Seleccionador Mário Palma: «Equipa tem de ser ambiciosa»

Em vésperas de iniciar os trabalhos de preparação tendo em vista o apuramento para o Campeonato da Europa que se realiza, este verão, na Lituânia, entrevistámos o novo Seleccionador Nacional, Mário Palma.

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22 JUN 2011

O responsável pela equipa sénior nacional, revelou no seu discurso uma enorme crença no apuramento, isto porque tem plena confiança nos jogadores convocados, bem como no trabalho que irá ser feito até ao inicio da competição. Valores como pátria, orgulho, união, colectivismo irão passar a fazer parte do vocabulário da Selecção, na certeza, segundo as palavras do novo treinador, que todos os atletas irão se tornar melhores jogadores depois do trabalho realizado.

Já sentia saudades de treinar em Portugal? Estar aqui em Portugal é extremamente agradável para mim. Principalmente pela família. Isto apesar do basquetebol português não ter evoluído no sentido que eu pensava. O final da Liga Profissional de Basquetebol foi um grande revés para a modalidade, especialmente para um treinador profissional como é meu caso.Passaram-se 11 anos desde a última vez que treinou em Portugal. Que diferenças, se é que existem, destacaria no basquetebol e no jogador nacional? Constato que existem jogadores jovens mais altos e com maior potencial, embora com poucas hipóteses de jogar pelo facto de os clubes continuarem a apostar nos atletas estrangeiros. Ao não encararem o basquetebol como uma profissão, isso faz com que esse potencial acabe por não ser aproveitado. Obviamente que a questão financeira e o facto de não terem muitos minutos de jogo contribuem para o abandono da prática da modalidade. E isso naturalmente reflecte-se na Selecção Nacional e na falta de recrutamento de jogadores para integrarem os trabalhos da Selecção. O desaparecimento da Liga Profissional provocou um receio muito grande, e hoje em dia é muito difícil alguém optar por uma vida ligada ao basquetebol. Quais são os aspectos que considera serem imprescindíveis para poder representar a Selecção Nacional? Em primeiro lugar ter orgulho em representar o seu país. Quando se fala de Selecção o dinheiro não é importante. Representar o seu país tem altas responsabilidades a todos os níveis. Logo a equipa tem de ser altamente disciplinada, orgulhosa, ambiciosa, competitiva, e com objectivos claros de atingir a fase final do Campeonato da Europa. O que nos obriga a eliminar uma das equipas com as quais vamos discutir essa fase adicional de apuramento. Vai exigir um esforço colectivo de todos, e sempre com um princípio fundamental bem presente: a equipa está sempre acima de qualquer elemento que a componha.Que pontos fracos, ou menos bons se preferir, apontaria como fundamentais para trabalhar com o grupo de jogadores que seleccionou, tendo em vista a fase de apuramento para o Campeonato da Europa? Da análise dos jogos que temos observado, os jogadores revelam algumas dificuldades sendo que alguns deles são inexperientes pela falta de minutos de jogo e experiência internacional. Há anos, com excepção feita ao Benfica esta época, que os clubes portugueses não participam nas competições europeias. Só a jogar com os mais fortes é que nós podemos evoluir. Vamos ter que nos basear numa defesa muito agressiva e num jogo colectivo onde a movimentação da bola no ataque vai ser decisivo para competir frente a equipas mais altas e experientes.É da opinião que temos uma crise na posição de 1º base? Todos os países têm esse problema. É uma área muito específica onde não é fácil encontrar grandes jogadores para preencher essa posição. Portugal tem alguns bons bases, mas não em número suficiente para que garantam uma passagem de testemunho futuro que não seja problemática. Os que agora vão estar a trabalhar connosco dão-nos toda a confiança, mas na transição a curto prazo, porque vai ter que acontecer e coloca-se o problema de quem irá ocupar esse lugar.De que forma pensa contornar a falta de altura e peso nas áreas próximas do cesto? Nós temos bons jogadores na posição 4, que são capazes de atirar e penetrar, e serão seguramente uma arma ofensiva poderosa da Selecção Nacional. Não temos muitos cincos, mas os que temos transmitem-nos confiança para encarar esta fase de apuramento. O segredo vai estar em mover muito a bola no ataque. Mas tudo passará pela defesa, capacidade de ressalto defensivo, fazer pontos através dos erros do adversário, bem como na exploração dos pontos fracos do adversário. O nosso grande objectivo passa por ter cinco ou seis jogadores nos dois dígitos na marcação de pontos, e ser a equipa a resolver os problemas em termos ofensivos. Porque estou plenamente convencido, apesar do curto tempo de trabalho que vamos ter, que a equipa será muito forte nos aspectos defensivos.Na conferência de imprensa que serviu para ser apresentado, referiu por diversas vezes a palavra união. Acha que esse é o principal factor para o sucesso de qualquer equipa? O basquetebol é um desporto colectivo. Tal como costumo dizer, quem quiser jogar sozinho vai para um desporto individual…ténis de mesa, e de preferência debaixo de água. Podemos dar como exemplo a recente vitória de Dallas na final do campeonato da NBA. Uma equipa com menos estrelas, mas que defendia colectivamente e que no ataque movia muito bem a bola. Isso fez com que vencessem uma final onde não era apontada como a equipa favorita. Todos têm que ter orgulho pela equipa. Não interessa quem faz os pontos no ataque, o importante é que a Selecção Nacional vença os jogos, com o princípio claro que quando ganhamos, ganhamos todos, e quando perdemos a responsabilidade é do treinador, mas com as minhas regras. Quando diz que a Selecção está acima de tudo, é um aviso que pretende deixar para todos aqueles que no futuro vierem a integrar a Selecção Nacional? Volto a repetir que deve ser um enorme orgulho representar a Selecção Nacional. Não é admissível, seja o jogador quem for, que não se sinta honrado por poder representar a bandeira do seu País.Esteve afastado por um período bastante longo. Se lhe pedisse para fazer se autoavaliar, encontraria grandes diferenças na maneira de ser, treinar, relacionar com os jogadores, do Mário Palma que nos lembramos de treinar em Portugal? Estou certo que sou um treinador com muita mais experiência, até pela experiência internacional que adquiri ao participar nas principais competições internacionais a nível mundial, e com uma maior capacidade de análise, liderança, comunicação, motivação dos jogadores, do que aquela que tinha quando deixei o país.Que mensagem gostaria de deixar para todos aqueles que de uma forma directa, ou indirecta, estão ligados à Selecção Nacional? Agradecer à Federação Portuguesa de Basquetebol o excelente trabalho que está a fazer no apoio à preparação da Selecção Nacional. Foram-nos garantidas as melhores condições de trabalho, e portanto, nós agora, jogadores e treinadores, temos que corresponder a tudo aquilo que a Federação fez por nós. Queremos desenvolver um trabalho sério e honesto, em que todo o Portugal basquetebolístico se sinta representado.

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22 JUN 2011

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