Uma semana em Ovar: O domínio vareiro de 2006 a 2008
O tricampeonato visto aos olhos dos protagonistas
Competições
15 ABR 2020
Numa semana dedicada aos feitos marcantes da Ovarense recordamos, com cinco protagonistas, o tricampeonato conquistado entre 2006 e 2008, período dourado na história do clube vareiro.
Agora treinador principal da formação que representou toda a carreira, Nuno Manarte recorda que a qualidade dos plantéis vareiros fez a diferença nas sucessivas caminhadas para o título, tal como a capacidade do staff técnico em orientar as respetivas equipas: “Tínhamos os melhores jogadores, o talento fez a diferença. Lembro-me de três jogadores que tinham um papel muito importante, porque eram líderes. Ian Stanback em 2005/06, Shawn Jackson em 2006/07 e o Miguel Miranda nesta última temporada e em 2007/08. Mas há que dar muito mérito aos treinadores que conseguiram montar coletivos muito fortes – Henrique Vieira, Luís Magalhães e Manuel Povea. Funcionávamos como equipa, havia gente capaz de fazer tudo. Os papéis estavam bem definidos”, relembra.
Já Luís Magalhães, à época timoneiro dos vareiros, lembrou um dos “palcos” mais simbólicos do basquetebol português: “O Pavilhão Raimundo Rodrigues teve muita história, estava sempre repleto de público. Passámos a ter outras condições de trabalho, indiscutivelmente, o que não apaga as excelentes memórias que tenho do Raimundo Rodrigues”, lembra. No entanto, não esquece os jogadores: “A qualidade do trabalho sobrepôs-se a tudo, numa altura em que havia vários candidatos ao título, equipas muito fortes. Tínhamos uma excelente estrutura, com jogadores que alinhavam juntos há muito tempo e com um desiquilibrador que se destacava: Ben Reed”.
E foi precisamente o norte-americano que sublinhou o cariz da massa associativa da Ovarense: “Lembro-me da paixão que Ovar tem pelo basquetebol, a forma como se dedicavam em cada jogo era verdadeiramente especial. São os melhores fãs do mundo, sem dúvida! No que diz respeito ao basquetebol, foi o melhor que joguei em toda a minha carreira. Lembro-me bem do triplo que marquei contra o FC Porto em 2007, sabia o significado que teria para Ovar se conquistássemos o segundo campeonato. Senti que tinha de arriscar, senti que não podia falhar, sobretudo pela energia que se estava a sentir no pavilhão”, recorda Ben Reed.
O camisola #11 da Ovarense não esquece, contudo, que a elevada eficácia nos momentos de decisão surge fruto de muito trabalho e da confiança dos companheiros: “Os lançamentos em cima da buzina vêm da preparação. Trabalhei muito durante a minha carreira para esses lançamentos. Antes e depois de todos os treinos trabalhava especificamente esses lançamentos, para depois não sentir a diferença nos jogos. Claro que tudo isto não podia acontecer sem a confiança que todos os meus colegas e treinadores me davam”, explica.
O ex-internacional Rui Mota foi um dos elementos que contribuiu para o histórico “tri”: “A Ovarense é um clube diferente. Primeiro pela cidade e pelas suas pessoas, que sabem receber, depois pela paixão que têm pelo jogo e pela equipa. Ovar é a cidade do basquetebol. Que prazer é ouvires as pessoas e perceberes que este país não é só futebol, que ali as pessoas percebem do jogo, enchem pavilhões, seguem a equipa para todo o lado e toda a estrutura te dá condições incríveis para trabalhares e ao mesmo tempo se preocupam para saber se está tudo bem no teu dia-a-dia. Tudo isto são pormenores que fazem com que fiques rendido ao clube e às pessoas de Ovar”, vinca.
O último dos treinadores responsável por manter a Ovarense no caminho dos triunfos, Manuel Povea, lembra com saudade os meses que passou em Ovar: “Ter três treinadores diferentes era uma situação muito complicada para os atletas. Para mim foi um desafio, devido à pressão e ao nível da equipa. Nos meses que estive em Ovar era constantemente abordado na rua pelos adeptos, que me pediam sempre o tricampeonato, há uma grande cultura em torno do basquetebol”, confessa. Com a memória fresca do jogo que deu o “tri”, o treinador espanhol recordou o ambiente fervilhante vivido na recém-construída Arena de Ovar: “No último jogo tínhamos a grande vantagem de jogar em casa, que estava repleta e com um ambiente fantástico e realmente a equipa jogou muito bem em todos os aspetos. Fiquei muito feliz pela conquista”, concluiu.