REFLEXO DOS TEMPOS MODERNOS

As solicitações por parte dos clubes não são muitas, mesmo assim a participação dos pais na formação desportiva dos filhos é cada vez menor… As bancadas enchem-se de colegas, mas pais nem vê-los…

Associações
9 NOV 2005

Há poucos dias, num comunicado que passou pela ABIT, podia lêr-se: “Exmo.Encarregado de educação. Eu, Rita Barcelos, seleccionadora de ilha do escalão de iniciados femininos de basquetebol, venho por este meio informar que a sua filha foi seleccionada para o 1º estágio da selecção…”. Maisabaixo, a informação de todo o programa da actividade, que as atletas teriam acesso a salas de estudo durante o fim-de-semana de preparação e o número de telefone da referida seleccionadora. Um acto simples, de mera informação, feito com o propósito de criar um elo de ligação entre a actividade desportiva dos filhos e os próprios pais. Um esforço feito não só pela Associação de Basquetebol da Ilha Terceira, mas também pelos próprios clubes que, no entanto, parece ter pouco efeito… A razão para esta conclusão? Nas bancadas dos pavilhões, durante os jogos dosescalões de formação, os pais não aparecem; são poucos os que se preocupam com a evolução desportiva dos filhos e muitos nem estão disponíveis para transportar as crianças de casa para o treino… Um exemplo? Na Escola de São Carlos os pais inviabilizaram a criação de uma “escolinha de basquetebol” porque, pura e simplesmente, não estavaminteressados em ir buscar os filhos depois do treino. Como a escola não tem possibilidades de oferecer transporte, não há basket para ninguém…Resta saber como é que os alunos vão para casa depois das aulas…CLUBES LAMENTAMInfelizes com a situação estão os clubes. Quer na Praia, quer em Angra, os responsáveis confirmam a falta de interesse e lamentam a situação.José Oliveira, treinador e dirigente dos Vitorinos, refere que “apesar de haverexcepções, são muito poucas. Existem pais que vão acompanhando os miúdos e tentam apoiá-los porque sentem o seu entusiasmo, nem que sejaquando os vão buscar aos treinos. Mas a regra é a ausência… Porquê? Não tenho nenhuma explicação concreta, o que posso adiantar é que, sendo os Vitorinos um clube escolar, sentimos na pele o prolongamento da relação dos pais com a escola. Nós somos professores e assistimos a reuniões de pais com dois ou três encarregados de educação, portanto este não é só um problema do basquetebol”. Para o treinador não é determinante que haja umacompanhamento muito intenso, “mas é óbvio que a sua presença nas bancadas podia funcionar como mais um factor de motivação nos atletas.Não pedimos a participação de todos os pais, em todos os momentos, mas gostávamos que eles prestassem a mesma atenção à formação desportivaque tomam a outras vertentes da formação dos filhos… Não pedimos quantidade, mas pedimos qualidade na participação… Por vezes o simplesinteresse já pode funcionar como algo de benéfico para os atletas”. Uma opinião compartilhada por Ângelo Faria, do Boa Viagem. O dirigente confirmao desinteresse da maioria dos pais e apresenta dados concretos que o deixam triste. “Nós temos cerca de oitenta atletas e não estou muito longe se disser que apenas dez ou doze pais acompanham regularmente a actividadedesportiva dos seus filhos. Não compreendo como é possível que algumas atletas passem pelo clube durante sete ou oito anos sem que os pais venham ao pavilhão uma única vez”. O dirigente refere que este é um cenário que não se verifica no continente e vai mais longe na análise darealidade local… “Espero que o basket não sirva somente como uma forma de manter os filhos ocupados, até porque isso é mau para o próprio conceito de família. Nós agradecemos a confiança dos pais que pensam deste modo, mas aqui trabalhamos a sério… Infelizmente temos a sensação de que muitos pais vêm o clube mais como um depósito onde podem colocar os filhos”. Por isso, estão ambos interessados em reforçar os laços que unem pais, atletas e basquetebol. No entanto dispensam o protagonismo quando este é feito de forma negativa. Segundo o dirigente do Boa Viagem, “o que desejamos é que o basket não sirva como forma de castigar as atletas pelos maus desempenhos noutras áreas, que é algo que acontece”. José Oliveira ‘assina por baixo’… “Em alguns casos o basket é utilizado de modo negativo, servindo mesmo para castigar os miúdos, obrigando-os a faltar aos treinos… Talvez esta seja a altura em que os pais dão mais valor ao basket e compreendem de como a modalidade é importante para os filhos…”.

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9 NOV 2005

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