Uma mensagem de Ano Novo

Jorge Araújo, figura incontornável do basquetebol português, fez questão de endereçar, através do nosso site, uma saudação a todos os agentes da modalidade neste arranque de 2024. Leia-se abaixo:

“Um Novo Ano, justifica a saudação respetiva. Ainda mais quando ao ultrapassar recentemente a barreira dos 80 anos de idade, senti aumentar significativamente a vontade de continuar a deixar uma herança a todos aqueles que continuam nos dias de hoje a pugnar pela minha modalidade. As questões que vos quero dirigir são, naturalmente, cada vez mais filosóficas.

“Quem fui eu, enquanto treinador?”; “Qual foi o sentido e a responsabilidade que consegui transmitir?”, “Como fui como treinador?”, etc. Um longo caminho com os habituais “altos” e “baixos” sempre ilustrativos de como é difícil ser treinador. Principalmente, porque nos exige uma persistência e uma capacidade de superação acima da média. Também, porque é extremamente complexo e sempre surpreendente o comportamento dos jogadores, dirigentes e árbitros; em particular, quando os juntamos em equipa ao serviço de objetivos comuns.

Razão porque fizeram sempre todo o sentido as muitas preocupações curriculares formativas que fui tendo com temas como sejam a mobilização da motivação de jogadores e dirigentes, ou como “conviver” com as emoções quer na derrota como na vitória, ou ainda como cumprir com eficácia o “coaching” diário do treinador. Mas atenção! Nunca esqueçam a que foi sempre para mim a questão central! A necessidade de “sentir e fazer sentir”, estando sempre disponível para SENTIR quem são e como são os jogadores e dirigentes; tal como FAZER SENTIR, ou seja, que o meu Eu/Treinador tivesse impacto comunicacional continuado nos jogadores, dirigentes e jornalistas com quem trabalhava.

Como muitos outros treinadores, comecei, (muito jovem!) por ser um treinador pouco consistente, “crescendo” na adversidade própria dos obstáculos com que fui deparando. Recordo-me de sentir enormes dificuldades iniciais na tentativa de compatibilização entre a minha vontade de afirmação pessoal e os interesses do Todo e dos Objetivos Comuns a serem atingidos pelas equipas que fui treinando. Gradualmente, fui então adquirindo a sabedoria necessária que me permitiu conclui que ao treinador não “pertence” só alcançar resultados; necessita também “deixar atrás de si” uma herança de melhores jogadores, melhores equipas, melhores clubes, melhores associações e federação da respetiva modalidade, se possível mesmo um melhor desporto português.

Nem sempre o irá conseguir, mas cumpre-lhe essa responsabilidade tal como a de nunca deixar de partilhar conhecimentos e experiências. Assim tentei. Espero tê-lo conseguido.

Um Bom Ano de 2024 para todos!”