“Que ninguém deixe de sonhar ou lutar por aquilo que quer”

Sofia Ramalho Gomes aborda projeto TimeOut e conferência "Mulher no Desporto"

FPB
31 MAR 2021

O projeto Time Out 2.0 é uma iniciativa da FIBA Europa que pretende ajudar ex-jogadores ou atletas em final de carreira a integrarem-se melhor no mercado de trabalho. Neste âmbito, a ex-internacional lusa, Sofia Ramalho Gomes, organizou a conferência “Mulher no Desporto” que terá lugar no próximo sábado, 3 de abril.

Em declarações à FPB, a jogadora do SL Benfica reconheceu que o programa TimeOut 2.0 tem sido desafiante, mas que a experiência tem sido uma mais-valia: “A experiência tem sido muito enriquecedora. O curso está muito bem conseguido, ajuda os ex-atletas ou aqueles em final de carreira na transição que é sempre difícil. Enquanto atletas não pensamos nisso, mas de facto o curso está muito bem conseguido. Divide-se em três áreas, uma das áreas é liderada pela Northumbria University, em Newcastle, e está ligada ao autoconhecimento, liderança e “coaching”. Para mim foi surpreendente, mesmo que seja uma aprendizagem através de e-learning, consegue passar-nos tanta informação sobre nós próprios. Depois temos a parte da “TASS” (Talenter Athlete Scholarship Scheme), focada nas carreiras duais, um dos pontos que mais valorizo e que nunca me passou pela cabeça. Eu tomei a decisão de deixar os estudos no último ano de faculdade para poder perseguir o meu sonho e ir jogar para fora. Depois há ainda a área mais ligada à FIBA que se relaciona  com a organização e gestão de eventos. Algo que nos dá mais informação relativamente ao universo do basquetebol, às opções que podemos ou não tomar. Aguça-nos a curiosidade em relação a estes temas. Muitas vezes os atletas não dão valor ao trabalho que é feito por trás, sobretudo a FIBA e principalmente o que a nossa Federação tem feito tem sido incrível. Agora que estou mais deste lado e por dentro da realidade, reconheço que as coisas nem sempre são fáceis, há que reconhecer o valor”, contou.

O projeto TimeOut 2.0 ajusta-se à realidade do fim de carreira de basquetebolista e é o veículo necessário para a ligação à modalidade se perpetuar, ideia que a antiga internacional portuguesa e formanda do programa partilha: “Os atletas são muito ajudados a continuar ligados à modalidade, porque também nos faz pensar e querer mudar algumas coisas no basquetebol. Com todo o conhecimento e informação que nos são dados, há sempre melhorias a fazer. Estas opções tornam tudo mais fácil. Acabamos a carreira desportiva e temos de pensar noutros ofícios, algo que nos afasta da nossa vida feita até aí. Com este programa acabamos por ter mais opções que nos mantêm ligados ao desporto, mas sem sermos atletas. Há uma vasta lista de opções que podemos tomar. É algo muito importante. Esta iniciativa da FIBA deveria ser ainda mais apoiada pelas federações. Não é necessário ser apenas um atleta de excelência, até porque há muitos que não o são e podem aportar muito à modalidade. Sem dúvida que é uma mais-valia para a modalidade”, conta.

No que toca às valências adquiridas ao longo do programa, Sofia Ramalho Gomes não esconde que a mesma tem sido desafiante, mas reconhece que é uma oportunidade cativante para alguém que sempre esteve profundamente ligado à modalidade: “O projeto está a ser muito intenso. Estou a adorar, mas é intenso no bom sentido. O autoconhecimento que nos fornecem é incrível. Estou a conhecer-me muito melhor, sempre fui muito intensa como atleta e no meu quotidiano, mas agora consigo controlar-me mais mediante as situações… foi um dos pontos que me marcou desde o início. Fiquei pasmada com o inquérito que nos é feito, conseguir revelar tanto de nós. Além disto, a gestão do tempo, organização, cumprir datas e prazos… não é fácil. Sou mãe de duas crianças, voltei à competição este ano e depois com os treinos e viagens é difícil, mas não é algo que me seja alheio. Como atletas temos isso presente, mas é preciso um autocontrolo maior. As experiências que vamos tendo e que nos são passadas por outras pessoas que também integram a formação são muito valiosas. Debatemos muito entre todos e há sempre algo a fazer, aqui ou lá fora. A partilha de experiências tem sido ótima. O mais importante de tudo são as portas que nos abrem e todo o conhecimento que nos passam. Sinto que posso ter mais do que uma opção, continuando ligada à modalidade que tanto gosto e que tem sido a minha vida até hoje”, esclarece.

Sobre a conferência deste sábado, Sofia Ramalho Gomes acredita que o mais importante é dar a conhecer os exemplos das dez oradoras presentes na “Mulher no Desporto”: “A conferência enquadra-se no meu projeto de curso (TimeOut 2.0). No início, quando nos abordaram com esta proposta, vieram-me imensas ideias a cabeça, mas passado pouco tempo percebi que este tema é essencial para a FIBA e nesse momento decidi que seria sobre a Mulher ia falar. A ideia passa por dar a conhecer as nossas mulheres de sucesso. A conferência é na sua grande maioria ligada ao basquetebol, mas vamos ter convidadas de outras modalidades. É a “Mulher no Desporto” precisamente porque o objetivo é dar a conhecer as referências para que estas sirvam de motivação a outras mulheres e atletas. As oradoras vão contar as suas histórias, vão contar a transição da carreira desportiva para as profissões que ocupam agora. Vamos falar das dificuldades que surgem por sermos mulheres, mas também explicar que esses obstáculos podem ser ultrapassados. Num dos “webinars” da FIBA ouvi esta frase que me marcou muito, “If a girl can see it, she can be it”. Quero que esta seja a mensagem passada, que olhem para as oradoras e vejam nelas os exemplos de sucesso. Que ninguém deixe de sonhar ou lutar por aquilo que quer. Se for possível mudar a mentalidade de uma ou duas pessoas já valeu a pena”, finalizou.

A conferência “Mulher no Desporto” é gratuita, creditada pelo IPDJ e aberta a todos os interessados. Inscrições, aqui!

FPB
31 MAR 2021

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