UMA ESCOLA DE VIRTUDES

De tão repetidas, há frases que se tornam hábitos de linguagem, nem sempre estando presente o seu significado profundo. Dizer que o desporto é uma escola de virtudes continua a ser um princípio generalizadamente aceite, mas que precisa de ser evidenciado no dia a dia da prática desportiva para que corresponda a uma atitude efetiva de respeito pelos outros e por princípios éticos, e a uma real contribuição para a formação de caráter dos jovens.

A essência da Festa do Basquetebol Juvenil é a competição. As equipas representativas das Associações de Basquetebol de todo o país competem entre si pelos melhores resultados desportivos, mostrando os seus talentos e o trabalho de formação desenvolvido, mas a luta pela vitória a que ali se assiste não é uma guerra contra um inimigo. É uma competição com um parceiro que joga com as mesmas regras e que, pela qualidade do seu jogo e pela oposição que apresenta, ajuda o seu competidor a melhorar. Ao longo dos dias de competição são múltiplos os exemplos em que o calor das disputas entre as equipas de jovens se mantém lado a lado com as atitudes de companheirismo e respeito mútuo. A saudação entre os intervenientes no início e final do jogo é há muitos anos uma prática generalizada no basquetebol, que já se estendeu a outras modalidades. A ajuda a levantar do chão outro jogador, independentemente da equipa, tornou-se também uma prática habitual, particularmente evidente nos escalões jovens.

Há, no entanto, atitudes que, pela sua relevância e pelo contexto em que são assumidas, são particularmente reveladoras de quão interiorizado está nos jovens que praticam basquetebol um comportamento saudável e positivo relativamente à competição, e que por isso merecem o devido realce.

Na final de sub-14 feminina, disputada entre as equipas das Associações de Basquetebol do Porto e de Aveiro, a 3:53 minutos do final o resultado estava em dois pontos de diferença (38-36) e ambas as equipas perseguiam a vitória e o título de campeã. Na disputa de um ressalto entre várias jogadoras junto ao cesto do Porto, a bola saiu pela linha de fundo e o árbitro indicou posse de bola para a equipa do Porto. De imediato e de forma totalmente espontânea, a jogadora do Porto, Sofia Mota dirigiu-se ao árbitro e assinalou que tinha sido a última a tocar a bola, pelo que a posse de bola cabia a Aveiro. O árbitro alterou a decisão e mostrou à Sofia um cartão branco plenamente merecido. Sabe-se que uma posse de bola pode ser o suficiente para decidir um jogo, para mais numa final e com o resultado em aberto a poucos minutos do fim, mas a Sofia valorizou mais a verdade do jogo do que a vantagem que uma posse de bola podia trazer à sua equipa. O Porto acabou por vencer o jogo e a vitória certamente soube ainda melhor à equipa, graças à lisura da atitude da sua jogadora.

A atitude da Sofia Mota, uma jovem que hoje, 17 de Abril, completa 14 anos, é uma lição que só fará bem aos adultos, assim a compreendam e assimilem, e incorporem no seu próprio comportamento. A ética é uma das componentes fundamentais para que o basquetebol se afirme de forma diferenciada e sustentável na sociedade portuguesa. Sigamos os bons exemplos para que o basquetebol seja efetivamente uma escola de virtudes.